Os países do leste
asiático são ricos em cultura e histórias. Chegou a hora de conhecer algumas
delas. Os melhores contos de fadas asiáticos foi lançado em 2022 e
compõe contos de diversos autores.
Alguns nasceram ou são descentes de asiáticos e outros não, mas tiveram contato
com suas estórias e decidiram trazê-las para o ocidente. Resumirei cada um e
direi minha opinião no final. Vamos começar:
Dama Bai, A lenda
da serpente branca – Escrito por Feng Menglong. Na volta para
casa, começou a chover, fazendo com que Xu Xuan tivesse que pegar um barco. No
caminho, uma bela dama e sua criada pedem carona. A dama era a irmã mais nova
do general imperial Bai e após o jovem pagar sua passagem e lhe emprestar o
guarda-chuva, ele não conseguiu tirá-la da cabeça. Ele então dá uma desculpa
para o chefe e vai ao encontro da mulher. Então começa o ciclo de má sorte de
Xu Xuan. Conto bem longo que mostra que devemos ter cuidado com quem nos
relacionamos. Gostei da narrativa. As únicas coisas negativas é que infelizmente,
o título dá um grande spoiler e demorou três páginas para começar a história de
fato, enrolando com descrições e historietas do local. Teve uma adaptação para
série em 2019 chamada A Lenda do Mestre Chinês, que apesar dos elementos
principais terem sido mantidos, pode ser considerada uma história própria
devido as mudanças de personalidade de seus personagens e modificações na história
no geral.
Tamamo, a donzela
raposa – escrito por Grace James. No caminho, um
vendedor ambulante encontrou uma menina, que pediu para levá-la com ele até o
palácio do imperador de Kyoto. Ao chegar lá, a garota encantou o grande senhor
com sua dança, permitindo que ela ficasse com ele em sua residência. Então, os
problemas começaram. Um conto que mistura o folclore tradicional japonês e a
religião budista. Novamente, o título dá spoiler.
A princesa
deserdada – Escrito por Richard Wilhelm. Liu Yi
voltava para sua casa após fracassar em seus exames. No caminho, encontrou uma
donzela que pastoreava ovelhas. Ao notar o seu semblante triste, ele a
perguntou o que houve e ela contou que era filha do rei dragão e foi banida pelo
marido e pelos sogros para as terras humanas. Com pena da mulher, Liu Yi aceita
enviar sua carta para o pai da moça. Uma história simples em que uma boa ação
pode ser recompensada.
A
ponte de pássaros celestial – Escrito por William
Elliot Griffis. No Reino das Estrelas, uma princesa e um príncipe se casaram.
Enquanto a moça demonstrava sua dedicação e bondade após sua união, o marido se
tornou preguiçoso, gastando todo o dinheiro em apostas. Não gostando nada da
atitude do genro, seu sogro decidiu separar o casal... História bem curta que
dá importância a uma das aves mais comuns da Coreia, a pega.
Longka, a jovem
dançarina – Escrito por William Elliot Griffis. Após
ser capturada pelos ilhéus invasores, a jovem coreana Longka foi obrigada a
dançar para eles. Depois de sua apresentação, o general exige dançar com a moça
e Longka acaba fazendo uma escolha para honrar o seu país. Um conto que mostra
o orgulho do povo coreano assim como o ressentimento por seus invasores, os
japoneses.
A lanterna de
peônias – Escrito por Grace James. Hagiwara, um
jovem samurai, estava jogando hanetsuki (um badminton sem rede), até que lançou
a peteca dentro de um cercado de bambu. Quando foi buscá-la, se encontrou com
duas jovens. Uma delas se introduziu como Otsuyu, a Dama do Orvalho da Manhã e
após assistir a dança da moça, ela avisou que se ele não voltasse no dia
seguinte, ambos morreriam. E, como em todo conto de fadas, ele desobedece e o
mal acontece. Interessante ver um encontro de mortos e vivos através de uma
data de celebração.
A joia de mil
faces – Escrito por Willian Elliot Griffis. Uma
princesa japonesa se casou com o imperador da China e ela adorava dar presentes
ao pai. Dentre eles estava a Joia de Mil Faces, que independente de como ela
estava posicionada, dava para ver o rosto do Buda. Infelizmente, a embarcação
que carregava a joia afundou e o objeto foi parar no fundo do mar, onde morava o
rei do Mundo Submarino. Querendo recuperá-la, o pai da princesa pede a ajuda de
Shinju, uma pescadora que consegue mergulhar bem fundo. Uma história de
esperteza, mas também de sacrifício.
A origem dos pés
enfaixados – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Um
dia, o cruel rei Zhou Xin foi ao templo da deusa Luo para orar. Ao ver sua
estátua, ele se apaixonou imensamente, desejando tomar a deusa para si. Luo
ficou furiosa com a ousadia do rei e ordenou que um de seus servos, o Espírito
de Raposa, fosse até a terra dos humanos se vingar. Enquanto isso, um dos
ministros do rei sugere que este se case com a filha do vice-rei Su Nan, tendo
esta uma beleza idêntica a da deusa. Zhou Xin então manda a proposta a Su Nan,
mas este a recusa, dando início a uma guerra. Uma história interessante, apesar
dela contar a origem da prática cruel de enfaixar os pés das moças para que
eles não cresçam mais.
A lenda de Kannon.
– Escrito por Grace James. Próximo a antiga Ponte
Flutuante Celestial, um monge chamado Saion Zenji constrói um templo dedicado a
deusa Kannon. Tudo estava indo bem até um inverno rigoroso chegar no país. O
homem se manteve com o que tinha até não sobrar nada. Um conto simples que
mostra que quem tem fé e cumpre as leis de seu deus é recompensado.
A balada de Mulan
– Autor desconhecido. O pai de Mulan foi escolhido para
travar batalhas e proteger o seu povo. Como não tinha nenhum irmão de idade
suficiente para ir no lugar do pai, Mulan vai para a batalha disfarçada de
homem. Finalmente chegamos na história chinesa mais conhecida no ocidente
devido a animação lançada pela Disney em 1998. Seu texto é em forma de poema,
compondo apenas duas páginas. Obviamente, houve mudanças e até acréscimos no
filme, já que a história original é bem curta, mas a temática principal foi
mantida. Admito que fiquei um pouco decepcionada. Esperava mais do texto cujo
filme fez parte da infância de muitos.
Como os
deuses-serpentes foram apaziguados – Escrito por Rachel
Harriette Busk. O khan tinha dois filhos. O mais velho se chamava Luz do Sol
cuja mãe infelizmente falecera. O mais novo nascera da segunda mulher e se
chamava Luz da Lua. Querendo que o filho herdasse o trono, a mãe de Luz da Lua
se fingiu de doente, dizendo que a única coisa que podia curá-la era o coração
de um príncipe, mais especificamente o
de Luz do Sol já que não conseguiria ingerir o coração do próprio filho.
Ouvindo isso, Luz da Lua conta para Luz do Sol e ambos fogem. Um dos poucos
contos em que vejo amor entre irmãos ao invés de rivalidade. Mas o conto só
foca nisso no começo, depois, passa a ser um conto de amor a primeira vista
entre o mais velho e uma princesa.
Leitoa e sua irmã
orgulhosa – Escrito por Willian Elliot Griffis. Quando
Flor-de-Pera perdeu a mãe, o pai logo se casou com outra mulher e teve outra
filha. Ambas a madrasta e a meia-irmã tratavam Flor-de-Pera como empregada,
chamando-a maldosamente de Leitoa, enquanto o pai vivia ocupado. No dia de um
grande festival, a madrasta obrigou Leitoa a fazer duas tarefas que a
impossibilitariam de ir assistir. Mas a jovem ganhou uma ajuda inesperada. Versão
coreana da Cinderela e um dos poucos contos de fadas em que a irmã mais
velha é a boazinha e se dá bem no final.
A dama gélida –
Escrito por Grace James. Um velho e um jovem estavam voltando para o seu
vilarejo durante o inverno. Perdidos no frio, acabaram encontrando uma cabana
velha para se aquecerem um pouco. Mas durante a noite, o jovem acorda e vê uma
mulher branca e fria matar o seu amigo. Tendo pena de ter que matar o jovem,
ela o deixa viver sob a promessa de não contar o ocorrido a ninguém. Já
esperava que ele fosse descumprir a promessa e imagino que está mulher seja uma
yuki-onna, um ser que seduz homens, fazendo-os morrer em uma nevasca. Porém,
esperava um final mais trágico.
O filho do trovão
– Escrito por Willian Elliot Griffis. Já li esta história
em outro livro. Se quiserem saber minha opinião sobre ela, seguem o link: Ponte
para o Imaginário: A melancolia dos contos japoneses
(ponteparaoimaginario.blogspot.com)
O gigante
devorador de chamas – Escrito por Willian Elliot Griffis. Em
Seul, vivia um enorme Espírito de Fogo, que adorava devorar tudo,
principalmente o palácio do rei. Cansado de ter sua moradia queimada, o Rei
chama várias pessoas para ajudá-lo a
resolver o problema. Este conto possui a famosa regra dos três, mas ao invés do rei errar as duas primeiras e
acertar só na última, há um processo de evolução, ou seja, ele erra na primeira
tentativa, consegue um bom resultado na segunda e acerta na terceira.
O pardal da língua
cortada – Escrito por Andrew Lang e David Brauns. Um
idoso salvou um pardal de ser comido por um corvo. Desde então, o pardal passou
a ser o bicho de estimação do homem. Mas sua esposa ranzinza se enfureceu,
cortando a língua do pássaro e fazendo o animal partir. O homem procurou a ave
por vários dias. Quando desistiu, acabou encontrando uma pequena casa na
floresta de bambu, onde foi recebido por uma moça, que disse ser o pardal. Após
passar horas na casa dela, a mulher lhe ofereceu duas arcas: uma grande e uma
pequena e disse para o homem escolher. O típico conto que mostra que quem é
ganancioso um dia sofrerá.
Momotaro – Escrito
por Yei Theodora Ozaki e Sadanami Sanji. Enquanto lavava roupa, uma idosa viu
um enorme pêssego sendo carregado pelo rio. A senhora o levou para casa para
que ela e seu marido pudessem comê-lo. Mas quando iam cortar o pêssego, saiu
uma criança dele, dizendo que foi enviado para o casal para ser o seu filho.
Chamaram ele de Momotaro e criaram ele durante quinze anos, até o rapaz pedir
para sair e enfrentar os terríveis oni. Essa uma lenda bastante popular no
Japão. Este é o terceiro conto que leio deste país em que um casal de idosos é
agraciado com um filho mágico.
Erlik Khan –
Escrito por Rachel Harriete Busk. O khan faleceu, mas visitou sua segunda
esposa e deu a dica de como ela e seu futuro herdeiro poderiam viver no
palácio. Após cumprir o que lhe foi dito, a segunda esposa e a mãe do khan se
tornaram as governantes e a mulher recebia o espírito de seu marido em todo décimo
quinto dia do mês. Com saudades de seu homem, ele lhe dá as instruções de como
retorná-lo a vida. Um dos poucos contos em que o protagonista obedece a tudo
que lhe foi dito e, por não ter cometido nenhum deslize, não acontece nada de
ruim. Isso deixou a história bem sem graça.
O tigre obediente
– Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Li este conto em
outro livro sob o nome de O tigre arrependido de Zhaocheng. Se quiserem
saber minha opinião sobre ele, seguem o link: Ponte
para o Imaginário: Contos chineses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)
Imperatriz Jokwa –
Escrito por Yei Theodora Ozaki e Sadanami Sanji. Após a morte de seu irmão, Jokwa
ascendeu ao trono, deixando o feiticeiro Kokai furioso, começando uma rebelião que
acabou virando guerra. A imperatriz chama seus guerreiros Hako e Eiko para
enfrentá-lo. História simples sem muitas reviravoltas
A chaleira –
Escrito por Grace James. Um monge compra uma chaleira. Mas após pegar no sono,
a chaleira se torna uma chaleira-texugo e começa a dançar, assustando os noviços que foram verificar a
sala do monge. Um daqueles contos que gentileza retribui gentileza. A chaleira
lembra um yokai, ser mágico do folclore japonês, chamado tanuki.
A noiva do Rei
Dragão – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. O Rei
Dragão Lung Wang queria muito sair de seu palácio e conhecer o mundo, mas os
conselheiros o impediam, dizendo que um rei não deve se colocar no mesmo nível
de seus súditos. Um de seus sábios disse que para realizar seu desejo sem
preocupá-los, deveria se casar e ter um herdeiro. Após a vinda de várias
princesas e nenhuma agradá-lo, Lung Wang decide viajar mesmo assim, saindo de
seu reino do mar e indo para a terra. Às vezes, o que procuramos está em
lugares que nunca imaginamos.
Um noivo para a
senhorita Toupeira – Escrito por Willian Elliot Griffis. Um
casal de toupeiras teve uma filha cujo pai considerou ser a mais bela criatura
que já existiu. Querendo apenas que o melhor se casasse com ela, o Pai Toupeira
foi em busca de um noivo para sua filha. Este conto me lembrou uma versão mais
curta da história da formiga que pedia ajuda para todos que eram mais fortes
que ela para tirar o pedaço de neve de sua pata. Porém, este teve um final que
volta ao começo.
Cem reis –
Autor desconhecido. Há muitos anos atrás, vivia um rei chamado Sùng Lãm, que
devido a mãe ser uma deusa da água, era muito afeiçoado pelo mar. Um dia, a
princesa Âu Co, descendente das fadas da montanha foi visitar seu reino junto
ao seu pai até serem atacados por um pássaro gigante. História que conta a
origem do Vietnã.
Os pretendentes da
princesa Vaga-Lumes – Escrito por Willian Elliot Griffis. Após
ganhar sua própria luz, Hotaru, a princesa vaga-lumes, pôde sair de casa. Mas
não conseguia escapar dos olhares de seus admiradores. Cansada deles, ela
ofereceu uma tarefa impossível para aqueles que quisessem desposá-la: deveriam
trazer fogo a ela. Um conto que explica o porquê dos insetos serem atraídos
pela luz.
O pêssego mágico –
Escrito por Willian Elliot Griffis. O príncipe de um reino foi convidado pela
Rainha Mãe para visitar sua ilha das Pedras Preciosas. Desobedecendo a sua
mãe, o príncipe se apaixonou por uma
criada e por outro lado, a própria criada desobedeceu as regras do local,
aceitando o pêssego mágico do príncipe que só podia ser oferecido pela Rainha
Mãe. História simples que mostra como o amor pode durar por anos.
A princesa Kuan
Yin – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Apesar de ser a
mais nova, Kuan Yin foi escolhida como a sucessora do reino e deveria se casar.
Mas ela foge, dizendo que a voz do céus escolheu outro caminho e foi disfarçada
até um convento. Apesar de terem deixado ela entrar, as monjas a aceitaram
apenas como serva e a tratavam muito mal. Este conto mostra a origem da deusa
budista Kannon e como a bondade pode ser recompensada.
Fogo Brilhante e
Fogo Soturno – Escrito por Willian Elliot Griffis. A
Deusa do Sol, mãe de Fogo Brilhante e Fogo Soturno, deu a eles um arco e uma
vara de pescar respectivamente. Enquanto Fogo Brilhante, o mais novo, caçava
vários bichos, Fogo Soturno, o mais velho, não teve a mesma sorte na pescaria.
Ambos então decidem trocar de lugar, mas Fogo Brilhante acaba perdendo o anzol de
seus irmão e este não o perdoaria até que o recuperasse. Outra história em que o
irmão mais novo bonzinho supera o irmão mais velho malvado.
A história de
Urashima Taro – Escrito por Grace James. Urashima Taro era
um pescador bondoso. Ao ver uma tartaruga sendo maltratada por crianças, ele as
pagou para deixá-la em paz e libertou o animal. No dia seguinte, ele foi pescar
até que encontrou novamente a tartaruga. Como agradecimento por ter salvado sua
vida, o réptil oferece levá-lo para conhecer Ryungu,o Palácio do Rei do Mar. Me
lembrou As Crônicas de Nárnia, o leão, a feiticeira e o guarda-roupa, só
que com um final trágico.
O peixe falante –
Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Esta história é bem parecida com o conto O
homem que queria ser peixe, do livro Contos sobrenaturais chineses. Se quiser saber minha opinião, acesse o
link: Ponte
para o Imaginário: Contos chineses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)
A história do
velho cortador de bambu – Escrito por Frederick
Victor Dickens. Li este conto em um outro livro. Se quiserem saber minha
opinião, seguem o link: Ponte para o Imaginário: A melancolia
dos contos japoneses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)
Notei que em alguns contos, há referência da religião
budista. Nos dois primeiros, existe um conflito entre o budismo e os seres de
crenças antigas, vilanizando esta última. Há também a aparição de seres
do folclore asiático como a kitsune (mulher raposa), o dragão oriental, o
tanuki, o oni e a yuki-onna.
É um bom livro para quem deseja
conhecer a contos populares do leste asiático. Sobe no casco da tartaruga e
navegue por esse livro. Mas tome cuidado para não encontrar um oni no caminho.
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