sexta-feira, 16 de junho de 2023

Contos de Fadas do Leste Asiático

 


        Os países do leste asiático são ricos em cultura e histórias. Chegou a hora de conhecer algumas delas. Os melhores contos de fadas asiáticos foi lançado em 2022 e compõe contos de diversos autores. Alguns nasceram ou são descentes de asiáticos e outros não, mas tiveram contato com suas estórias e decidiram trazê-las para o ocidente. Resumirei cada um e direi minha opinião no final. Vamos começar:

 

Dama Bai, A lenda da serpente branca – Escrito por Feng Menglong. Na volta para casa, começou a chover, fazendo com que Xu Xuan tivesse que pegar um barco. No caminho, uma bela dama e sua criada pedem carona. A dama era a irmã mais nova do general imperial Bai e após o jovem pagar sua passagem e lhe emprestar o guarda-chuva, ele não conseguiu tirá-la da cabeça. Ele então dá uma desculpa para o chefe e vai ao encontro da mulher. Então começa o ciclo de má sorte de Xu Xuan. Conto bem longo que mostra que devemos ter cuidado com quem nos relacionamos. Gostei da narrativa. As únicas coisas negativas é que infelizmente, o título dá um grande spoiler e demorou três páginas para começar a história de fato, enrolando com descrições e historietas do local. Teve uma adaptação para série em 2019 chamada A Lenda do Mestre Chinês, que apesar dos elementos principais terem sido mantidos, pode ser considerada uma história própria devido as mudanças de personalidade de seus personagens e modificações na história no geral.

Tamamo, a donzela raposa – escrito por Grace James. No caminho, um vendedor ambulante encontrou uma menina, que pediu para levá-la com ele até o palácio do imperador de Kyoto. Ao chegar lá, a garota encantou o grande senhor com sua dança, permitindo que ela ficasse com ele em sua residência. Então, os problemas começaram. Um conto que mistura o folclore tradicional japonês e a religião budista. Novamente, o título dá spoiler.

A princesa deserdada – Escrito por Richard Wilhelm. Liu Yi voltava para sua casa após fracassar em seus exames. No caminho, encontrou uma donzela que pastoreava ovelhas. Ao notar o seu semblante triste, ele a perguntou o que houve e ela contou que era filha do rei dragão e foi banida pelo marido e pelos sogros para as terras humanas. Com pena da mulher, Liu Yi aceita enviar sua carta para o pai da moça. Uma história simples em que uma boa ação pode ser recompensada.

A ponte de pássaros celestial – Escrito por William Elliot Griffis. No Reino das Estrelas, uma princesa e um príncipe se casaram. Enquanto a moça demonstrava sua dedicação e bondade após sua união, o marido se tornou preguiçoso, gastando todo o dinheiro em apostas. Não gostando nada da atitude do genro, seu sogro decidiu separar o casal... História bem curta que dá importância a uma das aves mais comuns da Coreia, a pega.

Longka, a jovem dançarina – Escrito por William Elliot Griffis. Após ser capturada pelos ilhéus invasores, a jovem coreana Longka foi obrigada a dançar para eles. Depois de sua apresentação, o general exige dançar com a moça e Longka acaba fazendo uma escolha para honrar o seu país. Um conto que mostra o orgulho do povo coreano assim como o ressentimento por seus invasores, os japoneses.

A lanterna de peônias – Escrito por Grace James. Hagiwara, um jovem samurai, estava jogando hanetsuki (um badminton sem rede), até que lançou a peteca dentro de um cercado de bambu. Quando foi buscá-la, se encontrou com duas jovens. Uma delas se introduziu como Otsuyu, a Dama do Orvalho da Manhã e após assistir a dança da moça, ela avisou que se ele não voltasse no dia seguinte, ambos morreriam. E, como em todo conto de fadas, ele desobedece e o mal acontece. Interessante ver um encontro de mortos e vivos através de uma data de celebração.

A joia de mil faces – Escrito por Willian Elliot Griffis. Uma princesa japonesa se casou com o imperador da China e ela adorava dar presentes ao pai. Dentre eles estava a Joia de Mil Faces, que independente de como ela estava posicionada, dava para ver o rosto do Buda. Infelizmente, a embarcação que carregava a joia afundou e o objeto foi parar no fundo do mar, onde morava o rei do Mundo Submarino. Querendo recuperá-la, o pai da princesa pede a ajuda de Shinju, uma pescadora que consegue mergulhar bem fundo. Uma história de esperteza, mas também de sacrifício.

A origem dos pés enfaixados – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Um dia, o cruel rei Zhou Xin foi ao templo da deusa Luo para orar. Ao ver sua estátua, ele se apaixonou imensamente, desejando tomar a deusa para si. Luo ficou furiosa com a ousadia do rei e ordenou que um de seus servos, o Espírito de Raposa, fosse até a terra dos humanos se vingar. Enquanto isso, um dos ministros do rei sugere que este se case com a filha do vice-rei Su Nan, tendo esta uma beleza idêntica a da deusa. Zhou Xin então manda a proposta a Su Nan, mas este a recusa, dando início a uma guerra. Uma história interessante, apesar dela contar a origem da prática cruel de enfaixar os pés das moças para que eles não cresçam mais.

A lenda de Kannon. – Escrito por Grace James. Próximo a antiga Ponte Flutuante Celestial, um monge chamado Saion Zenji constrói um templo dedicado a deusa Kannon. Tudo estava indo bem até um inverno rigoroso chegar no país. O homem se manteve com o que tinha até não sobrar nada. Um conto simples que mostra que quem tem fé e cumpre as leis de seu deus é recompensado.

A balada de Mulan – Autor desconhecido. O pai de Mulan foi escolhido para travar batalhas e proteger o seu povo. Como não tinha nenhum irmão de idade suficiente para ir no lugar do pai, Mulan vai para a batalha disfarçada de homem. Finalmente chegamos na história chinesa mais conhecida no ocidente devido a animação lançada pela Disney em 1998. Seu texto é em forma de poema, compondo apenas duas páginas. Obviamente, houve mudanças e até acréscimos no filme, já que a história original é bem curta, mas a temática principal foi mantida. Admito que fiquei um pouco decepcionada. Esperava mais do texto cujo filme fez parte da infância de muitos.

Como os deuses-serpentes foram apaziguados – Escrito por Rachel Harriette Busk. O khan tinha dois filhos. O mais velho se chamava Luz do Sol cuja mãe infelizmente falecera. O mais novo nascera da segunda mulher e se chamava Luz da Lua. Querendo que o filho herdasse o trono, a mãe de Luz da Lua se fingiu de doente, dizendo que a única coisa que podia curá-la era o coração de um príncipe,  mais especificamente o de Luz do Sol já que não conseguiria ingerir o coração do próprio filho. Ouvindo isso, Luz da Lua conta para Luz do Sol e ambos fogem. Um dos poucos contos em que vejo amor entre irmãos ao invés de rivalidade. Mas o conto só foca nisso no começo, depois, passa a ser um conto de amor a primeira vista entre o mais velho e uma princesa.

Leitoa e sua irmã orgulhosa – Escrito por Willian Elliot Griffis. Quando Flor-de-Pera perdeu a mãe, o pai logo se casou com outra mulher e teve outra filha. Ambas a madrasta e a meia-irmã tratavam Flor-de-Pera como empregada, chamando-a maldosamente de Leitoa, enquanto o pai vivia ocupado. No dia de um grande festival, a madrasta obrigou Leitoa a fazer duas tarefas que a impossibilitariam de ir assistir. Mas a jovem ganhou uma ajuda inesperada. Versão coreana da Cinderela e um dos poucos contos de fadas em que a irmã mais velha é a boazinha e se dá bem no final.

A dama gélida – Escrito por Grace James. Um velho e um jovem estavam voltando para o seu vilarejo durante o inverno. Perdidos no frio, acabaram encontrando uma cabana velha para se aquecerem um pouco. Mas durante a noite, o jovem acorda e vê uma mulher branca e fria matar o seu amigo. Tendo pena de ter que matar o jovem, ela o deixa viver sob a promessa de não contar o ocorrido a ninguém. Já esperava que ele fosse descumprir a promessa e imagino que está mulher seja uma yuki-onna, um ser que seduz homens, fazendo-os morrer em uma nevasca. Porém, esperava um final mais trágico.

O filho do trovão – Escrito por Willian Elliot Griffis. Já li esta história em outro livro. Se quiserem saber minha opinião sobre ela, seguem o link: Ponte para o Imaginário: A melancolia dos contos japoneses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

O gigante devorador de chamas – Escrito por Willian Elliot Griffis. Em Seul, vivia um enorme Espírito de Fogo, que adorava devorar tudo, principalmente o palácio do rei. Cansado de ter sua moradia queimada, o Rei chama várias pessoas para ajudá-lo  a resolver o problema. Este conto possui a famosa regra dos três,  mas ao invés do rei errar as duas primeiras e acertar só na última, há um processo de evolução, ou seja, ele erra na primeira tentativa, consegue um bom resultado na segunda e acerta na terceira.

O pardal da língua cortada – Escrito por Andrew Lang e David Brauns. Um idoso salvou um pardal de ser comido por um corvo. Desde então, o pardal passou a ser o bicho de estimação do homem. Mas sua esposa ranzinza se enfureceu, cortando a língua do pássaro e fazendo o animal partir. O homem procurou a ave por vários dias. Quando desistiu, acabou encontrando uma pequena casa na floresta de bambu, onde foi recebido por uma moça, que disse ser o pardal. Após passar horas na casa dela, a mulher lhe ofereceu duas arcas: uma grande e uma pequena e disse para o homem escolher. O típico conto que mostra que quem é ganancioso um dia sofrerá.

Momotaro – Escrito por Yei Theodora Ozaki e Sadanami Sanji. Enquanto lavava roupa, uma idosa viu um enorme pêssego sendo carregado pelo rio. A senhora o levou para casa para que ela e seu marido pudessem comê-lo. Mas quando iam cortar o pêssego, saiu uma criança dele, dizendo que foi enviado para o casal para ser o seu filho. Chamaram ele de Momotaro e criaram ele durante quinze anos, até o rapaz pedir para sair e enfrentar os terríveis oni. Essa uma lenda bastante popular no Japão. Este é o terceiro conto que leio deste país em que um casal de idosos é agraciado com um filho mágico.

Erlik Khan – Escrito por Rachel Harriete Busk. O khan faleceu, mas visitou sua segunda esposa e deu a dica de como ela e seu futuro herdeiro poderiam viver no palácio. Após cumprir o que lhe foi dito, a segunda esposa e a mãe do khan se tornaram as governantes e a mulher recebia o espírito de seu marido em todo décimo quinto dia do mês. Com saudades de seu homem, ele lhe dá as instruções de como retorná-lo a vida. Um dos poucos contos em que o protagonista obedece a tudo que lhe foi dito e, por não ter cometido nenhum deslize, não acontece nada de ruim. Isso deixou a história bem sem graça.

O tigre obediente – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Li este conto em outro livro sob o nome de O tigre arrependido de Zhaocheng. Se quiserem saber minha opinião sobre ele, seguem o link: Ponte para o Imaginário: Contos chineses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

Imperatriz Jokwa – Escrito por Yei Theodora Ozaki e Sadanami Sanji. Após a morte de seu irmão, Jokwa ascendeu ao trono, deixando o feiticeiro Kokai furioso, começando uma rebelião que acabou virando guerra. A imperatriz chama seus guerreiros Hako e Eiko para enfrentá-lo. História simples sem muitas reviravoltas

A chaleira – Escrito por Grace James. Um monge compra uma chaleira. Mas após pegar no sono, a chaleira se torna uma chaleira-texugo e começa a dançar,  assustando os noviços que foram verificar a sala do monge. Um daqueles contos que gentileza retribui gentileza. A chaleira lembra um yokai, ser mágico do folclore japonês, chamado tanuki.

A noiva do Rei Dragão – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. O Rei Dragão Lung Wang queria muito sair de seu palácio e conhecer o mundo, mas os conselheiros o impediam, dizendo que um rei não deve se colocar no mesmo nível de seus súditos. Um de seus sábios disse que para realizar seu desejo sem preocupá-los, deveria se casar e ter um herdeiro. Após a vinda de várias princesas e nenhuma agradá-lo, Lung Wang decide viajar mesmo assim, saindo de seu reino do mar e indo para a terra. Às vezes, o que procuramos está em lugares que nunca imaginamos.

Um noivo para a senhorita Toupeira – Escrito por Willian Elliot Griffis. Um casal de toupeiras teve uma filha cujo pai considerou ser a mais bela criatura que já existiu. Querendo apenas que o melhor se casasse com ela, o Pai Toupeira foi em busca de um noivo para sua filha. Este conto me lembrou uma versão mais curta da história da formiga que pedia ajuda para todos que eram mais fortes que ela para tirar o pedaço de neve de sua pata. Porém, este teve um final que volta ao começo.

Cem reis – Autor desconhecido. Há muitos anos atrás, vivia um rei chamado Sùng Lãm, que devido a mãe ser uma deusa da água, era muito afeiçoado pelo mar. Um dia, a princesa Âu Co, descendente das fadas da montanha foi visitar seu reino junto ao seu pai até serem atacados por um pássaro gigante. História que conta a origem do Vietnã.

Os pretendentes da princesa Vaga-Lumes – Escrito por Willian Elliot Griffis. Após ganhar sua própria luz, Hotaru, a princesa vaga-lumes, pôde sair de casa. Mas não conseguia escapar dos olhares de seus admiradores. Cansada deles, ela ofereceu uma tarefa impossível para aqueles que quisessem desposá-la: deveriam trazer fogo a ela. Um conto que explica o porquê dos insetos serem atraídos pela luz.

O pêssego mágico – Escrito por Willian Elliot Griffis. O príncipe de um reino foi convidado pela Rainha Mãe para visitar sua ilha das Pedras Preciosas. Desobedecendo a sua mãe,  o príncipe se apaixonou por uma criada e por outro lado, a própria criada desobedeceu as regras do local, aceitando o pêssego mágico do príncipe que só podia ser oferecido pela Rainha Mãe. História simples que mostra como o amor pode durar por anos.

A princesa Kuan Yin – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Apesar de ser a mais nova, Kuan Yin foi escolhida como a sucessora do reino e deveria se casar. Mas ela foge, dizendo que a voz do céus escolheu outro caminho e foi disfarçada até um convento. Apesar de terem deixado ela entrar, as monjas a aceitaram apenas como serva e a tratavam muito mal. Este conto mostra a origem da deusa budista Kannon e como a bondade pode ser recompensada.

Fogo Brilhante e Fogo Soturno – Escrito por Willian Elliot Griffis. A Deusa do Sol, mãe de Fogo Brilhante e Fogo Soturno, deu a eles um arco e uma vara de pescar respectivamente. Enquanto Fogo Brilhante, o mais novo, caçava vários bichos, Fogo Soturno, o mais velho, não teve a mesma sorte na pescaria. Ambos então decidem trocar de lugar, mas Fogo Brilhante acaba perdendo o anzol de seus irmão e este não o perdoaria até que o recuperasse. Outra história em que o irmão mais novo bonzinho supera o irmão mais velho malvado.

A história de Urashima Taro – Escrito por Grace James. Urashima Taro era um pescador bondoso. Ao ver uma tartaruga sendo maltratada por crianças, ele as pagou para deixá-la em paz e libertou o animal. No dia seguinte, ele foi pescar até que encontrou novamente a tartaruga. Como agradecimento por ter salvado sua vida, o réptil oferece levá-lo para conhecer Ryungu,o Palácio do Rei do Mar. Me lembrou As Crônicas de Nárnia, o leão, a feiticeira e o guarda-roupa, só que com um final trágico.

O peixe falante – Escrito por Norman Hinsdale Pitman. Esta história é bem parecida com o conto O homem que queria ser peixe, do livro Contos sobrenaturais chineses.  Se quiser saber minha opinião, acesse o link: Ponte para o Imaginário: Contos chineses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

A história do velho cortador de bambu – Escrito por Frederick Victor Dickens. Li este conto em um outro livro. Se quiserem saber minha opinião, seguem o link: Ponte para o Imaginário: A melancolia dos contos japoneses (ponteparaoimaginario.blogspot.com)

 

            Notei que em alguns contos, há referência da religião budista. Nos dois primeiros, existe um conflito entre o budismo e os seres de crenças antigas, vilanizando esta última. Há também a aparição de seres do folclore asiático como a kitsune (mulher raposa), o dragão oriental, o tanuki, o oni e a yuki-onna.

            É um bom livro para quem deseja conhecer a contos populares do leste asiático. Sobe no casco da tartaruga e navegue por esse livro. Mas tome cuidado para não encontrar um oni no caminho.

 


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