sexta-feira, 10 de julho de 2020

Olívia no país de Onira



            Das Cinzas de Onira foi escrito pelo brasileiro Umberto Mannarino, que é conhecido por fazer vídeos relacionados ao ENEM e seus desenhos foram feitos pelo ilustrador Esdras Gomes. O livro foi lançado em pleno 2020, que não está sendo um dos melhores anos, para ser sincera. Para isso, é bom se distrair com uma boa leitura.

            Olívia acordou no hospital com um tubo na garganta e queimaduras nos braços. O médico lhe contou que sua casa havia pegado fogo. Mas ela não se lembrava do incêndio. Ou quem eram os seus pais. Ou qualquer coisa que não fosse o seu nome. Ela foi morar na casa dos tios e lá ela conhece Onira.

            O romance parece ter se inspirado em várias obras como Alice no País das Maravilhas, pela temática de sonhos e dos seres estranhos que Olívia encontra no país de Onira, cujo nome parece ter vindo da palavra onírico. Vi um pouco do livro O Mágico de Oz, cuja heroína se junta a um grupo composto por seres bem diferentes em busca de algo em comum. Também tem semelhanças com a versão cinematográfica desse livro, em que todos os personagens importantes que Dorothy encontra lembram pessoas que ela conhece. Outra obra sobre crianças indo para outro mundo com situações similares foi As Crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa. Nela as crianças vão para Nárnia usando um guarda-roupa como portal enquanto Olívia usa uma lareira. Há um tom de mistério com um pouquinho de terror infantil como a Coraline de Neil Gaiman. Apesar das inúmeras inspirações, Das Cinzas de Onira ainda assim conseguiu ser única, algo bastante admirável.

            Mas uma referência inesperada foi a da aparição de Sam, a barata, que foi tirada do livro de Franz Kafka, A metamorfose. Um livro que não consegui acabar na minha adolescência volta para me atormentar depois de vários anos. Me surpreendi. Um personagem de um romance juvenil/adulto que faz uma crítica social da vida dos trabalhadores de sua época aparecer em um livro infanto-juvenil não é algo que a gente vê sempre.

            Quanto aos personagens, são bem interessantes. Apesar de Olívia ser meio irritante às vezes, você entende a situação dela, além do fato de ela ser uma criança e se comportar como uma. Queria que tivesse mais interações entre ela e a personagem Aisling. Seria um bom acréscimo à história. E mais cenas com o tio Lucas. Ele me parece um personagem interessante e que devia ter ainda mais foco.

            As ilustrações, com exceção da capa e da contracapa, são todas em preto e branco, combinando com o clima de suspense. Mas seus traços são mais voltados para o público que o livro deseja atrair, que é o público infanto-juvenil. Ou seja, seus desenhos são menos realistas. Achei bem atrativas.

            A coisa que mais me surpreendeu foi o final, tanto de um jeito bom quanto de um jeito ruim. Apesar das várias inspirações que citei anteriormente, o autor conseguiu finalizar de um jeito diferente de todas as obras referidas. Darei um grande spoiler, não deseja saber como o livro acaba, pule para o último parágrafo. Então, o livro acaba simplesmente não acabando. Voltamos para o começo da história. Por mais que seja sensacional, isso me deixou apreensiva, pois parece que os personagens vão ficar nesse ciclo eterno sem nunca resolver o problema. Senti pena deles.

            Apesar do final ter me deixado apreensiva, foi uma boa jornada. Recomendo a leitura para crianças de dez a doze anos. Se quiserem chegar até Onira, sigam uma coruja vermelha até a lareira. Só tomem cuidado com as aranhas e fantasmas.

 

 


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