sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 5

              Parte 5

            Passaram por várias barracas. Era dia de feira na cidade Ouro Branco e, como era de se esperar, estava lotada. Mas como estavam junto de um unicórnio, que obviamente ocupava mais espaço, as pessoas foram dando espaço para o grupo. E ainda paravam o que estavam fazendo para ver o robozinho, coisa que elas nunca haviam visto:
            - Se fosse em Prata Branca, ia ser o contrário. – sussurrou Lana, ciente da situação. – Bot, você obedeceu a ela quando me trouxe para cá?
            - Eu sempre obedeço a mestre Lana. Ela me disse para usar uma ave rubra para vir para cá e eu as acompanhei.
            - Como pode ter usado a ave rubra? Somos grandes e ela é...
            - A mestre jogou um pó e as encolheu.
            - Você gravou isso?
            - Minha memória sempre grava.
            - Ótimo. Depois eu vejo então. E escute, você foi programado para me obedecer e somente a mim. Não importa o quanto ela é parecida comigo. Entendeu? Grave isso na sua memória.
            - Gravado.
            - Estamos chegando. – avisou a outra Lana. – Escute, nós já temos a mesma aparência e ter o mesmo nome já é demais. Iria ficar confuso se continuar assim. Precisamos arrumar um outro nome para você enquanto estiver aqui.
            - Que tal o seu nome ao contrário? – sugeriu Rosemary.
            - Ana... Não, nem pensar.
            Rosemary deu uma risadinha, apesar de manter sua face imóvel. Andaram mais uns dez minutos até pararem em uma barraca colorida, cheia de panos bem desenhados e objetos estranhos, desde potes contendo uma criatura morta a bonecas vodu.  A outra Lana tocou um sino que estava pendurado na ripa de cima. Logo apareceu uma senhora gordinha de nariz de batata, usando lenço no cabelo e óculos arredondados e pequenos. Por algum motivo, ela lembrava Lana de alguém:
            - Bom dia, em que posso ajudar? Algumas de minhas mercadorias lhe agradou, ou será que gostaria de uma informação em troca de alguns réis? Ah, é você Lana e... Lana? Há duas de você?
            - Na verdade, essa daqui veio do céu. – disse Rosemary. – chama ela de A...
            - Alana. – disse a Lana do planeta Apollo, antes de Rosemary acabar a frase. – Me chame de Alana.
            - Lana e Alana. Parece nome de gêmeas. Mas você disse que ela veio do céu?
            - Eu preciso falar com você em privado. – falou Lana da cidade de Ouro Branco. – Um lugar onde “ele” não chame muito atenção.
             As pessoas da feira se agruparam em volta de Bot para examiná-lo, chegando a ponto de abusar do coitado, cutucando com varetas para ver sua reação. Mesmo “Alana” tendo-o colocado no colo desde metade da caminhada, elas ainda não haviam parado. A senhora da tenda abriu uma portinhola e fez sinal para que a seguissem. Para Rosemary entrar deu um belo trabalho, mas a senhora parecia estar acostumada com isso. Dentro da barraca, havia uma escada rumo ao subterrâneo, e foi para lá que eles foram. Lá embaixo seria do tamanho equivalente a uma pequena casa. Até tinha paredes de madeira que dividiam os cômodos da “residência”. Eles se sentaram no sofá da “sala”, enquanto a dona se acomodou numa cadeira. Ela pediu ao filho, que estava lavando a louça, para subir e cuidar da barraca lá em cima. Ofereceu bebida a todos, mas eles declinaram gentilmente:
            - Então, o que vocês querem com a velha Edir que é de tamanha importância?
            - Dona Edir, essa moça que tem aparência igual a minha, veio de um reino lá de cima, que é todo cinza e esquisito, com seres iguais a este homenzinho de prata aqui.
            - Ele é um robô.
            - Que seja! Ela disse que o Igneus vai entrar em erupção daqui há algumas semanas.
            - Precisamente, duas semanas, daqui a... – começou Bot, antes de ser interrompido.
            - Precisamos de informações de como pará-lo e impedir que destrua nossas casas.
            - Você acha mesmo que ela vai acreditar no que você disse?
            Lana tirou da bolsa a ave rubra e colocou na mesa:
            - Isso foi o que ela usou para espionar as nossas terras, ou planeta como ela chama.
            Dona Edir pegou o objeto e mexeu com curiosidade:
            - Jamais vi algo assim, e muito menos um homenzinho de metal falante. Vou confiar em sua palavra.
            - Como vocês pretendem parar um vulcão? Não existe essa possibilidade. É mais fácil evacuar a cidade antes que aconteça e os desavisados poderiam se esconder aqui no subsolo.
            - Não iria caber muita gente aqui e o pessoal daqui é teimoso, minha querida, iriam preferir morrer com sua terra do que vê-la ser destruída. Tenho uma ideia do que vocês possam fazer. Mas isso lhes custará caro.
            - Você mora aqui, não mora? Por que está cobrando para salvar sua terra?
            - Não nasci aqui e saio de dois em dois meses para vender minhas mercadorias. Não tenho apego a nenhuma terra.
            Lana tirou um saco de moedas e colocou na mesa. A velha o abriu e foi contando calmamente. Acabando de contar as cento e cinquenta moedas de cor dourada, ela deu um sorriso, revelando dois dentes dessa mesma cor no lugar de seus caninos:
            - Bem, isso com certeza vai dar. Bom, Lana, você sabe que quando acontece ou está para acontecer um desastre desses é porque um deus está zangado com algo ou alguém.
            - A senhora está me dizendo que acredita em deuses que controlam a natureza?
            - Não só acredito, minha querida Alana, como já vi alguns com meus próprios olhos e com um pouco de magia em pó, é claro.
            - Nunca ouvi tanta bobagem. – disse Alana em voz baixa para si mesma, depois aumentou o tom para todos ouvirem. – O que a ave rubra detectou foi que aqui é uma zona em que duas placas tectônicas que estão em movimento e...
            - Quanta bobagem, minha querida. O povo de cima, pelo jeito, não sabe de nada daqui debaixo, mesmo com essa ave mágica que vocês têm.
            - Não é mágica. É feita com tecnologia avançada.
            - Voltando ao assunto, Lana, você conhece a história de Lacus e Igneus, não conhece?
            - Claro, minha mãe vivia me contando essa história na hora de dormir. Quando Igneus brigou com os céus, ele decidiu se vingar, jorrando lava tanto para a moradia divina quanto para a nossa. Mas Lacus, filha de Tálassa, junto com seus irmãos e irmãs, trouxeram uma grande chuva que fez a lava esfriar e fechar o vulcão, prendendo Igneus lá dentro. Para vigiar Igneus, Lacus criou a nossa Lagoa da Estrela Caída e fez dela sua moradia.
            - Por que Lagoa da Estrela Caída?
            - Isso é outra história. Rosemary pode te contar depois.
            - Se eu estiver a fim.
            - Na minha região também tem uma lagoa. Só que tem outro nome. E obviamente não foi assim que ela surgiu.
            - O lugar onde você mora parece ser chato. – comentou Rosemary. – Não me impressiona de vocês quererem dar uma espiada no nosso.
            - Bem, você conhece a lenda. E pela lenda, sabe que tem que ir até Lacus. Mas não será fácil. Há guardiões que protegem a sua moradia. E é claro, precisaria de um equipamento adequado.
            Edir fez sinal com a mão, dando um sorrisinho. Lana passou outro saco de moedas, de má vontade.  


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