terça-feira, 15 de agosto de 2017

A ponte da floresta


                                Imagem tirada da internet

           
            Você já conhece a história da menina de capuz vermelho, não? Mas agora imagine que ao invés de vermelho fosse azul noturno e ao invés de ser seguida pelo lobo, ela segue uma moça de vestido negro com uma fita vermelha amarrada na cintura. O rumo da história seria completamente diferente. E assim o será.
            Estela foi caminhando para a casa de sua avó, que morava na floresta. Ela estava doente e como a mãe de Estela estava trabalhando, pediu a sua filha que fosse até a casa da avó e levasse os remédios e a comida para ela. A idosa tinha problemas respiratórios e eles apareciam com frequência quando estava na cidade. Por isso, escolheu fazer sua casa na floresta, onde o ar era mais puro. Ela se acostumou bem rápido, vivendo normalmente e até fazendo coisas que avós costumam fazer, como chamar os netos para passarem o dia na sua casa, contando histórias e fazendo roupas para eles. Foi ela que fez a capinha azul noturno para Estela. E a garota adorava aquela capa.
            A menina sabia o caminho de cor. Era a neta que mais a visitava e adorava o fazer em seus horários livres. No meio do caminho, viu um ninho de passarinho caído no chão. Decidiu colocá-lo na árvore, que era o seu lugar. Como era muito baixa para alcançar o galho, teve que escalá-la. Ela conseguiu, mas na hora de descer, deu uma escorregada e caiu de cabeça no chão. Para a sorte dela, ela ficou com apenas alguns machucados e podia voltar a trilha.
            Andando, viu uma visão incomum: uma mulher de vestido preto e com uma fita vermelha amarrada na cintura, estava caminhando segurando um bebê, em uma direção que Estela nunca havia tomado. Como nunca havia visto nenhuma pessoa por essa floresta, a não ser alguns caçadores e lenhadores, ela resolveu seguir a mulher desconhecida. Vovó não vai ficar preocupada se eu chegar alguns minutos atrasada. Pensou. Ela a seguiu escondida até ela ver uma ponte. A mulher cruzou a ponte com o bebê sem nenhum problema, mesmo ela sendo feita de terra e não ter nada que pudesse usar para se apoiar. Estela esperou um pouco antes de cruzar a ponte, e quando o fez, foi bem devagar, olhando cada passo que dava, notando que ela tinha uma vegetação que a dava um certo charme.
            Como enrolou muito para chegar ao outro lado, Estela perdeu a moça desconhecida de vista. Mas como havia acabado de cruzar, decidiu seguir em frente, para ver se encontrava algo de interessante. E encontrou. Ao continuar andando, encontrou uma cidade. Ninguém havia lhe contado sobre a existência da tal. Ela era bem bonita, e suas casas eram pintadas nas cores azul e rosa. Além disso, parecia que eles estavam em festa, pois havia gente fantasiada de caveira e várias barraquinhas com comida. Estela quis passear mais um pouco, até ver um rosto familiar:
            - Vovó?
            A senhorinha estava segurando uma máscara de caveira, mas estava usando o seu vestido caseiro, algo que se destacava no meio da gente de roupas espalhafatosas:
            - Minha estrelinha, o que você faz aqui?
            - Eu ia te visitar com a caixa de remédios e comida, até que eu vi uma moça de vestido preto e fita vermelha e a segui. Mas que bom encontrar a senhora aqui. Que cidade é essa?
            - Nem sei direito. Cheguei a pouco tempo.
            - E suas alergias?
            - Não sinto nenhuma aqui.
            - Que bom. Podemos dar uma volta?
            - Sim, minha querida. Vamos.
            Elas passearam em cada canto do lugar. Além de provar comidas que nunca tinha provado na vida, Estela as achou com um gosto inimaginável, que parecia não existir em nenhum outro local. A duas viram a parada das caveirinhas, que era bem parecida com o carnaval da sua cidade, mas todos usavam a mesma máscara. Havia tendas com vários jogos conhecidos e desconhecidos, nos quais Estela jogou até cansar. E totalmente gratuitos. Tudo na verdade era gratuito. Nessa cidade não havia o uso de moedas, o que deixou a menina encantada:
            - Poderíamos mudar todo mundo para cá. Aqui muito mais divertido que em casa. – disse ela para a avó.
            - Sim querida, um dia...
            A moça que Estela havia seguido apareceu na sua frente de repente. Estela nem vira de onde ela havia surgido, mas como havia um monte de gente no local, ela nem se incomodou com isso:
            - O que você faz aqui? – perguntou ela para Estela. – Você não pode ficar aqui.
            - Por que não?
            - Porque não é o momento. Venha, te deixarei no local onde você estava.
            - Mas e a vovó?
            Sua avó deu um abraço e um beijo carinhoso:
            - Tchau minha querida.
            - Você vai voltar para sua casa depois né vovó? Eu tenho que te entregar os remédios e...
            Não deu tempo dela falar mais nada, pois ela foi puxada pela moça de fita vermelha na cintura. Saíram pela floresta e passaram por aquela ponte. Foram rápidas. Estela nem precisou ser cuidadosa daquela vez, pois a mulher parecia ser acostumada a puxar alguém pela mão naquele lugar. A moça a deixou exatamente onde Estela tinha caído quando foi colocar o ninho na árvore. Então ela disse:
            - Agora, abra os olhos.

            Estela abriu os olhos. Estava deitada no local onde caíra, com os remédios todos espalhados pelo chão. Por sorte, a comida não se fora totalmente, tendo alguns pássaros comido o que caiu na grama. Estela se levantou toda dolorida e colheu os remédios, colocando-os de volta em sua cesta. Estela andou pelo caminho que havia seguido a moça, mas ao chegar no local onde havia a ponte, ela não estava lá, tendo apenas um abismo dividindo a floresta em duas partes. Foi apenas um sonho. Decidiu voltar para o seu curso de origem. Quando chegou na casa de sua avó, bateu na porta. Ninguém atendeu.

Um comentário:

  1. Linda homenagem!! A saudade será muito grande, assim como muito grandes serão as lembranças dos momentos de alegria.

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