sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 9

        Parte 9

            Uma semana se passou. Os tremores já tinham chegado perto da lagoa, mas não eram tão fortes quanto Alana esperava. O homem deve ter exagerado quando mostrou o resultado. Pensou ela. Mas mesmo assim era alarmante. Incomodava quem passava pela floresta. Quase não dava para andar direito. Enquanto isso, Rosemary exercitava a sua manipulação de água na torneira. Ela dizia que já conseguia fazer uma gota se mexer, porém não tinha muita credibilidade em suas palavras.
            Rosemary decidiu que já estava pronta para fazer isso com um copo com água, e então foi isso que tentou fazer. Não moveu nenhuma gota. Alana anotava tudo em Bot. Não deixava escapar uma coisinha sequer e estava fazendo isso naquele exato momento, sentada no sofá. Impaciente, Lana bateu na mesa, fazendo o copo derramar o líquido:
            - Viu só?! Estou conseguindo. – disse Rosemary quando aconteceu a ação acima.
            - Está nada! Fui eu que derramei. Isso está demorando demais! Precisamos nos apressar e chamar alguém mais experiente.
            - Está pensando em chamar outro unicórnio?
            - Não apenas um unicórnio, mas algum que já trabalhou para Alcateia.
            - Vai chamar alguém da Alcateia? Ficou maluca?! Nós estamos no topo. Se chamarmos alguém, parecerá que não somos boas o suficiente para o trabalho. E ainda por cima um unicórnio?! Somos solitários e bons o suficiente para precisar da ajuda de outros.
            - Mas sempre achei que cavalos andassem em grupo. – disse Alana, se intrometendo na conversa, mas ainda com os olhos para a tela detrás da cabeça de Bot.
            - Não somos cavalos! E por que você ainda está aqui? Seu objetivo aqui já foi concluído. Volte para a sua casa!
            - Se eu pudesse, já teria ido. Aqui não tem sinal para eu chamar ajuda. Então vou aproveitar e ver como o povo daqui se comporta.
            - Nossa, que trabalho legal. – falou Rosemary sarcástica. – Mas voltando ao assunto, não vou usar o meu chifre para chamar um unicórnio.
            - Não. Não vamos usar seu chifre para chamarmos um unicórnio. Usaremos o seu chifre para teletransportá-lo para cá.
            - Unicórnios não têm poder para fazer isso.
            - Eles têm com a ajuda desse cristal.
            Lana tira um cristal violeta da sua bolsa. Ele tinha dois furos com uma fita dentro deles, com a utilidade de prender o cristal no punho, ou nesse caso, no chifre:
            - Comprou isso daquela moça do mercado? – perguntou Alana, ainda digitando.
            - Como você... Ah esquece. Vamos testá-lo. Nunca usei um desses. Vamos lá para fora!
            - Eu já disse que não quero.
            - Precisamos salvar as pessoas, Rosemary.
            - Eu disse que...
            Lana puxou Rosemary pelo chifre. Mesmo sendo mais forte que ela, o chifre era algo que dependendo do jeito, poderia se rachar. Lana só pegava nele quando a situação era de urgência. Então, Rosemary foi lá fora com ela. Alana parou de digitar e foi correndo segui-las, carregando Bot no colo. Não queria perder nada.
            Foram em direção da fronteira da cidade com a floresta. Ficaram obviamente, no lado de pedra, pois uma pequena andada para o lado verde já daria para sentir uma tontura. Lana amarrou o cristal cuidadosamente no chifre de Rosemary e disse:
            - Vai lá e faça o que eu te pedi. A vida de todos daqui depende disso. E não só as humanas.
            O grupo ficou em silêncio. Os únicos sons que davam para ouvir eram os dos tremores da floresta e das rodas de carroça na cidade. Que para falar a verdade, atrapalhavam muito na hora dela concentrar. Mas Rosemary foi persistente. Fechou os olhos. Seu chifre brilhou, o que fez o cristal preso a ele transmitir uma luz da cor roxa na grama. Ao parar com brilho, na frente deles, quase não conseguindo ficar em pé por causa dos tremores, estava um unicórnio todo branco, com uma barbicha de bode perto da boca:
            - O que foi isso? Onde estou? Por que a terra está tremendo?
            - Funcionou!
            - Esse tipo de energia me faz lembrar as máquinas teletransportadoras lá do meu mundo. Será que...
            - Pai?!
            - Rosemary?
            O velho unicórnio saiu da grama da floresta e foi para a parte da cidade, retomando o seu equilíbrio e sua compostura:
            - Eu estava pastando no meu campo até sentir algo me puxar...
            - Eu te teletransportei para cá com essa pedra mágica no meu chifre.
            - É, eu já vi uma dessas há uns seiscentos anos atrás. – disse ele olhando para o cristal. – Por que me trouxeram aqui?
            - Precisamos que Rosemary aprenda o domínio da água.
            - Isso ela aprenderá sozinha, quando for mais velha.
            - Precisamos que ela aprenda logo. Essa cidade depende disso.
            - Unicórnios não ajudam uns aos outros. Temos orgulho próprio.
            - Viu! Eu te falei.
            - Mas antes, éramos unidos. Trabalhando em equipe. Ninguém se achava melhor que ninguém. Sinto saudades desses dias de potro. Quando o bando se separou, só nos juntávamos para cuidar dos filhotes. Depois que eles cresciam, cada um seguia o seu caminho. No meu caso, eu fui trabalhar com os humanos e outros seres na Alcateia.
            - Eu sou da Alcateia, pai.
            - Você é? Então deixe esse orgulho de lado. Se é urgente, eu vou te ensinar. Mas não espere que eu dê mole para você só porque é minha filha.
            - E nem quero que você dê.
            - Então, vamos para outro lugar. Aqui treme muito.
            - Tem um campo com um riacho no outro lado da cidade. – disse Lana. – Mas será uma caminhada mais longa.
            - Tudo bem, estou precisando fazer uns exercícios. Mesmo já tendo dois mil e quinhentos anos, é bom estar em forma. Mas vão devagar. Eu não corro mais como corria antigamente.
            A caminhada até o outro lado da cidade demorou umas duas horas, não contando a parada que o grupo fez para almoçar em um restaurante. Alana ficou impressionada que lá havia lugares para unicórnios, gnomos e outros seres grandes e pequenos quando comparados ao tamanho humano. Ela até viu um casal de gnomos sentado à mesa. Conseguiu que Bot tirasse uma foto deles escondido. Não ficou tão boa, mas ainda dava para ver. Ele tirou mais fotos de Rosemary e seu pai quando chegaram ao riacho. Essas sim ficaram perfeitas. O ambiente era tranquilo. Tinha poucas árvores, sendo mais dominado pela grama. O pequeno rio era bem limpo e tão transparente que dava para ver os peixes nadando.
            Demorou quatro dias para ela se especializar na dominação de água, o que para um unicórnio que só aprende com pelo menos mil anos, foi muito rápido. Mas os tremores já haviam chegado em Ouro Branco. E só restavam três dias para resolver o problema. O velho unicórnio então se despediu do grupo, no lugar de treinamento:
            - Sabe, eu estou orgulhoso de você Rosemary. Tenho certeza que irão conseguir. Se eu pudesse, até iria com vocês. Mas não sou mais jovem como era antes. Não corro mais tão bem e minha magia já não mais tão forte quanto era antes. Me mande de volta para casa, querida.
            - Pode deixar.
            - Longa vida a Alcateia!
            Como Rosemary não conseguia usar o cristal para teletransportar o seu pai, ele teve que ir trotando para além do riacho. O grupo ficou lá até ele desaparecer de vista. Com tudo preparado, estavam prontos para ir em direção ao antigo vulcão.


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