sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Zumbis x Unicórnios


            Bem... Esse com certeza é um livro título bem chamativo, juntando dois seres que nada têm a ver. Zumbis x Unicórnios é uma coletânea de contos lançada no Brasil em 2013 (2010 mundo a fora) e organizada pelas autoras Holly Black e Justine Larbalestier. A proposta do livro é fazer uma disputa em qual dessas criaturas é a melhor, sendo Holly Black a líder do Time Unicórnio enquanto Justine Larbalestier lidera o Time Zumbi. A decisão de quem ganha fica nas mãos do leitor, que nesse caso, sou eu. Qual dos dois será o vencedor? Vamos descobrir:

A Mais Alta Justiça – Escrito por Garth Nix. Jess busca justiça pela morte de sua mãe, a rainha. Por isso, ela pede ajuda para que o unicórnio Elibet traga parte de sua mãe à vida e juntas vão até o culpado para julgá-lo. Um conto que seria típico do personagem que busca vingança ou justiça, se não fosse pelos elementos bizarros. O unicórnio desta história é bem mais sanguinário, além de ter uma forma de ser mais parecida com a de uma nuvem, se aproximando de algo que não pode ser tocado, algo mais místico. Apesar da proposta desse livro ser zumbis vs unicórnios e Garth Nix estar do lado dos unicórnios, aqui também possui um elemento zumbi na forma da rainha.

Love Will Tear Us Apart (O Amor Irá Nos Separar) – Escrito por Alaya Dawn Johnson. Grayson é um zumbi que não sabe se quer trancar ou comer seu amigo Jack. Ou quem sabe os dois? Quando se pensa em zumbi, você imagina aquele morto-vivo, lento e incapaz de pensar. Pois bem, este aqui pensa. Um conto longo, dividido em partes, narrado pelo próprio Grayson. Um romance típico entre uma pessoa e um ser sobrenatural.

Teste de pureza – Escrito por Naomi Novik. Depois de passar a noite bebendo, Alison acaba dormindo num banco do Central Park. Mas é acordada por ninguém menos que um unicórnio, que pede sua ajuda para recuperar filhotes de sua espécie raptados por um mago. Uma outra subversão do que conhecemos do unicórnio, só que mais cômica.

Buganvílias – Escrito por Carrie Ryan. Iza passou a vida inteira em uma ilha, sendo protegida dos piratas e dos “mudos” pelo pai. E era assim que levava a vida, até um rapaz sair da água. Piratas que usam zumbis como armas para atacar? Isso com certeza daria um bom jogo de Zombicide. Brincadeiras à parte, este conto é um daqueles que não tem herói ou vilão. Todos são imperfeitos.  Essa história te dá uma visão pessimista e termina com um final aberto.

Mil flores – Escrito por Margo Lanagan. Manny Foyer estava acampando com seus amigos na floresta até que quando este sai para fazer suas necessidades, ele avista um unicórnio. Ele segue o animal até um rio, até que o bicho some e Manny encontra uma bela donzela desmaiada, próxima a água. Um conto que apresenta mais de um ponto de vista sendo o de Manny um deles. Por coincidência, esta história apresenta algo bem atual, que é a de um homem ser falsamente acusado de assédio e pagar por um crime que não cometeu. O unicórnio daqui, além de ser bastante relacionado com as plantas, também parece ser atraído por belas donzelas, mas não de um jeito inocente. História trágica e seu final me deixou com um gosto amargo na boca.

As crianças da revolução – Escrito por Maureen Johnson. Depois de levar um golpe e ser forçada a trabalhar em uma fazenda na Inglaterra, Sofie tentava arrumar um jeito de ganhar dinheiro para escapar desse lugar. Até que finalmente surgiu uma oportunidade: ela teria que tomar conta de cinco crianças enquanto sua mãe estava fora. Mas estas crianças eram um tanto estranhas... Se você ver crianças acinzentadas cuja alimentação envolve apenas carne crua, corra! O primeiro conto de zumbi desse livro que senti uma aura mais para o terror.

O cuidado e a alimentação de seu filhote de unicórnio assassino – Escrito por Diana Peterfreund. Wendy foi com seus amigos para um parque de diversões, sendo uma de suas atrações um unicórnio. O grupo quis ir vê-lo e apesar de ter um bom motivo para não ir, Wendy foi com eles. Diferente de várias versões que vi, os unicórnios daqui são venenosos e tem instinto assassino, além de serem carnívoros. Esta história lembra muito aqueles filmes de crianças ou adolescentes cuidando de uma criatura mágica, o que acaba resultado em inúmeras confusões. Infelizmente, este conto acaba em um final. Mas pelo que vi, existe uma série de livros dessa autora chamada A Ordem da Leoa, onde este conto faz parte de seu universo.

Inoculata – Escrito por Scott Westerfeld. Allison está há anos vivendo em uma antiga fazenda de maconha junto a outras pessoas para se proteger dos zês (zumbis). Mas o que ela vai fazer após descobrir que Kalyn, uma garota que ela tem uma queda, já foi infectada com que parece ser um novo vírus zumbi, que Kalyn considera uma vacina para o antigo, e deseja que Allison faça o mesmo? Adolescentes que sentem que são mais espertos que os adultos pois estes querem viver na mesmice da falsa segurança enquanto eles aceitam mudar e viver uma nova vida como outra espécie. Sinceramente, esse nível de arrogância juvenil me fez torcer para que a protagonista se ferrasse no final. Mas a história estava do lado dela.

Princesa Bonitinha – Escrito por Meg Cabot. Liz Freelander era uma garota com poucos amigos, com um rapaz que vivia implicando com ela na escola e cujo namorado a traíra com outra. No seu aniversário de dezessete anos, seus pais lhe deram uma surpresa: um unicórnio. Drama escolar típico de Sessão da Tarde, só que com um unicórnio no meio. O unicórnio aqui é mais parecido com a visão popular que a gente tem hoje (crina colorida, com um peido cheiroso).

Mãos geladas – Escrito por Cassandra Clare. Adele vivia em uma cidade amaldiçoada, cujos mortos voltam à vida e se alguém da cidade sair, eles vão atrás. Infelizmente, seu namorado James foi morto por um carro, provavelmente a mando de seu tio, pois ele se tornaria duque ao completar dezoito anos. Mas nem a morte pode separá-los. Uma história com ideias interessantes, mas bem previsível. Os zumbis daqui não comem cérebro e nem são atacados, além de possuírem uma inteligência normal, apesar de não falarem muito. Estranhei a mistura do antigo (duques no comando, enforcamento em praça pública) com o recente (garrafas de refrigerante, calça jeans etc.).

A Terceira Virgem – Escrito por Katleen Duey. O unicórnio espera encontrar, após vários anos, uma pessoa virgem para que esta lhe possa fazer um favor. Um unicórnio que se alimenta sugando a vida das pessoas que cura e só consegue se comunicar com um tipo de virgem. Um conto bem interessante para se pensar, mas que tem um final bem anticlimático.

A noite do baile – Escrito por Libba Bray. Tahmina e Jeff eram alunos do conselho estudantil da escola de Buzz Aldrin High School. Mas quando uma infecção se espalhou e chegou na escola, transformando todos os infectados em zumbis, os planos que eles tinham para o próximo ano tiveram que mudar, se tornando policiais de uma cidade sem adultos, em meio a um caos de pessoas desesperadas e zumbis. Buscar a felicidade ou manter a esperança pode ser difícil em certas situações. O interessante desse conto é que ele parece dialogar com o Inoculata, mostrando como seria os adolescentes no comando sem os adultos por perto em um apocalipse zumbi. Enquanto em Inoculata eles fogem dos adultos por estes não quererem se desapegar do passado, os daqui tentam buscar a normalidade que tinham através do baile.

            Antes de anunciar o time ganhador, tenho que deixar bem claro que dentre as duas criaturas, a minha preferida é o unicórnio. Não gosto de zumbis (com exceção da Júlia), pois a maioria deles é apresentada como monstros sem a capacidade de pensar, que comem todo ser vivo que vê pela frente. Mas dito isso, talvez por gostar mais dos unicórnios, eu acabe sendo mais exigente com os contos que estes aparecem. Quanto aos zumbis, como não consumo muito a mídia em que estes aparecem, acabam por me surpreender mais. Então, a decisão do vencedor será através do meu conto favorito do livro que foi: As crianças da revolução. Parabéns, Time Zumbi! Vocês fizeram uma adoradora de unicórnios gostar de um de seus contos. Porém, devo dizer que Mil flores e A Terceira Virgem chegaram perto. Se ficaram insatisfeitos com o resultado, recomendo que leiam o livro e tirem suas próprias conclusões.

Quanto às outras histórias foram em sua maioria mediana. Essa coletânea foi obviamente feita para o público juvenil, devido às suas menções sexuais em certos contos. Também achei bem aleatório juntar duas criaturas que não têm nada a ver para disputar entre si, sendo uma mais voltada para a fantasia enquanto a outra vai mais para o terror e o suspense, apesar de alguns contos trocarem e acrescentarem outros gêneros.

Como sou mais certinha, preferiria juntar dois seres que se encaixam no mesmo gênero como um zumbi com um fantasma, se é que vocês me entendem😊. Ou um unicórnio com um dragão. Quem sabe um dia...

 

 


 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

De volta ao Mundo das Fadas


            É claro que depois de ser apresentado a magia, ela não sairia mais da vida de Tim Hunter. Os Livros da Magia: Encantos é a sequência de Os Livros da Magia: O Convite, escrita por Carla Jablonski em 2003 (2005 no Brasil), baseado num quadrinho criado por Neil Gaiman e John Bolton.

            Um pouco mais de um mês se passara desde que Tim Hunter encontrou a Brigada dos Encapotados e nada mais de estranho acontecera. Mas após um dia ruim na escola, o pai do garoto o manda brincar lá fora. Zangado, o menino foi e não demorou muito até homens estranhos aparecerem e quererem levá-lo. Depois de uma briga, um deles o transporta magicamente para um lugar desértico, dizendo ser este o Mundo das Fadas.

            Além de Tim, temos os pontos de vista de Tamlin e Titânia, personagens que apareceram no brevemente volume anterior, com a Titânia sendo uma pequena antagonista na jornada de aprendizado de Tim em Os Livros da Magia: O Convite. Sua personalidade se mostra como alguém egoísta e ciumenta enquanto Tamlin é mais sério e demonstra uma grande preocupação com o Mundo das Fadas. Uma curiosidade: Tamlin é baseado no personagem de um conto celta* que é condenado a viver na terra das fadas até que uma mulher chamada Janet o liberta.

            Indo para a história do livro, ela se foca em dois temas: o Mundo das Fadas se acabando e o parentesco de Tim. E, como é de se esperar, as duas temáticas se encontram. O fim do Mundo das Fadas é introduzido no começo, mostrando o quanto a rainha ignora a urgência, preferindo viver em suas ilusões, alienada até ser encarada com a verdade e de que não adianta fingir que os problemas não existem, pois eles não irão embora até serem resolvidos. Quanto os verdadeiros progenitores de Tim, é falado mais tarde e não direi mais nada para não dar mais spoilers.

            O vilão me decepcionou um pouco. Não que ele seja ruim, mas não acho que ele combina como o chefão final de uma história. Ele está mais para um antagonista que aparece rapidamente no meio da jornada do herói, como foi a Baba Yaga no volume anterior.

            De uma maneira geral, achei o livro ok. E novamente, o título parece ser enganoso pois não apareceu nenhum livro relacionado a magia, a menos que um bestiário de criaturas mágicas conte como tal. Acredito que esta história tenha continuação nos quadrinhos, mas para quem é conhecedor dessa mídia, sabe o quanto ela é confusa. Se deseja ler este livro, vá ao Mundo das Fadas, só cuidado para não ser comido.

 

 

 

*Para ver a resenha desse conto, segue o link: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas celtas (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

 

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Contos de fadas celtas


        Depois de fazer resenha sobre contos russos, ciganos, japoneses e chineses, chegou a vez dos celtas. Os melhores contos de fadas celtas, como o próprio nome diz, é uma coletânea de contos celtas, composta por diversos autores, lançada em 2020. Como sempre em livros assim, resumirei cada um deles separadamente e direi minha opinião geral no final. Comecemos:

 

A História de Deirdre – Escrito por Joseph Jacobs em 1892. Um profeta disse a Malcolm Harper que por causa de sua filha, muito sangue seria derramado no país, inclusive o de três célebres heróis. Para que isso não acontecesse, Malcolm mandou sua filha Deirdre junto a sua parteira para ser criada em uma colina bem longe. Anos se passaram sem nada acontecer, até um caçador aparecer pedindo abrigo... Por causa da beleza de uma mulher, uma briga foi travada. Me lembrou a guerra de Tróia, só que com um final mais trágico para a mulher e seu amado.

Filhos de Lir – Escrito por Joseph Jacobs em 1894. Para que o rei Lir da Colina do Campo Branco o aceitasse como Rei dos Reis da Irlanda, Dearg ofereceu três mulheres para que Lir escolher uma delas para desposar. Lir elege a mais velha e tem quatro filhos com ela. Após sua mulher morrer no seu segundo parto de gêmeos, Lir ficou muito triste. Sentindo sua tristeza, Dearg dá a ele a mão de Oifa, a irmã da falecida. Mas após o casamento, Oifa começou a nutrir ciúmes da relação de seu marido e seus enteados e decidiu se livrar deles de vez, os transformando em cisnes com apenas uma chance de sua maldição ser quebrada. O começo parece o seu típico conto de fadas, porém, este não teve um final feliz.

O Lobo Cinzento – Escrito por George MacDonald em 1871. Um jovem estudante inglês se perdera do seu grupo em uma das ilhas do arquipélago de Shetland. Após usar uma caverna de abrigo, uma mulher aparece em sua entrada, falando que ele poderia se abrigar na cabana de sua mãe. Parece uma versão diferente da Chapeuzinho Vermelho.

O Rei do Deserto Negro – Escrito por Douglas Hyde em 1904. O Rei O’Connor tinha um filho muito rebelde. Um dia, este saiu e encontrou um velho grisalho sentado ao pé de um arbusto. O idoso oferece uma partida de cartas. Quem ganhasse, teria que atender o pedido do outro. O príncipe ganhou e para testar o homem, desejou que este trocasse a cabeça da madrasta por a de uma cabra por uma semana. E seu pedido foi atendido. Essa é a típica história com a famosa regra dos três* dos contos de fadas e que o protagonista consegue aliados para fazerem tudo por ele.

Lis Amarela – Escrito por Laure Claire Foucher e Herschel Williams em 1908. Há muito tempo atrás, o príncipe de Erin, que gostava muito de apostas, acabou por apostar com o Gigante de Loch Lein e ganhou. Mesmo sendo avisado para não fazer mais isso, ele jogou uma segunda e uma terceira vez. Ele ganhou a segunda mas perdeu a terceira, cujo pagamento seria a sua cabeça. Porém, o gigante o deixou viver por um ano e um dia. O que será que o jovem vai fazer para fugir dessa enrascada? Estrutura bem parecida com O Rei do Deserto Negro, incluindo as apostas e o príncipe tendo que ir até um lago roubar um utensílio da filha do antagonista para esta o ajudar a se safar de pagar sua dívida. Só que aqui, Lis Amarela, a filha do gigante, tem uma personalidade mais zombeteira que Finnuala, a filha do Rei do Deserto Negro. Além de não apostar demais, o conto dá outra lição que é de dar mais valor ao objeto antigo ao invés do novo, pois com o velho você tem mais familiaridade. Isso serve para esta história, mas na vida real, varia de situação para situação.

Tam Lin – Escrito por Francis James Child em 1860. Janet foi a Cartehaugh, onde encontrou Tam Lin, um homem amaldiçoado a viver na terra das fadas. Mas, ele conta a Janet um jeito de libertá-lo para assim se tornar seu marido. Interessante saber a origem do nome de um dos personagens de Corte de Espinhos e Rosas. Ao contrário das anteriores, esta história está em forma de poesia.

A Floresta de Dooros – Escrito por Edmund Leamy em 1890. Após o antigo rei ser morto e ter seu trono usurpado, seu filho Niall foi mandado para longe enquanto sua filha Rosaleen, uma das moças mais bonitas do reino, foi enfeitiçada e sua aparência se tornou uma das mais feias. Morando sozinha num celeiro, Rosaleen era rejeitada por todos. Mas seu único amigo, um pintarroxo, decide ir para a Floresta de Dooros pegar uma frutinha mágica que a faria recuperar a sua beleza, e estava sendo guardada por um gigante. Quem diria que um passarinho poderia ser um herói. Uma história bem bobinha.

O Caçador de Focas e o Sereiano – Escrito por Elizabeth W. Grierson em 1910. Um caçador ganhava o seu sustento caçando e vendendo peles de focas. Um dia, ele acabou atingindo uma foca com sua faca e esta fugiu com a arma presa em sua pele. No caminho para casa, o caçador encontrou um estranho e alto cavaleiro, que pediu uma enorme quantia de pele de focas para aquela noite. O caçador disse não possuía essa grande quantidade então, o cavaleiro ofereceu levá-lo a um lugar onde ele pudesse caçar. As sereias aqui têm uma aparência mais similar a das focas, me lembrando as selkies. Um conto que mostra que boas ações podem ser recompensadas.

A Donzela do Mar – Escrito por Joseph Jacobs e J. F. Campbell em 1892. Um pescador estava tendo dificuldade para apanhar peixe. Até que uma donzela do mar aparece e oferece sua ajuda em troca do filho primogênito do homem. O velho aceita e consegue o que quer. Após vinte anos, chegou a hora de ele entregar o que deve. Não querendo fazer isso, o filho se oferece sair de casa e embarca em sua própria jornada. Outra história que tem a famosa regra dos três dos contos de fadas, além de possuir uma semelhança com o conto russo A princesa sapo, em que o antagonista guarda a sua alma dentro de várias coisas.

O Gigante Egoísta – Escrito por Oscar Wilde em 1888. Após sete anos, o Gigante retorna a sua moradia, só para encontrar crianças brincando em seu jardim. Ele as expulsa e constrói um muro em torno de seu jardim, proibindo qualquer um que quisesse entrar lá. Com as crianças fora do jardim, a Primavera se recusou a vir até ele, deixando o Inverno fazer a festa. Já esperava que o Gigante fosse aprender a lição, mas não esperava que tivesse uma tonalidade religiosa no final.

A Tosa da Lã Encantada – Escrito por Anna MacManus em 1904. Um reino está sendo atormentado por balidos de ovelhas fantasmas. Preocupado, o rei pede aos seus druidas que investiguem a causa e eles acabam descobrindo que isso é obra de Manannan-Mac-Lir, o Deus do mar. Mas que não sabem o motivo pelo qual ele fizera isso. Até que um dia, um estranho veio até o castelo e oferece encontrar e tosquiar o rebanho encantado. Um conto bem fraquinho.

O Dragão Relutante – Escrito por Kenneth Grahame em 1898. Após seguirem rastros de um animal que consideravam ser um dragão, duas crianças vão parar na moradia do homem do circo. Ficaram lá por um tempo antes de chegar a hora de ir para casa. O dono do circo oferece acompanhá-las. Aproveitando a situação, a menina pede que ele conte uma história. Então, o homem conta a história de um menino que vira amigo de um dragão preguiçoso que ama poesia. Mas o povo, que adora uma luta, chama São Jorge para matar o dragão. Como resolverão este problema? Achei um conto bem infantil. Uma curiosidade: este conto inspirou uma animação de mesmo nome, lançada em 1941.

O Gatinho Branco – Escrito por Edmund Leamy em 1890. Após o Rei das Torrentes ser morto pelo gigante Trencoss, a Princesa Eileen é foi forçada a viver com o assassino de seu pai e este logo a deseja desposar. A jovem se desespera, mas um gatinho branco logo lhe diz um jeito dela enrolar o gigante. Enquanto isso, o gato vai ao encontro do Príncipe do Rio da Prata e diz como salvar a princesa. Outro conto que possui a regra dos três, com o herói desobedecendo as regras do aliado, mas conseguindo salvar a mocinha no final.

A Dama da Fonte – Escrito por Andrew Lang e Lady Charlotte Schreiber. Após Kynon contar sobre sua fracassada luta contra um cavaleiro misterioso, Owain decide ir até lá. Depois de derrotá-lo, Owain segue o homem até um castelo. Não conseguindo entrar, uma moça oferece ajudá-lo, dando a ele um anel de invisibilidade para que esse não fosse morto pelos homens do castelo. No meio da noite, foi anunciado que o cavaleiro que Owain enfrentou faleceu e após ver a viúva dele, a condessa da fonte, Owain acaba se apaixonando por ela. Luned, a donzela que entregou a ele o anel, o ajuda a enganar e a se casar com sua senhora. Depois de alguns anos, o Rei Arthur começa a sentir falta de seu cavaleiro e decide procurá-lo com seu grupo de homens e trazê-lo de volta. Aparentemente, você pode ficar com a mulher do cara que matou e esquecê-la por três anos desde que passe por grandes lutas em sua jornada de volta para casa.

O Cavalo Preto – Escrito por Joseph Jacobs em 1898. Tendo o rei falecido, sua herança teve que ser dividida entre seus três filhos. Mas os mais velhos não deixaram nada para o caçula a não ser um garrano branco, velho e manco. Cavalgando com o ele, o príncipe encontra um rapaz, que oferece trocar seu cavalo negro pelo garrano, dizendo que este podia levar seu cavaleiro para qualquer lugar que ele desejasse. Com a troca feita, o príncipe pensou em ir ao Reino Sob as Ondas, que foi uma má ideia pois o filho do rei deste local o ordenou que trouxesse a filha do Rei dos Gregos para ele antes do sol nascer senão o enfeitiçaria. Outro conto em que quem resolve os problemas é mais o aliado do que o protagonista.

Os Animais Gratos – Escrito por Patrick Kennedy em 1909. Um rapaz chamado Jack estava caminhando até a feira até ver crianças maltratando um rato. Ele as paga e solta o rato. Ele fez o mesmo com uma doninha e um burro, sendo que o último fica com ele. Ao tirar um cochilo debaixo de uma árvore, um gigante e seus servos o acordam dizendo que seu burro havia feito um estrago em seu campo. Então o prenderam dentro de um baú e o jogaram no rio. Esse é um daqueles contos que mostra que gentileza gera gentileza.

As Mulheres Chifrudas – Escrito por Lady Wilde em 1887. À noite, uma senhora estava preparando sua lã enquanto seus familiares e empregados dormiam. Até que uma voz chamou e bateu à porta. Quando ela atendeu uma mulher com um chifre na testa entrou. Logo depois chegaram outras, cada uma com um chifre a mais que a anterior até chegar a doze. Esse começo me lembrou um pouco do Hobbit, quando os anãos entram na casa de Bilbo e este não tem coragem de os expulsar. Só que ao invés de levar a protagonista para uma jornada, as bruxas quase a fizeram de escrava. Um conto curto e meio sem graça.

As Três Coroas – Escrito por Andrew Lang e Patrick Kennedy em 1866. Um rei tinha três filhas e cada uma namorava um príncipe. Os dois casais mais velhos eram orgulhosos e arrogantes enquanto o par dos mais novos era gentil. Um dia, eles encontraram um lindo barco na beira do lago. As princesas logo entraram, mais antes que seu pai e seus namorados fizessem o mesmo, apareceu um homenzinho que os enfeitiçou e raptou as três moças, descendo com elas para o fundo de um poço. Os rapazes foram atrás, um de cada vez. Quando chegou a vez do mais novo descer o poço, ao invés de um lugar escuro e cheio de água, ele encontra um castelo. Mais um conto com a regra dos três e cujos mais velhos são ruins e os mais novos são bons. Pelo menos, todo mundo teve um final feliz, e as irmãs mais velhas tem uma redenção, o que infelizmente não acontece no conto de A Bela e a Fera. Mas o mesmo não posso dizer dos príncipes mais velhos. Eles sofrem punições mais não aprendem. Acho que eles não mereciam ser recompensados no final.

O Violino de Nove Centavos – Escrito por Seosamh Mac Cathmhaoil em 1904. Um irlandês tocava o seu violino de nove centavos até um leprechaun aparecer. Esta história é a mais curta desse livro, possuindo apenas uma página. Como Tam Lin, O Violino de Nove Centavos também possui rimas, mas ao contrário de Tam Lin que pelo menos tem uma pequena trama, aqui só fala de um encontro entre um homem e um leprechaun através de um violino. Talvez, esta história queira mostrar que mesmo um violino de nove centavos possa atrair coisas maravilhosas nas mãos da pessoa certa, e ainda tocar uma melodia melhor do que os mais caros. Porém, ainda achei sem graça.

A Caverna Encantada – Escrito por Edmund Leamy em 1890. O Príncipe Cuglas estava caçando um cervo quando este foi parar em uma caverna. O cavalo de Cuglas o seguiu descontrolado, levando o seu dono pela escuridão da caverna. Até que o final da caverna revelou ser uma planície verdejante e, a sua espera, estava o mensageiro da Princesa Crede, dizendo que esta estava apaixonada por Cuglas. Mas o príncipe já estava apaixonado por Lady Ailinn, e como prova de seu amor, usava um bracelete que só se soltaria se ele deixasse de amá-la. Será que um dia ela cairá? Outra história com a regra dos três e que o protagonista desobedece aos avisos de seu ajudante. Mas ao contrário do que acontece normalmente, em que o herói consegue seu objetivo na terceira vez após errar nas outras duas, aqui ele falha em todas. Ainda assim, ele consegue o seu final feliz.

A Visão de MacConglinney – Escrito por Joseph Jacobs em 1890. Cathal, o Rei de Munster, foi acometido com uma fome insana. Sua gula estava causando prejuízos, até que o jovem sábio Anier MacConglinney se propõe a ajudar, em troca de uma ovelha branca de cada curral entre Cam e Cork. Esse conto possui apenas seis páginas, porém, poderia ser menor. Sei que a enrolação foi proposital e fazia sentido no contexto, mas achei um tanto chato.

Nuckelavee – Escrito por Sir George Brisbane Douglas em 1901. Tammas saiu numa certa noite e acabou encontrando Nuckelavee, um ser horripilante, que tem a aparência de um homem gigante montado em um cavalo, mas que não possuía pele alguma, além de ser conhecido por causar todo tipo de pragas para a humanidade. Tentando se salvar, Tammas correu para o lago, pois a água doce era fraqueza da criatura. Um conto curto que serve para apresentar este ser do folclore escocês. A única outra história que me lembro em que o Nuckelavee aparece é no livro O Segredo do Kelpie.

Princesa Finola e o Anão – Escrito por Edmund Leamy em 1890. Finola vivia em uma choupana isolada com uma mulher mal-humorada, sem poder sair de lá. O único ser vivo que passava por lá era um anão mudo que trazia saco de milho para a casa uma vez por mês. Ele era apaixonado por ela e gostaria de tirá-la daquele lugar. Foi então que apareceu um duende da metade do tamanho do anão, que com uma varinha mágica, devolveu-lhe a fala e disse que sabia o jeito de salvar Finola, mas que ele teria de pagar um preço. Outro conto com a regra dos três. Achei a história legal, mas acredito que as pessoas do politicamente correto não irão gostar.

A Balada de Oisin na Terra da Juventude – Escrito por Brian O’Looney e John O’Daly em 1909. Oisin, seu pai Fionn e o resto dos Fianna estavam em uma caçada até aparecer uma bela mulher chamada Niamh da Cabeça Dourada, dizendo estar apaixonada por Oisin, e querendo levá-lo consigo para a Terra da Juventude. Ele aceita e parte com ela. Uma história de final melancólico, que me lembrou o fim do conto Filhos de Lir. Aparentemente, quem sai da Terra da Juventude após muitos anos, acaba envelhecendo todos os anos que se passaram.

A Princesa Leve – Escrito por George MacDonald em 1864. Já li uma versão desta história lançada pela editora Pulo do Gato, sob o título de A Princesa Flutuante. Se desejam ver minha resenha deste livro, acessem o link: Ponte para o Imaginário: A gravidade do mundo (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

 

                Pelo que notei, a maioria dos contos de fadas celtas possuem uma estrutura similar aos contos de fadas clássicos que conhecemos. Não acho isso algo ruim. Se esse fosse o caso, Lis Amarela, que é uma história que possui vários desses clichês não teria sido meu conto favorito do livro.

            Gostei bastante do livro. A maioria dos contos foram bons, além é claro, de possuir belas ilustrações antigas dando o clima de uma época antiga. Quem deseja conhecer, fique à vontade, só tome cuidado para não encontrar um gigante no meio do caminho. Ou uma mulher chifruda.

 

 

 

*Em muitos contos de fadas, o número três é relacionado, como por exemplo nos Três Porquinhos em que os três irmãos tiveram que lidar com o lobo três vezes.