E para comemorar o Dia do
Folclore, estamos aqui com o livro de um ser brasileiro muito popular, escrito
por um renomado autor. O Saci foi escrito por Monteiro Lobato e faz
parte da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Lobato foi quem
popularizou a criaturinha travessa de uma perna só desde antes deste livro. Em
1917, através do “Estadinho”, edição vespertina do jornal O Estado de
S. Paulo, ele lançou uma pesquisa pedindo aos leitores que enviassem
histórias do endiabrado. Em 1918, ele selecionou setenta e quatro desses
depoimentos e transformou no livro O Sacy-Pererê: Resultado de um Inquérito.
Depois disso, ele introduziu o saci para o sítio em 1921, no livro que tenho em
mãos. Vamos dar uma olhadinha...
Pedrinho foi passar as férias no sítio da avó, o Sítio do
Picapau Amarelo. Num dia, ele estava querendo ir para o Capoeirão dos Tucanos
para caçar. Dona Benta, sua avó, foi falando dos bichos perigosos que tinham lá
e o menino foi negando ter medo deles até ela mencionar o saci. Do saci,
Pedrinho tinha medo. Quando foi consultar Tia Nastácia, a empregada da avó,
para falar dessa criatura, a mulher mencionou que ela existe sim e que Tio
Barnabé já tinha visto. Então, Pedrinho foi atrás de Tio Barnabé para saber
mais sobre o saci...
O livro faz um bom trabalho dando foco ao Saci, que foi
praticamente o herói da história, apesar de Pedrinho ser o protagonista da
história. O Saci é aliado e mentor do menino quando se trata dos seres da noite
e da floresta, trazendo discussões interessantes entre ele e o menino como o do
homem ser mais burro que os outros animais, pois não nasce sabendo o que fazer
para sobreviver, ou seja, não tem instinto, e que mata sem necessidade. Apesar dessa
discussão do homem caçar por prazer ser errado já ter sido feita em várias
histórias infantis, aqui é feita de uma forma criativa e só aparece num
capítulo, fazendo com que não desperdicemos nosso tempo. Outra discussão que a
narrativa traz é sobre o medo, que vem da incerteza e do escuro, que os
monstros só existem nos olhos de quem acredita. Algo bem interessante para se
ensinar a uma criança.
Os sacis são descritos neste livro como negros pequeninos,
de uma perna só, com o gorro vermelho e mãos furadas, que me faz lembrar da
lenda do fradinho da mão furada*, vinda do folclore português. Eles nascem dos
gomos de taquaruçus (bambus grandes) e se desenvolvem dentro dessa planta por
sete anos. Depois de saírem, vivem até setenta e sete anos, virando depois
cogumelos venenosos ou orelhas-de-pau (tipo de fungo). Se escondem do sol, pois
gostam das trevas, sendo chamados de “filhos da Lua”. Além de fazer travessuras, também chupam o sangue
dos cavalos como morcegos.
Outros seres do folclore brasileiro também apareceram
ou foram mencionados no livro como o Jurupari, ser do folclore indígena que
causa pesadelos, insônia e agarra o pescoço das pessoas para não gritarem
enquanto tem sonhos ruins; o Curupira; o Boitatá, que é uma cobra flamejante
com olhos gigantes e fica próximo de carniça; a Iara, que aqui é uma espécie e
não um indivíduo, possui cabelos verdes e na ilustração, é desenhada com pernas
ao invés de cauda de peixe; Negrinho do pastoreio; Cuca, que dorme a cada sete
anos; o Lobisomem, que aqui é o sétimo filho de sete irmãos, se transforma nas
sextas-feiras e é curado ao cortar uma das patas. Ele tem a pele virada. Por
dentro é pelo e por fora é carne; a Mula sem cabeça que aqui era uma rainha que
ia para o cemitério comer cadáveres e quando o rei a viu fazer isso, ela se
transformou na mula sem cabeça e galopou pelo mundo; a Porca dos Sete Leitões
que era uma baronesa muito má com seus escravos até que um feiticeiro negro
transformou ela e seus sete filhos em porcos. Só um anel pode transformá-los de
volta; o Caipora, um duende peludo, meio homem meio macaco, que cavalga em
porcos-do-mato para exigir fumo dos viajantes. Não pude deixar de notar que
alguns destes seres tem relação com o número sete, que aparece muito nos contos
de fadas junto com o três e o treze. Me pergunto se o autor descreveu estes
seres exatamente como ele ouviu nas histórias ou se ele inventou alguma coisa.
Se é para dizer algo negativo, diria que teve algumas
palavras que tive que parar para pesquisar o significado, como modorra,
jacarandá e barba-de-pau. Isso pode ser um pouco incomodo para quem gosta manter
o ritmo da leitura.
Gostei do livro e recomendo sua leitura tanto para
adultos quanto para crianças. Só tomem cuidado ao andarem pela mata à noite. Uma
onça pode te encontrar. Ou a Mula sem cabeça.
*Resenha do livro Obras
do fradinho da mão furada: Ponte
para o Imaginário: Obras do Fradinho da Mão Furada
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