sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 8

            Parte 8

            Lana pegou um barco em miniatura de sua bolsa e colocou próximo a água:
            - Deixa eu adivinhar. – disse Alana para ela em tom sarcástico. – Você vai usar um pó mágico para aumentar esse barco de tamanho?
            - Como você sabe?
            - Ou a magia desse mundo está me contaminando ou você que está se tornando previsível.
            - Acredito que seja pela mestre estar se acostumando com esse mundo.
            - Bot, você está aprendendo alguma coisa aqui?
            - Tanto como você, mestre.
            - Que bom. Daqui a pouco eu te ensino o significado de sarcasmo.
            - Eu já sei o significado disso. Só preciso aprender quando é usado.
            Então, Lana fez exatamente o que Alana havia dito. Pegou um potinho com um pó verde escuro e jogou no barco, aumentando de tamanho. Ela entrou no barco e chamou o resto do grupo. Rosemary foi a segunda a entrar. A cena fez Alana esconder o riso. Lana fez sinal para ela e Bot também subirem. Mas o barco não parecia que ia aguentar, pois o lado de Rosemary estava quase afundando:
            - Tem certeza que o barco vai aguentar todo mundo? – perguntou Alana. – Acho melhor eu ficar aqui com o Bot. Ele não pode se molhar muito.
            - Ele aguenta sim. É só você e Bot sentarem do meu lado que fica tudo equilibrado.
            - Vocês são muito fraquinhos. Precisam engordar mais.
            Alana foi receosa para o barco. Carregava Bot no colo e evitando o máximo possível que ele não encostasse na água. Para a sorte dele e de seu robô, o que Lana disse aconteceu. Logo que sentaram, o barco se equilibrou. Lana passou dois remos para Alana:
            - Você vai me ajudar a remar até a flor.
            - O certo não seria uma pessoa de cada lado remar? E além disso, não sei como se faz isso.
            - Se não percebeu ainda, eu não tenho essas minhocas nas patas. E como é que você pode não saber remar? Todos os humanos sabem.
            - Ela não é daqui, Rosemary. Esqueceu?
            - Eu posso ajudar. Sou programado para fazer várias tarefas.
            - Então tá. Vamos começar, pequenino.
            Para a surpresa de Lana, Bot não só remava bem, mas remava em uma velocidade alta. Não demorou nem cinco minutos para o grupo chegar até o meio da lagoa. E no meio dela, havia uma folha grande, similar àquelas que os sapos pulam. E em cima dela, uma flor grande e amarela. Sua forma lembrava o de uma estrela, o que Alana pressupôs que foi dela que veio o nome de Lagoa da Estrela Caída, e assim, o povo inventou aquela história:
            - O que planeja fazer agora?
            - Parece que eu não sou tão previsível assim, não é? Para se comunicar com um deus, precisa de uma oferenda de acordo com o que você deseja pedir. Você nunca fez isso?
            - Deuses não existem onde eu vivo. Pelo menos, nunca foi comprovado que existiam. Aposto como isso não vai dar em nada.
            Lana pegou um saco escrito “Aguapé” na bolsa. Alana estava impressionada com o quanto de coisa cabia naquela bolsa. Era esse saquinho que fazia parte do “equipamento adequado” que Lana havia comprado de dona Edir, junto com o barquinho e o pó para aumentá-lo. A semente do sono era da própria Lana. Alana estava curiosa para ver o que tinha no saco. Como se adivinhasse os seus pensamentos e por também ter curiosidade, Lana abriu o saco. Eram várias sementes:
            - Sementes? Vai oferecer sementes para a deusa?! Não sou especialista nisso, mas não acho que ela atenderia um pedido como salvar uma cidade em troca de sementes. Isso se ela realmente existir.
            - Também acho esquisito. Mas dona Edir conhece bem o que os deuses gostam, então eu confio nela.
            - Eu não. – disse Rosemary. – Já falei para você que desde que era pequena, essa mulher já havia metido muitas pessoas em enrascadas com as vendas que fazia. Mas você não me escuta.
            - Se não der certo, tentaremos outro jeito. Vamos logo com isso.
            Ela experimentou ver se a folha aguentava o peso do saco. Quando viu que sim, deixou o saco em cima da folha e disse:
            - Grande Deusa Lacus. Eu lhe ofereço este tributo como presente a vossa senhoria. Por favor, me ajude com o meu apelo.
            Passaram-se dez minutos e nada aconteceu. O grupo ficava se olhando e olhando a paisagem até que Alana quebrou o gelo:
            - Olha, parece que a sua deusa não vai aparecer ou como eu disse antes, ela não existe!
            - Será que eu não fui educada o bastante na hora que eu falei?
            - Eu acho que você foi bastante educada, Lana. Ela não quer aparecer pois deve se achar. Até seres especiais como eu aparecem para os humanos, então por que ela, que é cultuada, não aparece? Que metida!
            - Quer saber de uma coisa? Não vou deixar que minha vinda aqui tenha sido à toa. Tem um espécime de flor bem interessante aqui na nossa frente, e ter uma amostra dele, não seria nada mal. Bot, pegue uma pétala dessa flor, por favor.
             Antes que as outras duas pudessem dizer alguma coisa, Bot largou os remos no barco e esticou o seu braço para a flor de estrela. Mal encostou e a lagoa se mexeu, quase os derrubando do barco. Isso fez as moças molharem toda a parte de cima. Bot quase não se molhou porque Alana foi rápida na hora de desviá-lo. Algo surgiu entre eles e a flor amarela. Parecia ser uma mulher enorme, mas era toda feita da água da lagoa. Como o seu corpo era transparente, dava para ver que atrás dela, algo saiu de dentro da flor. Parecia ser uma mulher verde, do tamanho da palma de uma pessoa. As duas figuras encararam o grupo, antes da grande dizer:
            - Quem encostou na Flor Estrela?!
            - Desculpe a ousadia de meus “amigos”, minha deusa. – disse Lana, dando uma olhada rápida para Alana e Bot, que parecia dizer Olha a confusão que vocês causaram! – Mas a gente precisa de um pedido urgente para a senhora.
            - Sim. – continuou Rosemary. – Trouxemos até sementes como presente.
            Houve um silêncio. Lacus e Flos olhavam o estranho grupo. Irmãs gêmeas, um esquisito anão prateado e um unicórnio todos sentados em um barco, que não eram nem dos melhores. Elas deram um sorrisinho, como se quisesse evitar de cair na gargalhada. Aproveitando esta oportunidade, Alana cochichou para Bot tirar foto dos dois seres e salvar em seus arquivos. Flos mexeu para o saco de sementes em cima da folha aquática antes de tomar a palavra:
            - Poderei usar essas sementes de aguapé nas próximas primaveras. Estava ansiosa para mudar a aparência da lagoa. Muito obrigada.
            - O que vocês vieram pedir?
            - Bem, minhas deusas, viemos pedir ajuda para impedir um novo ataque do deus Igneus a nossa cidade.
            - E como vocês podem saber que ele irá atacar? Nem nós temos o poder de prever o futuro. Tiveram alguém para espiá-lo?
            - Não. A senhora pode não acreditar, mas esses dois aqui do meu lado vieram do mundo lá de cima.
            - Das nuvens?
            - Não, mais em cima das nuvens. Eu escalei a Caelesti até o final e vi que ela dava em lugar além das nuvens. Um lugar bem parecido com esse, só que ao mesmo tempo diferente. Com seres parecidos com esse. – disse Lana, apontando para Bot. – E por algum motivo, essa moça tem a mesma aparência que eu. E foram eles que previram o ataque.
            - E como fizeram isso?
           - Bem, não foi exatamente nós que fizemos isso, mas alguém que trabalha na minha faculdade. Essa pessoa nos mostrou como analisar os tremores de sua terra com algumas máquinas e viu que havia vários tremores perto do antigo vulcão. E parecem aumentar a cada dia, não só os tremores, mas também a área. Daqui a duas semanas, os tremores devem chegar aqui, e depois o vulcão entrará em erupção. Ou pelo menos, é o que achamos. É muito raro de elas se enganarem.
            Lacus a olhou em silêncio por um momento. Se virou para Flos e perguntou:
            - Você acredita nessa mortal?
           - Acho que alguém que venha até aqui e enfrente o Mboi Tu’i só para falar com a gente, e ainda por cima dar sementes para enfeitar o nosso lar, é alguém que podemos dar nosso voto de confiança.
            - Também acho possível acontecer o que ela disse. Estamos na época mais quente do ano, em que eu e os outros deuses aquáticos estamos fracos. Nossa batalha foi a séculos atrás, então ele já deve estar recuperando as suas forças. Um plano bem esperto. Principalmente vindo dele.
            - É, eu achava que ele fosse muito cabeça quente para pensar em um plano bom.
            As duas deram risadas. Por um momento, pareceram até humanas, e não entidades veneradas. Quando pararam, Lacus se voltou para o quarteto:
            - Bom, vejo que vocês estão com um unicórnio. Quantos anos você tem?
            - Cem.
            - É muito jovem. Mas me diga, você domina o poder da cura?
            - Claro, já curei minha companheira muitas vezes nas enrascadas que ela se metia.
            - Rosemary...
            - Você sabe qual é um dos elementos mais usados para a cura?
            - Magia?
            - Não querida, tente de novo. É uma fonte essencial da vida.
            Lacus fez miniondas na lagoa para dar a pista final:
            - Água?
            - Isso. Se os unicórnios têm o poder da cura, eles podem naturalmente ter um certo controle sobre a água. Mas é claro, que eles demoram anos para aperfeiçoar. E você ainda é muito jovem para tal ato. Não tem nenhum unicórnio mais velho por essas redondezas?
            - Por aqui eu só conheço ela. – respondeu Lana. – Os outros estão espalhados por cidades mais distantes.
            - Eu consigo. Ainda temos duas semanas. Um unicórnio já pode fazer muita coisa, ainda mais se estiver determinado. Não irei desistir até conseguir.
            - Esse é o espírito! – disse Flos animada.
            - Mas uma dica não seria nada mal.
            - Se concentre perto de um lugar com água, nem que seja apenas gotas, e tente movimentá-los com o seu chifre.
            - As senhoras irão nos ajudar? – perguntou Lana.
- Infelizmente, vocês terão que enfrentar Igneus sozinhos. Está é uma época do ano que não temos muitas forças devido ao tempo. E é melhor que vá apenas o seu grupo. Mas lhes darei uma coisa para ajudar no combate.
Um jato d’água vindo do fundo da lagoa surgiu do lado da mulher gigante. Com ele, veio uma pequena caixa arredondada, que a deusa pegou e entregou para Lana:
- Aqui dentro tem uma nuvem de chuva que dura apenas dez minutos. Mas jorra bastante água. Use com cuidado.
- Eu também tenho algo para dar.
Do centro da Flor Estrela surgiu um pedúnculo, que foi crescendo até o barco. Ao chegar perto de Alana, uma flor desabrochou, e dela caiu uma semente, que a jovem pegou com cuidado, com Bot no seu colo:
- Jogue essa semente em Igneus quando ele estiver mais frio. Boa sorte.
Dizendo isso, Flos segurou o pedúnculo que foi decrescendo de volta para a Flor Estrela. Lacus acenou com a cabeça como modo de se despedir e desfez seu corpo em pura água. Mas fez isso com tanta força, que formou uma onda. Esta jogou o barco de volta para a margem. E novamente, Alana teve que desviar Bot da água, com um dos punhos fechados para a semente não cair:
- Olha Bot, quando houver casos assim, você voa. Entendeu?
- Sim mestre.


domingo, 24 de setembro de 2017

Link para adquirir A pena mágica e outros contos

                            



          Para quem não pôde ir ao lançamento no dia 23 de setembro, este é o link para comprar A pena mágica e outros contos:
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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 7

              Parte 7

            Era um bicho escamoso, de mais ou menos uns vinte metros. Apesar de ter um corpo de serpente, seu rosto possuía um bico de papagaio. Mas não deixava de ser assustador, pois ainda havia presas enormes em sua boca e uma língua grande e bifurcada, vermelha como o sangue e as penas de seu rosto. Além de fazer um som estridente e aterrorizante. Foi isso que Alana viu através da câmera da ave rubra, enquanto tentava esquivá-la de sua bocarra com o controle. Conseguiu aterrissar perto de si e não vendo mais perigo, o Mboi Tu’i voltou para o fundo da lagoa:
            - Eu não acredito!
            - Então, você finalmente acredita que existe um guardião na lagoa? – perguntou Lana.
            - Não, claro que não. Eu não acredito que eu vi um elo perdido. Um réptil que possui penas e bico. Igualzinho aos dinossauros. Esse mundo é realmente muito interessante.
              - Aff...
            - Então, já vimos que ele é um ser enorme e perigoso. O que vocês pretendem fazer? Lutar corpo a corpo?
            - Claro que não! – disse Rosemary. – Somos do tipo que andamos nas sombras.
            - Não querendo ofender, mas não acredito que alguém que ande com um unicórnio seja bom em ser esconder.
            - Não duvide de mim. Tenho habilidades muito boas que só não te mostrarei agora porque não há necessidade.
            - Bom, de acordo com as histórias que contam, a única coisa que o Mboi Tu’i deixou passar pela lagoa foi uma estrela que caiu e que ilumina o meio do lago até hoje.
            - Dá para ver que tem uma iluminação lá no meio de dia e de noite fica mais iluminada.
            - Deve ter alguma explicação lógica para isso. Eu só não sei qual. Bot, me mostre a gravação agora a pouco.
            As imagens gravadas pela ave de metal foram mostradas novamente. Primeiro a lagoa calma, depois algo se mexendo na água e perto do centro iluminado, algo parecido com uma flor amarela. Alana pausou o vídeo:
            - Vocês estão vendo isso?
            - Parece uma flor. – disse Lana. – Nunca tinha notado isso. Mesmo tendo visitado esse lugar várias vezes. Só prestava atenção na luz que vinha debaixo d’agua.
           - Tenho que admitir que apesar de parecer chato, a sua casa tem coisas muito úteis. – comentou Rosemary, se referindo a Bot e a ave rubra.
            - Vocês sabem se esse bicho tem algum apego àquela flor?
            - Bem, ele protege a lagoa de qualquer ser que ouse passar. Mas como eu disse antes, ele não fez nada quando a estrela caiu nela. Pelo que me contaram, a estrela foi um meio de transporte usado pela deusa Flos, uma das deusas encarregadas das flores da primavera, para chegar a lagoa e morar com Lacus. Toda a primavera, a lagoa se enche dessas flores aquáticas.
            - Mas isso só acontece na primavera. – continuou Rosemary. – E não está na época de elas surgirem. Será que aquela ali é permanente.
            - Então, de acordo com o que vocês estão dizendo, ele deixou essa Flos entrar na lagoa. E ainda deixa ela cultivar flores na primavera. Isso parece meio bobo, mas será que ele não gosta do cheiro das flores?
            Lana e Rosemary olharam uma para a outra. Nunca que cogitariam essa possibilidade. Por mais boba que fosse, não custava tentar:
            - Rosemary, vá procurar por flores bem cheirosas enquanto eu preparo o pó do sono.
            - Já vou indo.
            Rosemary desapareceu floresta a dentro. Lana pegou uma pequena tigela de madeira com um pilão e um tipo esquisito de semente com uma coloração azulada que Alana nunca havia visto. Colou a semente na tigela e foi batendo com o pilão até virar pó. Alana se aproximou com curiosidade:
            - Não chegue muito perto. Uma cheirada e você dorme o dia inteiro.
            Demorou uns quinze minutos até Rosemary chegar com uma flor grande e roxa na boca. Ela deu a flor para Lana e começou a falar:
            - Não sabe como foi difícil achar essa flor. Estamos no verão. Não é a época do ano que sai muita flor.
            - Sim. Valeu pelo esforço. Se tudo der certo, farei questão de contar a Alcateia.
            - Mal posso esperar pela recompensa.
            - Pode me emprestar sua ave?
            - Eu tenho escolha?
            Alana entregou a ave rubra para a moça, que parecia o reflexo de si, só que mais determinada. Lana prendeu a respiração e colocou o pó da semente na flor. Depois, pegou uma fita e amarrou a planta bem amarrada na pata da falsa fênix. Olhou para Alana. Não precisou dizer nada que a outra Lana pegou o controle conectado a Bot e fez o pássaro voar até o meio da lagoa. Não demorou muito para o Mboi Tu’i aparecer e Alana ter que desviar a ave para esta não se molhar. O guardião ia atacar, mas logo parou ao avistar a flor roxa. Ele a olhou calmamente, chegando mais perto. Mal o seu bico encostou nela e ele ficou zonzo. Não demorou muito para ele fechar os olhos espalhar água para todos os lados. Até mesmo dormindo ele era assustador. Foi o que Alana digitou depois de pousar a ave rubra em segurança.




sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mistério e terror brasileiros



            Depois de muito tempo analisando livros de autores gringos, decidi finalmente pegar um autor brasileiro. Pelo que diz na minibiografia do livro, Renan Cardozo é graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Santa Catarina. Ele é descendente de italianos que imigraram para o litoral catarinense e usou essa sua vivência histórica e geográfica do local que foi criado como inspiração para os seus contos.
O livro é bem fino, não contendo sumário nem ilustrações e apenas seis contos, variando de tamanho cada um. Achei que trinta reais fossem caro para comprar um livro de aparência tão simples. Vou analisar o conteúdo de cada conto um por um a partir de agora.
            Das profundezas – Um filho conta o que encontrou no relatório de seu falecido pai, que havia ido para o sul de Santa Catarina como consultor para resolver o problema que uma mina havia causado no comportamento dos animais da região, o que levou à morte de uma menina. Pequeno e simples, mas efetivo no quesito de mistério e terror. Eu diria que é uma mistura dos contos de H.P. Lovecraft, que no próprio livro diz que o autor se inspirou, e Allan Poe, que tem vários contos com finais abertos e mistérios não resolvidos.
          Carta para Sara – Um amigo de Thiago envia uma carta a mulher dele, Sara, dando os pêsames e explicando o que aconteceu em seu tratamento. Esse conto mistura cartas com relatórios médicos e em um caso, áudio gravado. Essas três coisas sozinhas já podem dar uma história de terror. O final é surpreendente.
           Fragata – Em uma cidade pesqueira perto de um farol, se encontra uma carcaça antiga de uma embarcação espanhola, e dentro dela acharam uma pedra misteriosa. Mal a encontraram e ela já foi roubada do hotel onde os pesquisadores estavam hospedados. Na mesma semana, ocorre a morte de uma bióloga por uma criatura misteriosa vinda da água. Então, o narrador personagem, com o conhecimento de fauna é chamado para investigar. Os relatos acima parecem não se relacionar e se espera que esse conto te dê uma resposta, mas não é o que acontece. A partir daí, só há mais mistérios sem solução. Típico de um suspense com terror, mas é isso que atrai aqueles que gostam desse gênero.
        Observatório – Uma pessoa envia uma carta para seu amigo, contando que ao se mudar, encontrou uma caixa com um diário, relatando algo esquisito. Mistura, como diz no resumo, carta pessoal e diário. Provavelmente é intencional do autor que nesse conto e no anterior, existe menção do ser Mboi Tu’i antes do que tem o seu nome como título. Só que ao contrário de Fragata, que o narrador apenas a menciona rapidamente, aqui é dito um pouco mais do ser. E novamente, acaba com um final sem quase nenhuma resposta.
            Natalia –  O narrador personagem descreve a casa de Natalia em detalhes, falando com ela como se ainda estivesse viva. O menor dos contos, contendo apenas duas páginas. Nada de sobrenatural, eu diria que estava mais para o gênero policial. Final interessante.
            Mboi Tu’i vive – Outro narrador personagem é chamado pelos avós para ver relatos de seu tataravô, que investigava sobre um sujeito chamado Jonas Barros e sua possível relação com um ritual indígena. O maior de todos os contos, se dividindo em quatro partes. Admito que não sei se este texto pode ser considerado ou não um conto por ser dividido em partes, e não em um único bloco. Esperava por ler este conto exatamente pelo ser da mitologia guarani, Mboi Tu’i. Encontrei este livro por causa dele, quando estava procurando algo que fosse da “mitologia brasileira”, que não fosse Saci, Curupira e outros seres bastante conhecidos em nosso folclore, por achar eles demasiado infantilizados, para ter inspiração.  A aparência de Mboi Tu’i é um pouco diferente de como eu vi descrita na internet. Aqui ele tem olhos amarelos e cabeça de águia e na internet ele tem bico de papagaio e língua bifurcada e, apesar de ser assim, ele é considerado protetor dos pântanos, e não um ser maligno. Mas as duas mantiveram o corpo de serpente. Acho que ele fez essa mudança porque vamos admitir, uma serpente com cara de papagaio não é assustadora e dá até vontade de rir. Com exceção de algumas ilustrações, foram poucas que não me deram essa sensação. Voltando para o conto, ele me revelou uma coisa: que praticamente todos os contos, se não todos, estão relacionados entre si. Heinz Mueller, autor de um livro que aparece no conto Observatório aparece como pesquisador naturalista neste e, algo que só percebi lendo este conto foi que a família que aparece em Carta para Sara tem esse mesmo sobrenome. A pedra negra misteriosa que aparece aqui tem a possibilidade (quase certeza) de ser a mesma ou do mesmo tipo que aparece em Fragata e Observatório. Ele também tem relação com Natalia e, possivelmente Das profundezas.
            Adorei o que o autor fez de relacionar os contos entre si. É uma coisa que eu também gosto de fazer, pois assim eles poderão ser lidos como entidades separadas, mas se lidos juntos e, no caso desse livro, em ordem, nos entrega uma história mais completa. Recomendo àqueles que gostem de suspense e terror, ao estilo dos autores Allan Poe e H.P. Lovecraft. Aproveitem, pois Mboi Tu’i ainda vive.

OBSERVAÇÃO: Fiz a leitura desse livro após ter escrito Apollo e Diana: O encontro, então nada de comparações entre o meu Mboi Tu’i e o de Renan Cardozo.


sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 6

              Parte 6
           
            Antes de seguir, o grupo passou na casa de Lana que fez Alana trocar de roupa e colocar uma vestimenta em Bot, pois ambos chamavam muito atenção. A roupa que Alana vestiu era igual à de Lana, fazendo-as serem diferenciadas apenas pelos pequenos brincos de prata que Alana usava. Estavam mais gêmeas do que nunca. Lana tinha roupas pequenas, que de acordo com ela, era de um gnomo que passou um tempo em sua casa e as esqueceu. A camisa tinha até um zíper atrás, que permitia Alana de abrir e digitar os acontecimentos. “Não só eles têm geladeira, mas zíper também. Eles são mais evoluídos do que a gente pensa.”  Foi uma das coisas que ela digitou.
            Depois de separarem comida para a viagem, Lana, Alana e Bot foram em direção à Lagoa da Estrela Caída, montados em Rosemary, que os carregava como se não tivesse nada nas costas:
            - Finalmente uma aventura! – disse Lana excitada. – Faz tempo que a gente não entra em uma.
            - Sim, e dessa vez eu posso ir contigo, ao invés de me deixar sozinha te esperando enquanto você escalava aquela árvore.
            - Seria mais fácil se você se tornasse humana e pudesse escalar junto comigo. Até te ofereci comprar uma poção cara para isso, mas você recusou.
            - Eu? Me tornar humana e ter cinco minhocas em minhas patas? Nem pensar! Além disso, já estou acostumada com você me abandonando pelas suas escaladas.
            - Como você ganha dinheiro aqui nesse mundo?
            - Eu trabalho para o grupo Alcateia. Eles nos treinam e nos mandam para missões específicas, como descobrir um objeto mágico ou uma criatura nova. Aumentando de posição, as missões ficam mais difíceis, mas se ganha mais dinheiro. Eu estou na posição Alpha, que é a posição mais alta.
            - Tipo um videogame de RPG medieval.
            - Tipo o quê?
            - Nada, ia ser muito complicado te explicar.
            - É um jogo que pode ser jogado tanto em tabuleiro quanto em um meio tecnológico, como em computador, celular, plataforma específica para o jogo e em robôs de última geração, como eu. Em...
            - Me mostra o jogo, Bot.
            - Eu também quero ver.
            - Não, ninguém vai acessar minha conta. Demorei um tempão para chegar naquela fase, e não vou deixar que vocês estraguem.
            - Fase?
            - Podemos parar para comer? – perguntou Alana, mudando de assunto.
            - Não precisa, já estamos chegando.
            Rosemary parou perto, mas não tanto, de uma lagoa, que parecia brilhar em seu centro. Lana guardou o mapa na bolsa e desceu de sua amiga unicórnio, ajudando os outros dois passageiros logo depois:
            - Aqui é o máximo que podemos chegar. Se nos aproximarmos mais, o Mboi Tu’i irá nos atacar.
            - Mboi o que?
            - Mboi Tu’i, o guardião da lagoa. Todos os que ousaram nadar na Lagoa da Estrela Caída jamais voltaram. Por isso, precisamos estar bem preparadas.
            - E você acha que consegue passar por esse guardião, algo que outros não conseguiram? Isso se ele existir mesmo.
            - Lana e eu já enfrentamos cada coisa grande e mágica, você acha mesmo que temos medo disso? Somos profissionais.
            - Sim. Somos Alpha. Agora, antes de agirmos, precisamos ver o tamanho dele. Precisamos de uma isca.
            Ela olhou para Bot com um certo interesse, mas Alana logo a cortou:
            - Não, vocês não vão colocar o Bot nisso.
            - Agradeço a preocupação mestre...
            - Ele é caro. Não terei dinheiro para pagar pela perda se ele se quebrar. Mas por outro lado...
            Alana abriu a bolsa que havia pegado emprestada de Lana, e dela tirou a ave rubra:
            - Bot, ligue os controles e a câmera da ave rubra. Se realmente tiver alguma coisa, terei algo para provar.
            - Sim, mestre.

            Os olhos de Bot brilharam e mudaram de amarelos para azuis. Alana abriu o zíper das costas de Bot, e delas saiu um controle. Tirou o gorro, e detrás da cabeça apareceu a lagoa sendo filmada. Lana e Rosemary olharam com curiosidade. A câmera estava nos olhos do pássaro falso. Alana clicou em vários botões e fez a ave bater as asas, que ao contrário do resto, não eram feitas de metal, e sim de um material leve, mas tão forte e resistente quanto o metal do resto do corpo. Ela foi voando em direção a lagoa. Quando chegou perto do meio, Alana teve que desviar, pois algo grande havia surgido, espalhando água para os lados.