sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2017



         Este ano, o ganhador do prêmio foi Kazuo Ishiguro. Ele nasceu no Japão, mas foi para a Inglaterra aos seis anos de idade. Escreveu obras como Os vestígios do dia (1989), que conta a história de um mordomo que trabalhou durante anos na mansão de um lorde. Quando sai em viagem, relembra os momentos de trajetória de seu ex-patrão, que simpatizava com o nazismo, assim como suas próprias paixões. Esse livro tem uma versão cinematográfica de 1993. Quando éramos órfãos (2000), que conta a história de um garoto inglês nascido em Xangai, que vai à procura de respostas para o sumiço de seus pais, que desapareceram quando tinha nove anos. Não me abandone jamais (2005), ficção científica em que a personagem Kathy relembra os anos em que viveu em um orfanato em que todos os alunos eram clones, produzidos como peças de reposição. Essa história também foi para os cinemas em 2010. Seu romance mais recente foi O gigante enterrado (2015), que se aproxima mais da fantasia.
            Dá para ver pelos resumos que suas histórias variam e ele não é um autor de um só tema, o que eu acho raro. Pretendo ler O gigante enterrado e fazer uma resenha para o blog. Deve demorar um pouco, pois a fila de livros que tenho para ler é grande. Mas prometo que ela virá. Se eu gostar, devo dar uma olhada no Não me abandone jamais, pois me parece interessante, apesar de não ser do estilo fantasia que eu tanto adoro. É bom variar de vez em quando.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 10

Parte 10

            Estavam pensando em um jeito para ir em direção ao vulcão sem precisar dar a volta. Mas se fossem cavalgando em Rosemary em linha reta da cidade para a floresta depois da floresta para o vulcão, não ia ser nada confortável, além de ter o risco de ela tropeçar e todos caírem, podendo se machucar feio. Foi então que Alana perguntou:
            - Você ainda tem o pozinho de encolher que você disse que usou para nos trazer aqui no seu mundo?
            - Tenho sim, por quê?
        Olhando para sua cópia, Lana entendeu qual era o plano. Rosemary olhava para as duas, confusa. Alana colocou Bot na grama e disse:
        - Bot, se prepare para nos levar até o vulcão com cuidado. E, se possível, nos segure com delicadeza.
            - Sim mestre.
            - Espere, o que vocês pretendem fazer?
          Sem explicar, Lana pegou o pó de encolher e jogou em Alana e Rosemary depois em si mesma. As três encolheram e se Bot não as tivesse agarrado com suas mãos pequenas, que no momento pareciam enormes para o trio, teriam se quebrado no chão:
            - Eu não permiti isso!
            - É necessário, Rosemary. Agora, vamos em direção a Montanha Vermelha.
            - Para que lado devo ir mestre?
            - Para que lado ele deve ir?
            - Vai em direção a floresta e siga em frente. – respondeu Lana, olhando o mapa.
            - O que ela disse Bot, vá em frente.
            Bot fez um barulhinho e seus pés começaram a lançar fogo. Asas de metal saíram de seus braços e mãos e lançou voo. Passou rapidamente pela cidade, mas como a floresta era grande, demorou mais ou menos uma hora até as árvores diminuírem de quantidade, tendo plantas rasteiras como paisagem dominante. Estava indo tão rápido, que as moças pediram para que ele desse umas paradas, pois estavam ficando enjoadas ou por estar na hora de comer. Mesmo indo nessa velocidade, demoraram um dia e meio para chegar perto do destino. Alana pôde ver uma montanha em frente, que era vermelha nas dos lados e verde na ponta. Descobriu depois o porquê. O entorno da montanha estava cercado de flores, vermelhas como sangue. Por algum motivo, não parecia estar tremendo aquela parte. Então aproveitaram para aterrissar. Bot as colocou em cima de uma das flores, a pedido de Alana. Esta notou que a energia de Bot estava acabando e, estando de noite, ele não podia recarregar:
            - Agora, vamos ter que ir a pé. Não falta muito para a bateria de Bot acabar. Precisamos poupar a energia dele o quanto puder. Tem como você nos reverter ao tamanho normal?
            - Eu tenho o pó da reversão.
            Dizendo isso, Lana pegou outro saquinho de pó e jogou o pouco que parecia ter no trio. As três logo recuperaram o seu tamanho normal:
            - O pó de reversão acabou. Não podemos mais ficar pequenas, senão ficaremos daquele tamanho por um bom tempo. Isso se não morrermos comidas por um pássaro.
            Alana colocou Bot em seu colo e apertou um lugar abaixo do seu pescoço. O bichinho logo apagou as luzinhas de seus olhos e parou de se mexer completamente. Lana pegou um outro mapa, específico do vulcão, e foi guiando o grupo na frente. O antigo vulcão era muito alto e largo, parecendo ser todo fechado:
            - Como vocês pretendem encontrar esse deus?
            - A Montanha Vermelha, ou Igneus está fechada há séculos, evitando que o deus escapasse. Havia dois meios de entrar. Um era pela cratera e o outro era pelo grande portão, que só era acessado pelos deuses. Esse portão fica aqui por baixo, e é por ele que vamos entrar.
            Andaram por mais meia hora até chegarem as ruínas de um portão. Como era de se esperar, ele estava fechado. Mas havia uma grande rachadura que dava até para um unicórnio passar:
            - Por que esse deus não aproveitou isso para escapar? – sussurrou Alana.
            - Porque escapar não é sua prioridade. O que ele quer é se vingar, queimando tudo.
            - Gente, eu estou cansada e com fome. Não é uma boa hora para batalhar com um deus.
            - Se descansarmos agora, teremos apenas um dia.
            - Mas se não descansarmos, não terei energia o suficiente para controlar a chuva e vamos morrer queimadas.
            - Está bem. Mas vamos ter que acampar aqui fora usando isto.
            Ela pegou dois colchonetes da bolsa, que para Alana, parecia caber o infinito, e pegou três cobertores, dois de solteiro e um de casal, que tinha uma coloração cinza como rocha:
            - Você está sempre bem preparada...
            - Fui treinada para isso.
            Cada uma das moças pegou um colchonete e um cobertor. Rosemary dormiria na grama com o lençol de casal. Não gostava de dormir deitada, pois se sentia desprotegida se caso precisasse correr. Dormia normalmente em pé, como os cavalos. Mas para se camuflar, precisava ficar deitada, então ficaria deitada. Alana colocou Bot ao seu lado na hora de dormir. Estava ansiosa para que tudo isso acabasse e fosse para casa com o monte de informações que havia conseguido. Sentia falta de casa e, apesar de tentar não demonstrar, estava com medo de entrar no vulcão. Lana também estava ansiosa. Não de medo, só queria enfrentar o deus e conseguir um feito que poucos conseguiram na Alcateia. Com certeza seria mais admirada por eles do que já era.
            Acordaram cedo e comeram logo seu lanche antes de entrarem no vulcão, que estava aos poucos despertando. Alana aproveitou um pouco do sol para recarregar Bot. Não carregou muito, porém qualquer coisinha poderia fazer a diferença em uma batalha contra o desconhecido. Lá dentro, tinha uma aparência similar a de uma caverna, só que ela era iluminada por pedras vermelhas, que pareciam rubis. Alana ficou tentada a arrancar uma, mas estavam bem presas. Quanto mais fundo entravam, mais quente ficava. Também tiveram que tomar cuidado com o chão, pois havia pequenas fissuras com lava ainda fresca.
            Chegaram ao que parecia ser a sala do trono de Igneus, com uma piscina grande de lava no centro. O deus estava de costas, perto de seu trono. Ele era tão grande quanto Lacus, mas seu corpo era feito de lava quente e borbulhante. Seu cabelo era fogo amarelo vívido. Lana pegou a caixa arredondada, se virou para o grupo e sussurrou:
            - Bem, essa é a nossa chance. Vamos...
            Por pouco, elas não desviam de jato de lava que veio na direção delas:
            - Visitas! – disse Igneus se virando para elas. – Faz muito tempo que não recebo ninguém em minha humilde residência.
            Mas lava vindo da “piscina” era jogada sob elas. Chegou a acertar de raspão no ombro de Alana. Ardeu muito:
            - Sabe, é muito bom receber vocês aqui. Assim posso me exercitar um pouco antes da verdadeira destruição começar. Então...
            Surgiram chamas em suas mãos e as de sua cabeça aumentaram muito:
            - Vamos começar!
            E jogou lava em chamas vindo de suas mãos em direção a elas. Elas desviavam, mas alguns tiros, da piscina ou do próprio Igneus, acertavam de raspão várias partes de seus corpos. Alana ligou Bot. Este se mexeu e olhou confuso enquanto sua mestre desviava dos tiros de lava:
            - Mestre, o que está acontecendo?! – perguntou ele, pela primeira vez demonstrando medo.
            - Não há tempo a perder. Dê a caixa para Bot!
            Lana entendeu o que a outra queria fazer. Estendeu a caixinha para Bot. Sua mestre então ordenou:
            - Voe até lá em cima e abra essa caixa. E muito cuidado com a lava.
            Bot ativou suas asas e o fogo em seus pés e foi até o teto. Desviou o máximo que pôde dos jatos de lava, mas um deles acertou parte de uma das asas metálicas, fazendo-o pegar fogo. Ainda assim, ele conseguiu abrir a caixa, surgindo uma grande nuvem, caindo várias gotas d’agua pesadas no grupo e em Igneus. O deus gritou de dor e a lava se tornou lama:
            - Agora, Rosemary!
            O chifre da unicórnio brilhou. As gotas, ao invés de evaporarem ao tocar no deus se fixaram em seu corpo. O deus ficava se mexendo muito, tomado pela dor. A chuva parou e Rosemary disse, ainda forçando seu poder:
            - Vai rápido! Não vou aguentar por muito tempo.
            Lana pegou uma pequena zarabatana de madeira e depois a semente que a deusa Flos havia lhes entregado. Colocou-a na arma e soprou em direção ao deus, acertando-o em cheio na barriga. A semente cresceu, se espalhando por todo o seu corpo e o prendendo no chão. Ele deu um último grito, que parecia mais um urro, antes de virar uma estátua de planta. Rosemary relaxou, tentando recuperar o fôlego. Alana olhou em volta procurando algo:
            - Cadê o Bot?!
            Lana o achou do outro lado, com a asa queimada e todo molhado. Alana olhou quase chorando:
            - Eu farei o possível para consertá-lo. Não se preocupe.
            - Consertá-lo com o quê?! Madeira? Vocês podem ser mais desenvolvidos em tecnologia do que eu pensava, mas nenhuma matéria daqui poderá substituir o que ele perdeu.
            - Calma, daremos um jeito, prometo.
            - É, resolvemos qualquer problema. Mas vamos sair daqui primeiro. Esse lugar me dá arrepios.
            Lana e Rosemary saíram de dentro da montanha vitoriosas. Alana estava ansiosa para voltar para casa. Precisava dar um jeito de Bot voltar a funcionar. Senão como voltaria para casa? E com quem conversaria naquele pequeno apartamento onde morava? Lana ainda o segurava:
            - Você já pode me devolvê-lo para...
            Mas não conseguiu terminar a sua frase. Homens com capacete e vestimentas cinza estavam perto do portão esperando. Foram rápidos. Usaram uma arma para apagar as memórias das moças e do unicórnio antes que elas pudessem reagir. Elas ficaram zonzas, então as nocautearam com um golpe de alguma arte marcial. Mas o quadrupede ainda estava de pé, e quando ia ataca-los, um senhor mais gordinho atirou com uma arma de choque e logo a fez desmaiar. Os homens pegaram uma das moças e o robô e saíram de lá. O homem obeso usou o seu telecomunicador para dar as notícias para o chefe, dando o sorriso, mostrando seus caninos dourados:
            - Pegamos a garota e o robô de volta.
            - Usaram os apagadores de mente?
         - É claro senhor. Quando acordarem, não se lembrarão de nada. Estaremos aí em cima em breve.
            Rosemary acordou, ainda meio tonta. Mas logo se lembrou do ocorrido. Olhou para o chão e viu a moça ainda desacordada:
            - Ah não! Aqueles homens esquisitos a pegaram. – Rosemary encostou o nariz na garota. – Acorda! Acorda!
            Ela ainda estava meio zonza do ataque. Sua cabeça ainda girava e doía. Mas conseguiu abrir os olhos quando viu o unicórnio, Lana do planeta Apollo se afastou, assustada e confusa.                      

                                                           FIM?

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Apollo e Diana: O encontro parte 9

        Parte 9

            Uma semana se passou. Os tremores já tinham chegado perto da lagoa, mas não eram tão fortes quanto Alana esperava. O homem deve ter exagerado quando mostrou o resultado. Pensou ela. Mas mesmo assim era alarmante. Incomodava quem passava pela floresta. Quase não dava para andar direito. Enquanto isso, Rosemary exercitava a sua manipulação de água na torneira. Ela dizia que já conseguia fazer uma gota se mexer, porém não tinha muita credibilidade em suas palavras.
            Rosemary decidiu que já estava pronta para fazer isso com um copo com água, e então foi isso que tentou fazer. Não moveu nenhuma gota. Alana anotava tudo em Bot. Não deixava escapar uma coisinha sequer e estava fazendo isso naquele exato momento, sentada no sofá. Impaciente, Lana bateu na mesa, fazendo o copo derramar o líquido:
            - Viu só?! Estou conseguindo. – disse Rosemary quando aconteceu a ação acima.
            - Está nada! Fui eu que derramei. Isso está demorando demais! Precisamos nos apressar e chamar alguém mais experiente.
            - Está pensando em chamar outro unicórnio?
            - Não apenas um unicórnio, mas algum que já trabalhou para Alcateia.
            - Vai chamar alguém da Alcateia? Ficou maluca?! Nós estamos no topo. Se chamarmos alguém, parecerá que não somos boas o suficiente para o trabalho. E ainda por cima um unicórnio?! Somos solitários e bons o suficiente para precisar da ajuda de outros.
            - Mas sempre achei que cavalos andassem em grupo. – disse Alana, se intrometendo na conversa, mas ainda com os olhos para a tela detrás da cabeça de Bot.
            - Não somos cavalos! E por que você ainda está aqui? Seu objetivo aqui já foi concluído. Volte para a sua casa!
            - Se eu pudesse, já teria ido. Aqui não tem sinal para eu chamar ajuda. Então vou aproveitar e ver como o povo daqui se comporta.
            - Nossa, que trabalho legal. – falou Rosemary sarcástica. – Mas voltando ao assunto, não vou usar o meu chifre para chamar um unicórnio.
            - Não. Não vamos usar seu chifre para chamarmos um unicórnio. Usaremos o seu chifre para teletransportá-lo para cá.
            - Unicórnios não têm poder para fazer isso.
            - Eles têm com a ajuda desse cristal.
            Lana tira um cristal violeta da sua bolsa. Ele tinha dois furos com uma fita dentro deles, com a utilidade de prender o cristal no punho, ou nesse caso, no chifre:
            - Comprou isso daquela moça do mercado? – perguntou Alana, ainda digitando.
            - Como você... Ah esquece. Vamos testá-lo. Nunca usei um desses. Vamos lá para fora!
            - Eu já disse que não quero.
            - Precisamos salvar as pessoas, Rosemary.
            - Eu disse que...
            Lana puxou Rosemary pelo chifre. Mesmo sendo mais forte que ela, o chifre era algo que dependendo do jeito, poderia se rachar. Lana só pegava nele quando a situação era de urgência. Então, Rosemary foi lá fora com ela. Alana parou de digitar e foi correndo segui-las, carregando Bot no colo. Não queria perder nada.
            Foram em direção da fronteira da cidade com a floresta. Ficaram obviamente, no lado de pedra, pois uma pequena andada para o lado verde já daria para sentir uma tontura. Lana amarrou o cristal cuidadosamente no chifre de Rosemary e disse:
            - Vai lá e faça o que eu te pedi. A vida de todos daqui depende disso. E não só as humanas.
            O grupo ficou em silêncio. Os únicos sons que davam para ouvir eram os dos tremores da floresta e das rodas de carroça na cidade. Que para falar a verdade, atrapalhavam muito na hora dela concentrar. Mas Rosemary foi persistente. Fechou os olhos. Seu chifre brilhou, o que fez o cristal preso a ele transmitir uma luz da cor roxa na grama. Ao parar com brilho, na frente deles, quase não conseguindo ficar em pé por causa dos tremores, estava um unicórnio todo branco, com uma barbicha de bode perto da boca:
            - O que foi isso? Onde estou? Por que a terra está tremendo?
            - Funcionou!
            - Esse tipo de energia me faz lembrar as máquinas teletransportadoras lá do meu mundo. Será que...
            - Pai?!
            - Rosemary?
            O velho unicórnio saiu da grama da floresta e foi para a parte da cidade, retomando o seu equilíbrio e sua compostura:
            - Eu estava pastando no meu campo até sentir algo me puxar...
            - Eu te teletransportei para cá com essa pedra mágica no meu chifre.
            - É, eu já vi uma dessas há uns seiscentos anos atrás. – disse ele olhando para o cristal. – Por que me trouxeram aqui?
            - Precisamos que Rosemary aprenda o domínio da água.
            - Isso ela aprenderá sozinha, quando for mais velha.
            - Precisamos que ela aprenda logo. Essa cidade depende disso.
            - Unicórnios não ajudam uns aos outros. Temos orgulho próprio.
            - Viu! Eu te falei.
            - Mas antes, éramos unidos. Trabalhando em equipe. Ninguém se achava melhor que ninguém. Sinto saudades desses dias de potro. Quando o bando se separou, só nos juntávamos para cuidar dos filhotes. Depois que eles cresciam, cada um seguia o seu caminho. No meu caso, eu fui trabalhar com os humanos e outros seres na Alcateia.
            - Eu sou da Alcateia, pai.
            - Você é? Então deixe esse orgulho de lado. Se é urgente, eu vou te ensinar. Mas não espere que eu dê mole para você só porque é minha filha.
            - E nem quero que você dê.
            - Então, vamos para outro lugar. Aqui treme muito.
            - Tem um campo com um riacho no outro lado da cidade. – disse Lana. – Mas será uma caminhada mais longa.
            - Tudo bem, estou precisando fazer uns exercícios. Mesmo já tendo dois mil e quinhentos anos, é bom estar em forma. Mas vão devagar. Eu não corro mais como corria antigamente.
            A caminhada até o outro lado da cidade demorou umas duas horas, não contando a parada que o grupo fez para almoçar em um restaurante. Alana ficou impressionada que lá havia lugares para unicórnios, gnomos e outros seres grandes e pequenos quando comparados ao tamanho humano. Ela até viu um casal de gnomos sentado à mesa. Conseguiu que Bot tirasse uma foto deles escondido. Não ficou tão boa, mas ainda dava para ver. Ele tirou mais fotos de Rosemary e seu pai quando chegaram ao riacho. Essas sim ficaram perfeitas. O ambiente era tranquilo. Tinha poucas árvores, sendo mais dominado pela grama. O pequeno rio era bem limpo e tão transparente que dava para ver os peixes nadando.
            Demorou quatro dias para ela se especializar na dominação de água, o que para um unicórnio que só aprende com pelo menos mil anos, foi muito rápido. Mas os tremores já haviam chegado em Ouro Branco. E só restavam três dias para resolver o problema. O velho unicórnio então se despediu do grupo, no lugar de treinamento:
            - Sabe, eu estou orgulhoso de você Rosemary. Tenho certeza que irão conseguir. Se eu pudesse, até iria com vocês. Mas não sou mais jovem como era antes. Não corro mais tão bem e minha magia já não mais tão forte quanto era antes. Me mande de volta para casa, querida.
            - Pode deixar.
            - Longa vida a Alcateia!
            Como Rosemary não conseguia usar o cristal para teletransportar o seu pai, ele teve que ir trotando para além do riacho. O grupo ficou lá até ele desaparecer de vista. Com tudo preparado, estavam prontos para ir em direção ao antigo vulcão.


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Como se chega a Lugar Nenhum?



         
           Lugar Nenhum
foi escrito por Neil Gaiman, nascido em Portchester, Reino Unido. Um autor bastante conhecido por suas histórias que misturam a nossa realidade com a fantasia, tendo seus protagonistas percorrido por ambos os mundos. Mas o principal que tenho a destacar é a narrativa dividida pelo ponto de vista de mais de um personagem.
            Existe uma semelhança entre Lugar Nenhum, Stardust (1999) e O livro do cemitério (2008), todos escritos pelo mesmo autor, que é a mudança de foco, tendo pelo menos três pontos de vista de personagens. Outra característica é que em Stardust também existe um mercado mágico, com a diferença de que as pessoas normais podem se misturar com seres fantásticos. A mudança de perspectiva de cada personagem é uma técnica muito utilizada na arte cinematográfica e na teledramaturgia, em especial em minisséries, o que me fez perguntar se o autor é roteirista. Descobri que ele é sim, o que faz sentido, pois este livro joga muito com o leitor, fornecendo-lhe informações e ocorrências que os protagonistas não sabem, dando-lhe participação no enredo, como um simpatizante, torcendo para que nada de ruim lhes ocorra. E ainda, este romance é uma versão de uma série de tevê de mesmo nome, lançada no dia 12 de setembro de 1996, sendo que o livro veio a público quatro dias depois.
            Outro fato interessante é o uso dos nomes da estação de metrô de Londres para criar algo, como por exemplo a Earl’s Court (corte do conde) que tinha mesmo uma corte com um conde no comando.

A edição deste livro, feita pela editora Intrínseca, é cuidadosa, pois, além de conter o mapa do metrô de Londres atrás da orelha, tem um segundo prólogo e o conto Como o marquês recuperou seu casaco (começado em 2002 e terminado em 2013), uma “continuação” que está relacionada a um dos personagens principais, no final do livro.  



Os personagens principais, tanto os protagonistas como os antagonistas, são bem desenvolvidos devido a cada um ter tido o seu ponto de vista relatado na história. Richard era um rapaz bom que tinha uma vida normal até se meter numa enrascada quando decide ajudar uma garota chamada Door, fazendo todos esquecerem sua existência. Acontecendo isso, ele vai à procura dela na esperança de que Door resolva seus problemas e tudo volte como era antes, indo assim para o Submundo. Ele age como um peixe fora d’água quando vai ao submundo. Door é uma moça boa e gentil que está sendo perseguida pelos vilões e que tenta fazer o possível para sobreviver. O marquês De Carabás é típico trickester (enganador), o que diz muito com o seu nome pois ele vem do conto O gato de botas, quando o gato ludibria os outros, falando que o seu mestre era o grande marquês De Carabás. O próprio ajuda Door na fuga porque tinha uma dívida a pagar com o pai da garota. Hunter é uma guarda-costas séria. Os capangas do vilão, senhor Croup e senhor Vandemar, são sádicos e violentos, mas têm um certo humor em relação a eles dois, pelo senhor Vandemar não ser tão esperto quanto o senhor Croup, lembrando a relação entre Horácio e Gaspar do filme 101 dálmatas. Existem mais pontos de vistas, mas não direi aqui para a pessoa descobrir por si só.

            De uma forma geral, tive uma leitura agradável. Literatura juvenil fantástica é minha favorita entre todas. Porém, houve algo que me incomodou. Apesar de ser interessante ter visões de vários personagens na história, quase não houve mistério por causa disso. Principalmente quando focava nos vilões. A pessoa que estava por trás do que havia acontecido com a família de Door foi revelada antes mesmo dos heróis descobrirem, enquanto eu como leitora já sabia. Nesse caso eu preferia ter o elemento surpresa e ter descoberto junto com os protagonistas. Seria melhor se os pontos de vista ficassem apenas nos protagonistas.
            Fica a seu critério conhecer ou não o Submundo. Mas lembre-se: assim que entrar nele, você não vai querer mais sair.