sexta-feira, 4 de maio de 2018

A magia da música



           
           Ecos foi escrito por Pam Muñoz Ryan e foi vencedor do prêmio Newberry Honor Book de 2016, proposto pelos Estados Unidos aos livros infanto-juvenis dos finalistas da Newberry Book. Resumindo, é como se esse livro fosse o finalista do equivalente ao Oscar dos livros infanto-juvenis americanos, ele chamou a atenção, mas não ganhou e deram a ele o prêmio de consolação.
              Otto brincava de pique-esconde com os amigos e decidiu que seu esconderijo seria a floresta, o qual era proibida. Na espera, decidiu ler um livro que havia comprado de uma cigana, contando a história de três irmãs. Só que quando faz isso, se esquece do tempo e fica perde.  Então, as três irmãs do livro o encontram e oferecem ajuda em troca de algo: passar adiante a gaita, onde elas estavam aprisionadas, para que elas possam salvar a vida de alguém e se libertarem.
            Apesar do livro começar como o resumo acima, existem mais três histórias com outros três personagens em foco, cada uma com vários capítulos. Uma é história de Friedrich, um garoto alemão de oito anos que teve a má sorte de nascer com uma marca peculiar em seu rosto na época da Alemanha Nazista. Além disso, ele gosta de tocar gaita, um instrumento que foi proibido por não ser alemão. O segundo personagem é Mike, um garoto americano de quase doze anos que vive com o irmão mais novo em um orfanato horrível depois da morte de sua avó. Ele terá que pensar em um jeito de não ser separado do irmão na adoção ao mesmo tempo que tem que pensar no que é melhor para ele. A terceira personagem é Ivy de nove a dez anos, que tem uma família que vive mudando de cidade em busca de empregos e melhores condições de vida. O máximo que ela conseguiu morar em uma cidade foi um ano e nesse ano conseguiu fazer amizade e uma vaga com a turma para tocar gaita para um rádio. Ela terá que deixar tudo isso para trás. Além disso, ao contrário das famílias dos outros personagens que incentivavam a música, os pais de Ivy veem isso como uma futilidade.
            Além de serem divididas através de datas e locais, cada parte do romance é também dividido pelas letras de música Acalanto de Brahms (Friedrich); América, a Bela (Mike); Valsa da Despedida (Ivy) e Numa Noite Encantada (Todos). Elas, é claro, são mencionadas pelos personagens que as tocam, com exceção da Valsa de Despedida, que não vi sua aparição nessa parte do livro e acho que só apareceu por relacionar-se com o tema. Foi um belo toque, dando algo a mais para o livro, já que não podemos ouvir as músicas, pelo menos saberemos suas melodias. Mas quem for mais curioso, pode simplesmente procurar na internet e ouvir.
            Como é de se esperar, cada história se conecta com algo, e esse algo é a gaita das três irmãs, que passam pela mão de cada um. Os finais de cada história não terminam na parte em que lhes é dividida, só finalizando todos na Numa Noite Encantada. E como era de se esperar, há o encontro dos três personagens. Porém, esperava mais e que eles tivessem mais conversa entre eles e não houve.
            Ao todo são cinco histórias: a das irmãs, a de Otto e dos outros. É como se na verdade o conto de fadas das irmãs englobasse todas as outras, que são mais realistas. Apesar disso, teve poucos momentos em que magia e realidade se encontravam. Os momentos que os personagens sentiam o lirismo impossivelmente belo da gaita não conta. Esperava que as irmãs aparecessem como guias mágicas dos protagonistas, conversassem com eles e houve muito pouco disso. Na verdade, só houve isso no começo e no final do livro.
            No geral, o romance foi muito água com açúcar. Até mesmo quando esperava uma notícia ruim de duas das partes, ele me traz algo feliz até demais. Mas não sei do que eu estou reclamando, pois quando um romance me dá um final triste fico insatisfeita e quando me dão um final completamente feliz, também fico insatisfeita. Realmente não sei o que quero. Deve ser porque apesar de grande parte do livro estar acontecendo na Segunda Guerra Mundial, que devo dizer que a autora deu uma boa pesquisada para ser o mais coerente possível, ainda é um livro para um público infantil, de uns oito a dez anos. Quando o livro acaba uma parte e passa para a outra sem concluir a história é um bom exercício de paciência para as crianças, além de ser também um bom exercício de memória, pois só haverá uma conclusão bem no final. Outro público que é bem capaz de gostar são os apaixonados pelas músicas clássicas e instrumentos musicais, pois há muita referência dele no livro. Porém, se você não é nenhuma dessas audiências e quiser dar uma checada, significa que as três irmãs o (a) chamaram para ouvir sua história. Então, siga o seu chamado e ouça o que há para ser contado.      

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