sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Vazio

O conto que escrevi foi baseado nas imagens que vi no livro abaixo:

Imagem tirada do site da Amazon Brasil

              Não se sabe se ele nasceu assim ou se tornou assim com o tempo, mas Heitor era um homem vazio. Literalmente vazio.
            Quando se olhava no espelho, seu reflexo era de uma forma humana sem feições, sem cor. Heitor foi ao médico para ver o que tinha de errado. Mas não foi possível descobrir, pois seus órgãos não eram visíveis, se é que ele tivesse algum.
            Além disso, havia momentos em que Heitor podia ultrapassar objetos pelo seu corpo. Isso era algo bastante útil, pois não precisava usar sacolas plásticas na hora das compras. Podia usar a si mesmo como cesta e carregar dentro de si tudo que queria levar.
            Um de seus hobbies favoritos era observar pássaros. Gostava tanto deles, que uma vez, tentou juntá-los dentro de si para leva-los para casa. Mas as aves não pareciam felizes dentro do pequeno espaço que era o seu corpo e ele acabou as libertando.
            Ele caminhou no meio da multidão. Sem rumo. Mas sentiu pela primeira vez algo dentro de si bater forte. Era vermelho e ficava no meio de onde aparentava ser seu peito. Se sentia sozinho.
Por não ter olhado para o rosto das pessoas ao seu redor, Heitor nem percebeu a vinda de uma mulher, também sem feições, com apenas um órgão vermelho batendo forte aonde era para estar seu peito. Ela também não o vê. Estavam na frente um do outro, indo em direções opostas. Eles se chocaram. E esse choque fez com que passassem um pelo outro como fantasmas. Seus corações se uniram por um breve momento. Heitor continua a andar, como se nada tivesse acontecido. Mas Clarice para, e o olha.


sábado, 24 de novembro de 2018

AnaCrônicas - resenha




           AnaCrônicas foi escrito por Ana Cristina Rodrigues pela editora Aquário Editorial. Pelo nome, dá para ver que é uma brincadeira com Ana (nome da autora) + crônicas, que forma a palavra anacrônicas, que quer dizer antiga, obsoleta. Apesar desse significado, não sei se esse título combina com o tema deste livro, que é composto de crônicas e contos envolvendo o mundo fantástico. Por serem várias histórias ao invés de uma só, analisarei um pouco de cada uma. Preparem-se para a lista.
            O mapa para a Terra das Fadas – O coelho de Miguel havia acabado de morrer. Ana, sua mãe, tenta consolá-lo, pois para o menino, ele era um coelho especial que podia ir para a Terra das Fadas. Na apresentação do livro, é dito que essa e outras duas histórias são consideradas crônicas que misturam o real e o fantástico. O formato de uma crônica é muito difícil de se definir, mas sei que ela tem base algo que acontece no cotidiano. Acredito que algo semelhante a essa história aconteceu com a autora. Achei simples. Nada de espetacular ou de horroroso. Sem querer ser chata, mas coelho não é roedor como é descrito na crônica.
            Campeonato de beijar sapos – A amiga de Ana, Dani, é doida para arrumar um namorado e vive chamando a amiga nessas buscas. Só que Ana já se casou e tem outras responsabilidades agora, achando essa necessidade da amiga um tanto chata e dando desculpas para não ir a esses encontros. Depois de tantos telefonemas, ela decidiu acompanhar Dani em um restaurante. Então uma mulher misteriosa senta com elas e pergunta se elas procuram alguma diversão. Essa é a segunda história que a apresentação descreve como crônica e até certa parte era, até você ser surpreendida com um final fantasioso. Bem legal.
            Deus embaralha, o destino corta – Deus joga baralho? Será que é um bom jogador? Um conto bem curto, se é que devo considerar isso um conto. Me pareceu mais um modo criativo de reclamar da vida.
            Queda e paz – Um anjo se apaixona pela rainha das serpentes, deixando de ser anjo para ir ter amores com ela. O que você acha que vai acontecer? Bem, ela é a rainha das serpentes, o que você acha que ela vai fazer? Vi algo simbólico da religião católica, mesmo tendo a mistura com uma religião primitiva.
            A casa do Escudo Azul – Uma mulher trabalha procurando objetos raros que a Guerra Final não conseguiu destruir. Distopia futurística com um final irônico. Legalzinha, mas não acho que se encaixe com o tema do livro.
             A morte do Temerário – Para o neto do duque Carlos da Borgonha não acreditar nos boatos que os inimigos falam da morte de seu avô, o antigo soldado Olivier de La Marche inventa uma história sobre a busca do duque pela pena de um pássaro que renasce das chamas e provar que merece o trono. Admito que esperava que no final, essa história que La Marche conta acabasse se comprovando verdadeira. Mas não foi assim.
            Lenda do deserto – Uma lenda contada por um homem de uma caravana sobre a origem da árvore no topo de uma montanha no deserto. Essa história envolve djins, que são conhecidos no ocidente como gênios. Cada um é associado a um elemento da natureza e a lenda envolve o amor proibido entre djins de elementos diferentes. O modo como é contado lembra muito aquelas lendas de folclore brasileiro, como a vitória-régia e a mandioca, que apesar de serem curtas, entretêm.
            Mudanças –  A pedido do Guardião da Floresta, um ser mágico que é o narrador da história, se encontrará com uma humana, o que é proibido. Essa história é muito curta e deixou um gostinho de querer saber mais por causa de seu final aberto. Pena que não li este conto antes, pois estava fazendo um curso que tratava justamente desse ser.
            A princesa de Toda a Dor – Uma princesa indígena nasceu com um destino triste em suas mãos, na total ignorância de seu nome até o momento chegar. Um conto que mostra a briga entre índios e europeus com algo mágico no final.
            A vila na areia – Um grupo de piratas conhecido como Sereia do Inferno, sai em busca de uma ilha de pescadores, onde as velhas guardavam baús debaixo de suas camas. Toda essa história foi contada pelo capitão do navio, o único sobrevivente. Ao contrário do conto A morte do Temerário, esta história deixa um final mais ambíguo se o que é contado realmente aconteceu. Curto, mas interessante.
            Como nos tornamos fogo – Um homem, que parecia ser um mago, invocou um ser de fogo, pelo qual se apaixonou e fez de tudo para que a tornasse tocável. O título entrega o final.
            Viagem à Terra das Ilusões Perdidas – Uma mulher que puxa assunto com alguém sobre o porquê de ter vindo a Terra das Ilusões Perdidas. Esse texto é composto apenas de diálogo e a situação é meio surreal, lembrando um pouco Alice no País das Maravilhas.
            Maria e a fada – Olivier de La Marche está de volta. Oito anos antes do primeiro conto que ele aparece, a duquesa Maria, filha do duque Carlos da Borgonha, pede para Olivier recontar a história da fada Melusina. Ao contrário do conto A morte do Temerário, neste aqui já está comprovado que a fada realmente existe nesse mundo e é parente distante da duquesa. A história da fada me lembrou bastante a Eros e Psique pelo fato de haver condições para o casamento ocorrer e uma das partes acabar descumprindo. Achei interessante que apesar de serem complementares, este e A morte do Temerário podem ser lidos separadamente. Lembra o que fiz alguns contos do meu livro A pena mágica e outros contos, assim como o livro Mboi Tu’i e outros contos de Renan Cardozo.
            O ladrão-de-sonhos – Um rapaz acorda sem memórias de quem e anda pelo nada até encontrar um coelho branco falante, que mostra o caminho para o Clube da Irrealidade, onde encontrará alguém que possa ajudar em seu problema. Além da aparição do suposto coelho branco da Alice, há também a aparição de um personagem da Bíblia. Meio louco, não é? Um conto interessante que acaba de um jeito que dava para ter continuação. Um detalhe: na página 98 há dois erros gramaticais que achei gritantes. De resto, é um bom conto e esperava que fosse maior, apesar de ser um dos grandes.
            Sono de beleza – Sônia anda tendo sonhos estranhos. Quando uma amiga dá a ela uma medicação, eles param. Mas quando decide ficar um dia sem tomar os remédios... Mais um conto que está relacionado a outro. O título já dá uma dica de qual seja. Final engraçadinho.
            O eremita – Percebendo que a natureza se vingaria se a maltratasse, um homem considerado louco decide não fazê-lo . O resto de mundo segue cortando árvores, matando animais por matar e etc, até o planeta dar o troco. Em dúvida do porquê disso estar acontecendo, um grupo de lenhadores decide procurar o eremita. Conto de proteção á natureza. Não que eu não concorde com o a mensagem, mas estou meio enjoada desse tipo de história.
            Carta a Monsenhor – Uma carta a um abade vinda de Matheus Lavarius, que trabalhava para um duque anotando a quantidade de pessoas para depois serem cobradas as taxas. Era um período de peste e ele foi em uma vila que ainda não tinha sido afetada. Ficou hospedado em uma igreja até que durante a noite, ouviu um som tranquilo. Ele e o padre foram investigar. Esse conto me lembrou um pouco as histórias de terror de H.P. Lovecraft.
            O longo caminho de volta – Clio volta para Biblos, sua cidade natal que guarda livros de todo o mundo, após ser exilada por dez anos por sugerir que todo o conhecimento fosse compartilhado pelo povo, ao invés de ser mantido em segredo. Ao invés de voltar para pedir desculpas, Clio quer que o seu caso volte para discussão no tribunal. Conto interessante, mas acho que a mãe da protagonista podia ter mais desenvolvimento. Sei que é um conto e que não dá para ter tanto desenvolvimento quanto um romance, porém uma frase já teria resolvido. Com o que foi transmitido, ela não passou de uma vilã unidimensional. Talvez porque eu não esteja acostumada a ver uma mãe com ódio da própria filha, seja na ficção ou na vida real.
            Vida na estante – Um ser que vive de comer livros. Não posso dizer muita coisa, pois esta história só tem uma página. Um conto ok.
            A menina do Val de Grifos – O Val de Grifos é conhecido por sua criação de grifos. Por conta de alguma doença ocorrida nas fêmeas, os ovos de grifos machos não surgiam saudáveis. Devido a um contratempo, o encarregado dos ovos deu para a filha do duque do lugar, Brites, para jogá-los fora. Mas a garota decide provar o seu valor criando um dos ovos para mostrar ao seu pai que merecia ser a herdeira do trono e não o seu irmão. Uma boa história. Queria que fosse maior. Eu só não conjugaria os verbos no pronome tu, mesmo que a história se passe num imaginário medieval.
            Os olhos de Joana – Um reconto de Joana d’Arc antes de ser queimada. Ela prevê o futuro de um homem que é pai de um dos personagens que aparece em um conto anterior. Fiquei surpresa em descobrir que esse personagem e seus descendentes realmente existiram. Claro que esses contos que estão aqui são imaginários, mas parte disso realmente aconteceu.
            O ensurdecedor silêncio dos deuses – Uma profetisa é designada para conversar com os deuses e prever que será o herdeiro do povo do Céu. Mas os deuses não respondem. Então, ela terá que pagar o preço. Uma alegoria da escravidão. Um conto ok.
            “É tarde” – Uma versão alternativa de Alice no País das Maravilhas sob o ponto de vista do Coelho Branco. É a terceira vez que aparece um coelho nesse livro e a segunda que se trata do coelho branco de Alice. A autora deve ser tão apaixonada por esse personagem quanto eu sou pelo lobo mal da Chapeuzinho. Curto, mas eficiente.
            A dama de Shalott – Por seu nascimento ter causado a morte da mãe, o pai de Liliane a mantém no castelo de Shalott para protegê-la. Mas quando completa quinze anos, o pai vê que está na hora de casar a filha. E quando a jovem se prepara para fiar sua roupa para ir a Camelot, ela ouve um sussurro, dizendo que uma maldição cairá sobre ela se olhar diretamente para Camelot. A autora baseou este conto em uma balada vitoriana escrita por Albert Tennyson. Pelo resumo do poema, vi que alterou um pouco a história (o que faz sentido, pois se não o fizesse, este conto não seria dela). Prefiro esta versão à original.
            Infelizmente, o erro que encontrei na página 98 não foi o único que encontrei neste livro. Os contos O longo caminho de volta, Os olhos de Joana e O ensurdecedor silêncio dos deuses também tinham erros de ortografia, no caso do primeiro, há um erro na organização do texto, pois menciona o nome de uma personagem antes dela se apresentar para a protagonista. Já vi um ou dois erros em livros, mas esse teve muitos, e isso incomoda na hora da leitura.
            Apesar dos erros que mencionei acima, tive uma leitura agradável, pois os contos foram bem gostosos de ler. Claro, que não gostei de todos, mas isso é normal devido a variedade de textos apresentados. Comprei este livro junto com O outro lado da cidade, que também se trata de contos envolvendo fantasia e realidade, em um evento que a editora estava vendendo seus exemplares junto com várias outras. Ainda não li esse livro, mas no segundo evento que encontrei esta editora, comprei o quadrinho pequenos Heróis.




Gostei do quadrinho. Ele mostra várias histórias com diversos artistas e recomendo para quem for fã de história em quadrinhos. Mencionei isso por achar interessante que uma editora lance tanto quadrinhos quanto livros sem ter selos que os diferenciem. Será que o quadrinho já está sendo aceito como literatura? Voltando a resenha do livro, aconselho a leitura para quem gostar de literatura fantástica e não tiver tempo ou não gostar de leituras demoradas. A maioria dos contos são rápidos e fáceis de entender, não sendo por isso menos interessantes. 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Jogo dos Sete Erros da Turma da Mônica



                Oi gente. Decidi fazer algo diferente hoje. Sabe aqueles passatempos que algumas revistas têm, principalmente as designadas para o público infantil, como a da Turma da Mônica? Então, decidi fazer um desses para vocês. Peguei as revistas de número 29 e 41 da Mônica:





         E tirei uma página de cada uma. 



        O objetivo é encontrar sete diferenças de cada página. Divirtam-se 😄
    Mas agora falando sério. O que aconteceu Maurício? Faltou roteiro?  Precisando de roteirista?  OLHA EU AQUI..... 😉


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Biblioteca Machado de Assis


            Minha primeira biblioteca foi a da minha escola. A minha segunda foi a Machado de Assis, que fica em Botafogo. Ia para lá com meu pai quando tinha oito anos e fui apresentada a coleção de A Inspetora, um grupo de crianças que resolvia mistérios, da antiga editora Ediouro. Era interessante ter duas protagonistas meninas como Eloísa (a inspetora) e sua prima Malu, mas por ser da década de setenta, não pôde evitar de ter umas passagens que hoje não seriam politicamente corretas, como tratar os outros dois membros do grupo, José Luís como “gordo orelhudo” e a empregada adolescente, Bortolina, ser chamada de “negrinha burra”. Porém, me divertia com a série. Também fui apresentada a O gênio do crime, que também tratava de um grupo de crianças que resolvia mistérios. Essa foi a minha fase de literatura policial. Também pegava outros livros, mas a maioria era da coleção da Inspetora. Infelizmente, toda fase acaba.
            A Biblioteca Machado de Assis parou de funcionar para reformas, então deixei de frequentar bibliotecas. Não havia parado com as leituras. Isso só aconteceu com a chegada do computador, que até hoje é um vício. Mas voltei ler. Depois de anos esquecida, descubro que há palestras sendo feitas em seu prédio. Fui recentemente a uma no dia 18 de outubro que trouxe dois ilustradores, sendo que o livro ilustrado por um deles, Salmo Dansa, faz parte do meu acervo. O Minimaginário de Andersen tem diversas ilustrações que não envolvem apenas desenhos, mas também trabalho de artista plástico. Todas as ilustrações têm algo que combina como por exemplo as do O patinho feio serem feitas com penas de cisne; as da A pequena vendedora de fósforos são de caixinhas e palitos de fósforo e a da A pequena sereia são feitas de rótulos de latas de sardinha, combinados com pedaços brilhantes de CD.






O outro entrevistado, Rui de Oliveira, falava muito bem e seus desenhos eram lindos. Além disso, ele também é autor e tem livros publicados como o didático Pelos jardins de Boboli. Ambos contaram suas experiências como artistas dessa área. Foi muito bom descobrir que a biblioteca voltou trazendo novidade. Devo começar a frequentar suas palestras. Elas são gratuitas e isso ajuda bastante o meu bolso. Quem sabe eu também não volte para pegar um livro...

Página do facebook da Machado de Assis: https://www.facebook.com/Bibliotecapmb1/ 



sábado, 29 de setembro de 2018

Antes das Fronteiras do Universo...



            La Belle Sauvage é o primeiro livro da nova trilogia O Livro das Sombras de Philip Pullman e é considerado uma prequel (algo que aconteceu anteriormente) da trilogia das Fronteiras do Universo.
            Malcolm é um menino de onze anos que ajuda os seus pais na estalagem, que fica próxima a um convento de freiras. Ele tem muito contato com elas, ajudando-as de vez em quando. O garoto também se dedica a cuidar de sua canoa, a Belle Sauvage, a qual usa para navegar pelo rio. Na estalagem da A Truta se recebe vários tipos de hóspedes. Até que lorde Nugent, um ex- chanceler da Inglaterra, visita a estalagem e faz perguntas sobre as freiras ao menino e se por acaso ele as viu cuidando de um bebê.
            Uma curiosidade: Os livros da coleção Fronteiras do Universo mudaram de editora. Antes era a Objetiva e agora é a Suma de Letras da Companhia das Letras. Por isso não tem mais figuras no começo de cada capítulo (o que é uma pena, pois dava um charme ao texto), assim como a volta da palavra daemon, que tinha sido mudada para dimon nas versões mais recentes da Objetiva, que foi comprada por essa editora.
            Como é uma prequel, houve a volta de alguns personagens da trilogia anterior como o Lorde Asriel, a senhora Coulter, Farder Coram e Hannah Relf. Esta última nem me lembrava, pois ela tinha aparecido tão brevemente na Bússola de Ouro e, se não me falha a memória, no final de A Luneta Âmbar. Só soube que era ela devido a uma pequena pesquisa que fiz. Apesar de não ser a protagonista, a doutora Relf teve uns capítulos sob o seu o ponto de vista e sua relação com Malcolm ajudou a dar uma caracterização na personagem, que não tinha antes devido ao pouco que ela apareceu nos volumes anteriores. Por falar em Malcolm, ele também não é um personagem novo. Ele apareceu na novela A Oxford de Lyra, lançada em 2003. Não posso dar muitos detalhes pois ainda não li esse livro, mas pelo resumo, vi que a história se passa depois dos acontecimentos da A Luneta Âmbar. Há outro livro da coleção chamado Once upon a time in the North, que aparentemente não foi traduzido para o nosso idioma. Esses livros fazem parte desse universo, mas não fazem parte de nenhuma das duas trilogias. São histórias extras.
Isso que estou escrevendo nesse parágrafo pode ser irrelevante, mas se a memória não me falha, a senhora Coulter era descrita com o cabelo negro na Bússola de Ouro e aqui ela tem cabelo loiro. Como esse livro é uma prequel, assumi que ela pintou o cabelo depois dos eventos desse romance.
            Não posso me esquecer que também há o retorno de Lyra, como um bebê, nesse romance. Ela não é a protagonista como nos outros livros por razões óbvias, mas toda a história gira em torno dela e como ela chegou na faculdade Jordan em Oxford. No começo, achei essa prequel desnecessária. O pai dela trabalha lá, mas viaja muito em suas pesquisas, não podendo levar a menina consigo e isso já era uma explicação suficiente para mim de ela ter sido criada lá. E porque achei a primeira metade do livro meio chata. Só na segunda metade para o final que começou a ficar mais excitante. Ainda mais com o acréscimo de Alice, uma garota de quinze anos que trabalha na estalagem dos pais de Malcolm, na jornada. Gostei de sua personalidade ranzinza, mas que esconde um bom coração por trás disso. Espero que ela apareça no segundo volume, apesar de ser difícil, pois foi revelado que este se passará vinte anos depois do acontecimento do primeiro.
             Algo que me confundiu um pouco foi o acréscimo de fadas e um gigante na história. Sei que no mundo de Lyra é comum a existência de feiticeiras que vivem mais de cem anos e tem corpinho de trinta, ursos polares que falam e usam armadura e os daemons, que são praticamente a alma de uma pessoa. Pelo que se deu a entender, esses seres que  mencionei no começo eram para serem considerados lendas, até que se provou o contrário durante a jornada. Achei que de alguma maneira, Malcolm havia sido transportado a outro mundo e não que estivesse no seu próprio. Pode até ser que ele tenha sido, pois não houve uma resposta quanto a isso. Outra coisa que achei confuso, foi a sobrevivência impossível de um homem, se é que ele não era realmente um espírito. Também não houve resposta.
            Outra curiosidade: Já foi confirmada uma série de Bússola de Ouro de acordo com esse site https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/bussola-de-ouro-atriz-de-logan-sera-protagonista-da-serie/  em que Dafne Keen interpretará Lyra Belacqua. Agora é só esperar a estreia.
        Como disse anteriormente, o começo do romance não me atraiu muito. Eram poucas as novidades, devido a ter lido a trilogia anterior e plot de espionagem e organização secreta não me atraiu muito. Só no momento da fuga que houve mais ação e aventura e a evolução da relação entre Alice e Malcolm na jornada foi o que me atraiu mais para a obra. Mesmo assim recomendo a leitura para os fãs de Fronteiras do Universo. Se for um leitor novato, comece pela primeira trilogia para depois seguir com essa, pois algo que seria uma revelação na Bússola de Ouro, é um fato comum nesse. Embarque na Belle Sauvage e siga o fluxo.



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Estática


                                               Nossas estações não mudam
                                               Bandidos camuflados
                                               Com conversas abordam.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O Grande Sertão Veredas: em quadrinhos



         Será que estou trapaceando? Afinal, esse não é o livro original, O Grande Sertão: Veredas, lançado em 1956, pelo autor João Guimarães Rosa, mas sim uma graphic novel, com roteiro adaptado do livro feito por Eloar Guazzelli Filho e ilustrado por Rodrigo Rosa. Mas no final das contas, uma história em quadrinhos consegue expor tudo do livro sem mudar sua essência? Antes de entrar nessa discussão, vou analisar a história.
            Riobaldo conta que em sua adolescência, havia se recuperado de uma doença braba. Então, a mãe o fez pagar uma promessa, que era pedir esmola até pagar uma missa. Em uma de suas idas, conhece Diadorim, que o leva para passear de canoa. Quando perdeu a mãe, foi viver em uma das posses de seu padrinho, onde recebeu educação e conheceu gente nova. Então, chega o bando do jagunço Joca Ramiro, negociando um abrigo...
            Primeiramente, tive que procurar o significado de jagunço para entender melhor o que estava sendo narrado, que é uma pessoa que servia de guarda-costas para políticos, e que também poderiam ser assassinos contratados por coronéis e governantes para realizar ameaças ou vinganças.
            Quando falam do livro, o que mais ouço é sobre o “romance homossexual” entre Riobaldo e Diadorim, e como Riobaldo tenta afastar esse sentimento se noivando de uma e tendo caso com outra, pois na época não era aceitável um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Só quando descobre que Diadorim era mulher que ele admite para si mesmo esse sentimento, apesar de sabermos que não foi só pela beleza de Diadorim que o fez se sentir atraído por ela, mas pelo seu caráter e a camaradagem que tinham um com o outro. Porém, esse não é o foco do romance.
O principal tema da história são as batalhas do bando de Joca Ramiro. A primeira contra Zé Bebelo, um homem que queria entrar na política, sendo um de seus objetivos acabar com os jagunços. E a segunda é lidar com a traição de dois chefes e parceiros de Joca Ramiro, Hermógenes e Ricardão. Isso tudo dando conflito ao protagonista, que se vê dividido na primeira briga, pois ele foi professor de Zé Bebelo, mas se vê ao lado dos jagunços, pois Diadorim os convence a não o matar. Enquanto na segunda luta, ele via mais ainda o horror das mortes. Teve momentos em que Riobaldo queria fugir e tentava convencer Diadorim a ir com ele.
Respeito o autor por tentar dar características que distinguissem seus personagens, como o fato de Ricardão ser o homem que pensava nas finanças e ganhos de suas lutas enquanto Hermógenes era um sádico, e por mostrar que a maioria dos jagunços do bando de Joca Ramiro são unidos e leais uns aos outros, não sendo apenas um bando de mercenários.
Não posso comparar essa obra com a original, pois não li o livro, mas posso descrever o que senti ao ler o quadrinho. Antes de mais nada, as ilustrações são muito bem desenhadas, dando um aspecto sério e adulto à obra. A característica mais destacada dos textos do Guimarães Rosa, que é a criação de palavras foi mantida, já que encontrei palavras como opiniães e pertubosa ao longo da narrativa. Na nota dos editores, está escrito que eles tentaram o máximo preservar as características do texto original, porém tiveram que transformar parte da narrativa em diálogo. Por incrível que pareça, achei que precisavam ter feito mais disso.
A história em quadrinhos é conhecida por se comunicar com o público através das imagens e do diálogo entre os personagens, o que a faz mais parecida com uma novela televisiva, série ou filme do que com o romance. Ter narrador em histórias em quadrinhos e graphic novels não é incomum, principalmente se esse for um personagem. Mas ela não domina o quadrinho e não é maior que o número de diálogos. Isso mais a linguagem um pouco mais complicada do original, fez essa graphic novel ser mais pesada e menos fluída, como é na maior parte dos quadrinhos. Outra coisa que devo mencionar é a falta de pausas. Nos quadrinhos, tem sempre uma imagem pôster que é usada como divisória para marcar o fim de uma parte. Não sei se o livro original era dividido em capítulos, mas se não era, deveria ser muito cansativo de ler.
Então, é bom uma adaptação se manter leal ao texto original? Depende. Transferir algo literário para outro tipo de plataforma mantendo a essência do texto original, mas apresentando uma nova visão da história, é algo difícil. Foi uma boa tentativa mesmo assim. O quadrinho é uma boa forma para incentivar alguém a ler um clássico da literatura, pois normalmente o número de páginas é reduzido e as imagens podem atrair. Se a pessoa gostar da história, é bem capaz dela procurar ler a original. No meu caso, achei boa, porém a linguagem regionalista antiga do narrador me faz não querer ver o livro tão cedo. 


             


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

A pena mágica e outros contos à venda online



       Oi gente, anuncio com felicidade que o meu livro A pena mágica e outros contos está à venda na Amazon, Livraria Cultura, Shopping UOL e Buscapé. Link para os sites abaixo.

Amazon:
https://www.amazon.com.br/pena-m%C3%A1gica-outros-contos/dp/8594750315

Livraria Cultura:
 https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/literatura-nacional/a-pena-magica-e-outros-contos-47925972

Shopping UOL:
http://shopping.uol.com.br/a-pena-magica-e-outros-contos-mariana-torres-8594750315.html#rmcl

Buscapé:
https://www.buscape.com.br/a-pena-magica-e-outros-contos-mariana-torres-8594750315

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A Seca de 1915: o Romance




          O Quinze foi o primeiro romance escrito por Rachel de Queiroz, em 1930, baseado na grande seca que houve em 1915. Por que peguei esse livro se ele é justo de um gênero que não gosto, que é o que retrata a realidade? Fiquei pensando quais foram os considerados romances clássicos brasileiros que já li? Helena de Machado de Assis, A Hora da Estrela de Clarice Lispector, Iracema de José de Alencar e Macunaíma (faltavam uns três capítulos para acabar, mas parei porque não achei interessante) de Mário de Andrade. Os dois primeiros foram no ensino médio e os outros dois na graduação de Letras. Senti que li muito pouco da considerada “Literatura Brasileira”, que infelizmente não conheci nenhum livro que fosse do meu gênero favorito, que é o de fantasia (com a exceção de Macunaíma, que tinha uns elementos da mitologia indígena), se é que realmente alguém escreveu. Por isso, se tiver algum autor que escreveu esse gênero, ou até mesmo ficção científica, me avise. Então, estou tentando compensar um pouco.
            A história gira ao redor de três personagens: Conceição, uma professora solteira que foi criada por sua avó Inácia, e a convence de sair de sua terra para morar com ela devido à grande seca. O segundo é Vicente, primo de Conceição, que mora em uma fazenda com os pais e as irmãs e faz de tudo para manter viva a sua pecuária. O último é Chico Bento, antigo empregado de uma fazenda que ficou sem trabalho devido à senhora ordenar a soltura dos animais que estavam gastando muito dinheiro em cuidados por causa do calor do sertão. Então, ele e sua família saem para o norte em busca de um lugar melhor.
        Tive certa dificuldade com o livro em relação a algumas palavras. Devido ao livro ter sido lançado em 1930 e se passar no Nordeste, palavras como reses e rama por exemplo, tive que procurar no dicionário para saber seus significados. Aconselharia colocar um glossário em uma próxima edição.
          No geral, o romance foi bom. Nada de espetacular, mas bem escrito. A parte mais chata do livro foram os elementos românticos entre Vicente e Conceição. Já passei da fase de acreditar que pessoas completamente opostas se atraem. Precisa ter pelo menos mais semelhanças do que diferenças para acreditar que vai dar certo e dei graças a Deus que eles não ficaram juntos. Vicente é um homem que vive para o seu gado, que não quis estudar para ser doutor como os irmãos, é ignorante em relação aos estudos e que devido à sua criação, seria considerado hoje um pouco machista, apesar de na época ser algo normal. Enquanto Conceição é uma professora que mora na cidade e gosta de ler e ganhar conhecimento além de ter pensamentos à frente das pessoas de sua região de origem com relação à independência das mulheres, que infelizmente naquela época, até a própria avó dizia para ela que a neta deveria casar e ter filhos para não ser mal falada. O triste, é que a própria Conceição tinha esse pensamento, apesar de suas tentativas de debater isso com a avó Inácia.
            Quanto ao Chico Bento e sua família, foi o meu foco favorito, pois acredito que eles foram os que mais sofreram durante a seca, representando bem aquele momento. Enquanto Vicente perdia o seu gado e tinha esse clima ruim com a Conceição e a própria ajudava os retirantes mortos de fome na cidade, Chico Bento era um retirante, que teve que ir com sua família a pé a caminho para o norte, no calor desgraçado; passando fome e sede; perdendo dois filhos, um que comeu uma mandioca braba (isso para mim foi uma novidade, pois não sabia que existia uma mandioca venenosa), e o mais velho fugindo com um outro grupo. O seu final foi o menos fechado, me deixando curiosa para saber se eles conseguiram se dar bem após mudarem de rumo.
            Algo de interessante foi de como os personagens são bastante religiosos. Não só era descrito as rezas de terço de dona Inácia, as várias vezes que ela vai à igreja, e da fala dos personagens estar consistida de algo como Se o Deus nosso senhor permitir, mas também as posições de madrinha e padrinho serem levadas a sério. Além dos afilhados terem que pedir a benção a eles, a madrinha e o padrinho podem ser considerados como uma segunda mãe ou pai de seus afilhados. Duquinha, o filho mais novo de Chico Bento, ficou morando com Conceição, que era sua madrinha, por insistência da própria e devido às condições de seus pais não serem das melhores no momento.
            Não convivi com vários desses costumes, mas tiveram duas passagens que me lembraram algo da minha família, onde três dos meus avós eram cearenses. Quando é mencionado que todos os irmãos menos Vicente saíram de sua cidade natal para estudar e conseguiram empregos na cidade, me lembrou muito o meu avô Bené, o único de seus irmãos a sair do Ceará para estudar e conseguir um emprego no Rio. Outra, foi quando a minha avó Helena não podia tomar conta de seus filhos mais velhos devido a um acidente e meu tio ficou com sua tia, que também era sua madrinha, enquanto minha avó melhorava, reafirmando os laços de madrinha e afilhado do livro.
            Como disse anteriormente, é um romance legal e bem escrito, sendo muito simples de ler, sem contar essas poucas palavras regionais antigas. Fecharei essa resenha com um trecho da canção Asa Branca de Luiz Gonzaga, música que dancei há muito tempo atrás em uma de minhas festas juninas que me lembrou bastante esse romance:

                                               Hoje longe, muitas léguas
                                               Numa triste solidão
                                               Espero a chuva cair de novo
                                               Pra mim voltar pro meu sertão


domingo, 12 de agosto de 2018

Frases de Extrema Importância


      Faça o seu dever de casa senão eu corto sua mesada!
       Espere o jogo acabar.
        Leve o lixo lá pra fora.
        Imagina quando crescer?
       Zangado não estou, mas vou ficar se não arrumar esse quarto.

       Depois a gente conversa.
        Igualzinha à sua mãe! Faz besteira que nem ela!
       Anda! Vai demorar muito?!

        Difícil?! Difícil era no meu tempo.
       Onde você vai vestida assim?
       Saía desse computador. É a minha vez de usar.

        Pergunte à sua mãe.
        Amanhã eu vejo isso.
        Igualzinha ao pai! É a minha cara!
       Sabe que tenho muito orgulho de você?

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Aventura pelo rio Mississippi


          As aventuras de Huckleberry Finn é considerado continuação do romance As aventuras de Tom Sawyer, mas pode ser lido separadamente que não afeta muita coisa. Que foi o que eu fiz, pois não li As aventuras de Tom Sawyer, pelo menos não ainda.
O protagonista é o amigo de Tom Sawyer, Huckleberry Finn, que estava vivendo com uma viúva e sua irmã depois que seu pai havia sumido. Mas ele retorna, e é tão abusivo que te faz ter vontade de matá-lo. Como o Huck Finn e Tom Sawyer havia conseguido uma boa grana no outro livro, o pai se interessou por ela e quis pegar para gastar em bebidas. Ele brigou pela guarda do menino com a viúva até sequestrá-lo e levá-lo para uma cabana no meio do mato. Não querendo viver com o seu velho nem com a viúva, Huck Finn planeja sua fuga pelo rio. Nesse percurso, ele encontra Jim, escravo fugido da senhorita Watson, irmã da viúva, e ambos se juntam em uma jornada.
       As primeiras impressões que tive desse livro foram: livro regional, de época americana O romance escrito por Mark Twain tem todo um local fixo no sul dos Estados Unidos, na época em que o sul lutava a favor da escravidão e o norte lutava contra. Esse debate ocorre na narrativa do livro em que Huck Finn está fugindo com o escravo Jim. Huck Finn se sentia culpado em ajudar Jim a ser um escravo livre por achar que estava fazendo mal à senhorita Watson, dona do escravo e irmã da viúva, pois ela junto com a viúva, ajudou a educá-lo. Mas quando teve chance de contar a alguém sobre o escravo fugido, ele não conseguiu, já que o homem confiava muito nele, considerando o seu melhor amigo. Achei esse momento muito humano, pois apesar dos escravos serem considerados objetos, Huck Finn havia se afeiçoado a Jim e parece considerá-lo um amigo. Essa discussão é interessante e reflete muito do autor que apesar de ser do estado de Missouri, localizado no sul dos Estados Unidos, ele se recusou a lutar a favor da escravidão.
     O livro apresentava um grande conhecimento de navegação e geografia. Eu não tinha conhecimento da existência de ilhas no meio de rios e nem do que eram bancos de areia (pedaço de terra arenosa no meio dos rios). Isso enriqueceu o romance, pois toda a viagem de Huckleberry Finn se passou pelo rio Mississipi. Esse conhecimento veio devido ao autor ter sido piloto fluvial. Outra curiosidade: sabia que o nome do autor é na verdade Samuel Langhorne Clemens e o seu pseudônimo, Mark Twain, surgiu de uma expressão usada pelos barqueiros que significa “marca segura para navegar”?
            O narrador é em primeira pessoa, sendo o próprio Huckleberry Finn, e ele parece ter noção de que é um personagem de um livro. Outro ponto interessante da narrativa foi a escolha da tradutora em diferenciar o jeito de falar dos escravos e não-escravos, uma diferença que de fato existia.
            O menino Huckleberry Finn lembra muito o Pinóquio do livro de Carlo Collodi em relação a ser um menino travesso e desobediente, mas de bom coração. Teve momentos descritos no livro que mostram o personagem fumando, me lembrando mais o filme da Disney. Mesmo nessa época, já era considerado errado uma criança fumar. Mas isso acontece devido a sua criação, sendo seu pai uma pessoa abusiva, pois vive bebendo e batendo nele. E como disse antes, ele tem bom coração e certo limite. Mesmo mentindo muito em sua jornada, Huck Finn acha que as pessoas conhecidas como Duque e Rei, que viajam com ele e Jim por um tempo, são farsantes sem vergonhas, que tem coragem de roubar uma herança que não é deles, se passando por pessoas dessa família.
            E é claro, não posso deixar de terminar de falar do livro sem mencionar minhas impressões do personagem Tom Sawyer, nos momentos em que ele apareceu. Apesar de travesso, Tom Sawyer parece gostar de seguir o que está nos livros de piratas e ladrões. Gosta tanto que quer copiar tudo que está neles em seus planos, mesmo que exista uma solução mais fácil para o problema. Isso chegou a me irritar um pouco, já que quando Huck Finn sugere algo mais simples, ele logo o corta, chamando-o de ignorante. Houve seis capítulos de enrolação por causa disso, quando podia ter acabado em dois. Queria que acabasse logo porque estava acostumada com o movimento de fuga de Huck Finn, sendo no máximo três capítulos uma aventura, tendo ainda reviravoltas. Achei essa parte meio parada. Porém, no final dessa parte, fui pega de surpresa, pois esse personagem sabia de uma coisa que eu não suspeitava e acabei rindo um pouco e com vontade de entrar no livro e lhe dar uns cascudos.
            Um livro de aventura juvenil, interessante para quem deseja conhecer mais sobre os costumes do sul dos Estados Unidos dos anos de 1860. Se desejar, embarque na jangada com Huck Finn e Jim e acompanhem suas enrascadas.


sexta-feira, 15 de junho de 2018

Drama com ficção científica?



        Não me abandone jamais é o segundo livro que faço resenha do ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 2017, Kazuo Ishiguro. Resolvi dar uma pequena pausa do gênero fantasia, o meu favorito, para variar um pouco. Notei algo de interessante no formato que a editora Companhia das Letras deu aos livros dele:




As laterais das folhas têm a mesma cor da capa do livro. Achei que isso deu mais charme aos seus livros.
         Kathy H. trabalha há onze anos como cuidadora, que tem como objetivo acompanhar e dar apoio àqueles que vão fazer “doações”. Além de contar sobre o seu trabalho, Kathy também relembra dos momentos em que viveu em Hailsham, uma espécie de internato em que ela e outros alunos viveram desde que eram pequenos, sendo dois deles Ruth e Tommy, ambos colegas de infância e doadores que ela cuidou.
A história começa de um jeito misterioso, sem entender o que são essas doações, se os menores que vivem em Hailsham são órfãos ou coisas desse tipo. O gênero desse romance é uma mistura de slice of life (vida cotidiana), drama e um pouco de ficção científica. Pode também ser considerado uma distopia, mas só para personagens específicos do romance.
O livro é dividido em três partes, conforme a narradora Kathy vai contando a história. A primeira se foca em sua infância e adolescência em Hailsham, que é similar a um internato, só que apenas para as crianças e adolescentes criadas lá. A segunda envolve a ida para um lugar chamado Casario, que é semelhante a uma faculdade apenas no aspecto de ter que entregar um trabalho final. É como se os jovens estivessem dividindo uma casa grande, com apenas um responsável vindo de vez em quando para ver se eles não estão fazendo besteira. A última envolve o trabalho de Kathy como cuidadora.
O título do livro se deve a uma música que Kathy ouvia na infância, mas há mais detalhes interessantes do porquê ser um título bom e que combine com o romance envolvendo a cena de Kathy dançando ouvindo essa música. Não revelarei mais nada sobre isso.
Há outros dois personagens que Kathy destaca em sua narrativa: Ruth, sua melhor amiga e Tommy, seu amigo e, por um tempo, namorado de Ruth. Pela descrição, pode-se adivinhar que há um triangulo amoroso no livro. E de certa forma, há. Só que em nenhum momento, a narradora fala que amava Tommy desse modo, pelo menos não até chegar a parte final. Mas só porque ela não dizia nas outras partes, não significa que ela não sentia. Tinha muitas passagens no romance que ela ficava zangada com Ruth pelo jeito de como ela tratava Tommy, enquanto estavam namorando e senti uma boa química entre a narradora e o rapaz em suas descrições. Eles não brigavam muito, o que é um alívio, já que em filmes, séries e até mesmo na literatura juvenil, os interesses amorosos vivem brigando até finalmente se tornarem um casal. O que não ocorreu aqui. Aproveitando o momento, vou descrever a personalidade de Tommy. Tommy desde pequeno era uma pessoa legal, mas quando faziam algo que o irritava, dava um chilique, o que fez com que os meninos implicassem com ele por um bom tempo. Conforme foi crescendo, foi amadurecendo, não tendo mais esses chiliques. Porém, mesmo na sua adolescência, demonstrava ser pensativo com relação ao que os esperava depois de Hailsham, o que era um segredo guardado pelos seus guardiões. Gostei do personagem.
Enquanto Ruth, suas ações fazem transparecer que ela era aquele tipo de amiga que você não gostaria de ter, incentivando mentiras só para aparecer, ignorando seus amigos quando conversa com os mais populares, se achando a dona da verdade e provocando brigas entre o trio. Kathy muitas vezes dava desculpas para algumas das ações de sua “amiga” e eu pensava Caramba, para de defender essa falsa! Mas no final, acabei sentindo pena dela, assim como de todos os que passaram pelas doações, o que deu a personagem uma redenção. Mas antes de chegar a esse momento, me perguntei se ela realmente gostava de Kathy como amiga ou se apenas sentia algum tipo de inveja, usando-a até se arrepender no final. Outra pergunta é como ela e o Tommy se tornaram namorados? Kathy conta isso assim do nada depois de falar das suas conversas com o rapaz, não mencionando nada de possíveis encontros entre ele e Ruth, falando do namoro deles só depois. Queria que tivesse o ponto de vista de Ruth para responder a essas perguntas. O lado ruim da história ser narrada por um narrador-personagem é que vemos tudo do ponto de vista dele. A palavra dele é considerada a verdade absoluta para a maioria dos leitores. Há poucos casos que um autor usa isso como vantagem em seu romance, fazendo o leitor duvidar do que o personagem diz. Esse não é um desses romances, pois acredito na palavra da narradora até o final.
Uma semelhança que esse romance tem com O gigante enterrado, livro também escrito por Kazuo Ishiguro, foi o boato sobre um teste para saber se um casal realmente se ama, ganhando assim alguns anos a mais antes de fazer as doações. No O gigante enterrado, haviam barqueiros que levavam casais juntos para uma ilha se fosse comprovado por eles que o casal de fato se amava. Isso foi interessante pois O gigante enterrado foi lançado dez anos depois de Não me abandone jamais, que lançou em 2005. Me pergunto se foi intencional do autor, pois o paralelo entre essas duas obras é grande. Um se passa nos anos noventa, mas com uma evolução maior da medicina do que tivemos na vida real enquanto a outra se passa na era medieval fantástica, com dragões e criaturas mágicas. E os dois acabam em um final melancólico e que poderia ter sua história continuada por outros protagonistas para acrescentar mais desses mundos criados pelo autor.
De maneira geral, foi uma boa leitura. Admito que até chorei no final. Mesmo esse livro não sendo do meu gênero favorito, sua história me prendeu. Mesmo não sendo fã de nenhum desses gêneros, dê uma checada. Acho que você não conseguirá abandoná-lo depois que começar.