sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O Ser mais Popular do Folclore Brasileiro


            E para comemorar o Dia do Folclore, estamos aqui com o livro de um ser brasileiro muito popular, escrito por um renomado autor. O Saci foi escrito por Monteiro Lobato e faz parte da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Lobato foi quem popularizou a criaturinha travessa de uma perna só desde antes deste livro. Em 1917, através do “Estadinho”, edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo, ele lançou uma pesquisa pedindo aos leitores que enviassem histórias do endiabrado. Em 1918, ele selecionou setenta e quatro desses depoimentos e transformou no livro O Sacy-Pererê: Resultado de um Inquérito. Depois disso, ele introduziu o saci para o sítio em 1921, no livro que tenho em mãos. Vamos dar uma olhadinha...

            Pedrinho foi passar as férias no sítio da avó, o Sítio do Picapau Amarelo. Num dia, ele estava querendo ir para o Capoeirão dos Tucanos para caçar. Dona Benta, sua avó, foi falando dos bichos perigosos que tinham lá e o menino foi negando ter medo deles até ela mencionar o saci. Do saci, Pedrinho tinha medo. Quando foi consultar Tia Nastácia, a empregada da avó, para falar dessa criatura, a mulher mencionou que ela existe sim e que Tio Barnabé já tinha visto. Então, Pedrinho foi atrás de Tio Barnabé para saber mais sobre o saci...

            O livro faz um bom trabalho dando foco ao Saci, que foi praticamente o herói da história, apesar de Pedrinho ser o protagonista da história. O Saci é aliado e mentor do menino quando se trata dos seres da noite e da floresta, trazendo discussões interessantes entre ele e o menino como o do homem ser mais burro que os outros animais, pois não nasce sabendo o que fazer para sobreviver, ou seja, não tem instinto, e que mata sem necessidade. Apesar dessa discussão do homem caçar por prazer ser errado já ter sido feita em várias histórias infantis, aqui é feita de uma forma criativa e só aparece num capítulo, fazendo com que não desperdicemos nosso tempo. Outra discussão que a narrativa traz é sobre o medo, que vem da incerteza e do escuro, que os monstros só existem nos olhos de quem acredita. Algo bem interessante para se ensinar a uma criança. 

            Os sacis são descritos neste livro como negros pequeninos, de uma perna só, com o gorro vermelho e mãos furadas, que me faz lembrar da lenda do fradinho da mão furada*, vinda do folclore português. Eles nascem dos gomos de taquaruçus (bambus grandes) e se desenvolvem dentro dessa planta por sete anos. Depois de saírem, vivem até setenta e sete anos, virando depois cogumelos venenosos ou orelhas-de-pau (tipo de fungo). Se escondem do sol, pois gostam das trevas, sendo chamados de “filhos da Lua”.  Além de fazer travessuras, também chupam o sangue dos cavalos como morcegos.

             Outros seres do folclore brasileiro também apareceram ou foram mencionados no livro como o Jurupari, ser do folclore indígena que causa pesadelos, insônia e agarra o pescoço das pessoas para não gritarem enquanto tem sonhos ruins; o Curupira; o Boitatá, que é uma cobra flamejante com olhos gigantes e fica próximo de carniça; a Iara, que aqui é uma espécie e não um indivíduo, possui cabelos verdes e na ilustração, é desenhada com pernas ao invés de cauda de peixe; Negrinho do pastoreio; Cuca, que dorme a cada sete anos; o Lobisomem, que aqui é o sétimo filho de sete irmãos, se transforma nas sextas-feiras e é curado ao cortar uma das patas. Ele tem a pele virada. Por dentro é pelo e por fora é carne; a Mula sem cabeça que aqui era uma rainha que ia para o cemitério comer cadáveres e quando o rei a viu fazer isso, ela se transformou na mula sem cabeça e galopou pelo mundo; a Porca dos Sete Leitões que era uma baronesa muito má com seus escravos até que um feiticeiro negro transformou ela e seus sete filhos em porcos. Só um anel pode transformá-los de volta; o Caipora, um duende peludo, meio homem meio macaco, que cavalga em porcos-do-mato para exigir fumo dos viajantes. Não pude deixar de notar que alguns destes seres tem relação com o número sete, que aparece muito nos contos de fadas junto com o três e o treze. Me pergunto se o autor descreveu estes seres exatamente como ele ouviu nas histórias ou se ele inventou alguma coisa.

            Se é para dizer algo negativo, diria que teve algumas palavras que tive que parar para pesquisar o significado, como modorra, jacarandá e barba-de-pau. Isso pode ser um pouco incomodo para quem gosta manter o ritmo da leitura.

        Gostei do livro e recomendo sua leitura tanto para adultos quanto para crianças. Só tomem cuidado ao andarem pela mata à noite. Uma onça pode te encontrar. Ou a Mula sem cabeça.

 



Roteiro: Mariana Torres
Desenho: Maya Flor


*Resenha do livro Obras do fradinho da mão furada: Ponte para o Imaginário: Obras do Fradinho da Mão Furada

 


 


 

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