Das Cinzas de Onira
foi escrito pelo brasileiro Umberto Mannarino, que é conhecido por fazer vídeos
relacionados ao ENEM e seus desenhos foram feitos pelo ilustrador Esdras Gomes.
O livro foi lançado em pleno 2020, que não está sendo um dos melhores anos,
para ser sincera. Para isso, é bom se distrair com uma boa leitura.
Olívia acordou no hospital com um tubo na garganta e
queimaduras nos braços. O médico lhe contou que sua casa havia pegado fogo. Mas
ela não se lembrava do incêndio. Ou quem eram os seus pais. Ou qualquer coisa
que não fosse o seu nome. Ela foi morar na casa dos tios e lá ela conhece
Onira.
O romance parece ter se inspirado em várias obras como Alice
no País das Maravilhas, pela temática de sonhos e dos seres estranhos que Olívia
encontra no país de Onira, cujo nome parece ter vindo da palavra onírico. Vi um
pouco do livro O Mágico de Oz, cuja heroína se junta a um grupo composto
por seres bem diferentes em busca de algo em comum. Também tem semelhanças com
a versão cinematográfica desse livro, em que todos os personagens importantes
que Dorothy encontra lembram pessoas que ela conhece. Outra obra sobre crianças
indo para outro mundo com situações similares foi As Crônicas de Nárnia: O
leão, a feiticeira e o guarda-roupa. Nela as crianças vão para Nárnia usando
um guarda-roupa como portal enquanto Olívia usa uma lareira. Há um tom de
mistério com um pouquinho de terror infantil como a Coraline de Neil
Gaiman. Apesar das inúmeras inspirações, Das Cinzas de Onira ainda assim
conseguiu ser única, algo bastante admirável.
Mas uma referência inesperada foi a da aparição de Sam, a
barata, que foi tirada do livro de Franz Kafka, A metamorfose. Um livro
que não consegui acabar na minha adolescência volta para me atormentar depois
de vários anos. Me surpreendi. Um personagem de um romance juvenil/adulto que
faz uma crítica social da vida dos trabalhadores de sua época aparecer em um
livro infanto-juvenil não é algo que a gente vê sempre.
Quanto aos personagens, são bem interessantes. Apesar de
Olívia ser meio irritante às vezes, você entende a situação dela, além do fato
de ela ser uma criança e se comportar como uma. Queria que tivesse mais
interações entre ela e a personagem Aisling. Seria um bom acréscimo à história.
E mais cenas com o tio Lucas. Ele me parece um personagem interessante e que
devia ter ainda mais foco.
As ilustrações, com exceção da capa e da contracapa, são
todas em preto e branco, combinando com o clima de suspense. Mas seus traços
são mais voltados para o público que o livro deseja atrair, que é o público
infanto-juvenil. Ou seja, seus desenhos são menos realistas. Achei bem
atrativas.
A coisa que mais me surpreendeu foi o final, tanto de um
jeito bom quanto de um jeito ruim. Apesar das várias inspirações que citei
anteriormente, o autor conseguiu finalizar de um jeito diferente de todas as
obras referidas. Darei um grande spoiler, não deseja saber como o livro
acaba, pule para o último parágrafo. Então, o livro acaba simplesmente não
acabando. Voltamos para o começo da história. Por mais que seja sensacional,
isso me deixou apreensiva, pois parece que os personagens vão ficar nesse ciclo
eterno sem nunca resolver o problema. Senti pena deles.
Apesar do final ter me deixado apreensiva, foi uma boa
jornada. Recomendo a leitura para crianças de dez a doze anos. Se quiserem chegar
até Onira, sigam uma coruja vermelha até a lareira. Só tomem cuidado com as
aranhas e fantasmas.
Fiquei com vontade de ler o livro...
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