sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Toy Story de Natal


 

        Alguém conhece o balé do Quebra-Nozes de Piotr Ilitch Tchaikovsky, cujas músicas* são conhecidas até hoje? Se você não o conhece, aposto que viu um filme baseado nele. Eu por exemplo vi a versão da Barbie em Barbie em O Quebra-Nozes. Bom, sabia que esse balé foi baseado em uma história escrita? Então vou lhes contar agora. Assim como A Bela e a Fera, O Quebra-Nozes tem duas versões: uma clássica, que é a mais conhecida, e a original. A clássica se chama História de um Quebra-Nozes e a original O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos. A clássica foi escrita por Alexandre Dumas em 1844, como uma adaptação para o francês, com algumas mudanças do conto original. Dumas é mais conhecido pelos romances Os três mosqueteiros e O conde de Monte Cristo. Foi nesta versão que Tchaikovsky inspirou seu balé. Já a original foi escrita por E. T. A. Hoffmann em 1816 numa coletânea chamada Contos de fadas infantis. Naquele tempo, a Alemanha estava passando por um processo de unificação, por isso, os escritores estavam preocupados em estabelecer uma literatura genuinamente alemã, com elementos típicos de sua cultura. Hoffmann é conhecido por ter escrito histórias de fantasia e terror como O homem de areia e O pote de ouro.

            Fritz e Marie esperam ansiosamente seus presentes de Natal. Dentre estes presentes de Natal, Marie se depara com um estranho, porém simpático bonequinho, um quebra-nozes. Após seu irmão usar nozes grandes demais e quebrar alguns dentes do boneco, Marie cuida dele com carinho, pois se simpatizou com o brinquedo. Porém, uma batalha seria travada.

            A história tem uma combinação entre contos de fada e realidade, pois apesar de Marie presenciar a luta entre brinquedos e camundongos, ninguém acredita nela, pois eles vivem na nossa realidade, onde brinquedos e animais não tem a capacidade de falar. Isso lembra um pouco o filme da Pixar, Toy Story, em que todos os brinquedos possuem vida, só que mantém isso em segredo dos humanos. Porém, pelo menos com o Quebra-Nozes, sua incapacidade de falar com as pessoas parece ser devido ao feitiço e não por querer guardar segredo. Ele fala bem pouco com Marie no começo, como se estivesse restringindo.

            Algo curioso que aparece em várias adaptações é a mudança do nome a personagem principal Marie para Clara ou Claire, dependendo da língua. Clara, Claire ou Klärchen era o nome da boneca que a menina havia ganhado de Natal. Outra mudança foi a do rei dos camundongos, que possui sete cabeças tanto no texto clássico quanto no original. Dá para entender no caso do balé, pois seria difícil para o dançarino na hora de colocar a fantasia. Mas uma mudança que foi necessária é a troca de idade de Marie para a de uma adolescente. Ela e o Quebra-Nozes são um par romântico, apesar de Marie ter uns oito, nove anos e ele ter dezoito ou dezenove anos, o que hoje em dia seria inaceitável.

            Obviamente, as versões de Dumas e Hoffman possuem diferenças entre si. Vou lhes dizer as que mais me chamaram a atenção (Aviso que alguns deles podem conter spoilers, por isso, para quem quiser ler as histórias sem nenhuma informação, pulem para o último parágrafo): Apesar de ambos os narradores estarem conversando com o leitor, a versão de Dumas aproveita para explicar as diferenças entre o Natal alemão e o francês e tem um prólogo de como ele foi forçado a contar a história, como se fosse uma narrativa dentro de outra.  Na versão clássica, senhorita Trudchen é uma velha governanta enquanto na original, ela é uma boneca de Marie. Marie e Fritz têm uma irmã mais velha chamada Luise no original, que não aparece na versão clássica. O sobrenome da família foi mudado de Stahlbaum (original) para Silberhaus (clássica). A original dá uma possível pista do ataque dos camundongos antes da batalha ser travada além de apresentar o vestido de seda, os livros e os bonecos doces antes do rei dos camundongos extorquir de Marie. Na versão de Hoffmann, o padrinho conta a história da princesa Pirlipat em três dias enquanto na de Dumas, ele a conta toda de uma vez. Enquanto o padrinho nega ao dizer que ele e o inventor são a mesma pessoa no conto da princesa Pirlipat, dizendo que é um parente dele na clássica, na original ele diz que o inventor tem por coincidência o mesmo nome que ele, mas ele não nega nem afirma que são a mesma pessoa quando Fritz lhe faz essa pergunta, respondendo que ele” sabe consertar relógios, então por que não saberia inventar uma ratoeira?” Na versão de Dumas, o jovem que quebraria a maldição da princesa Pirlipat deveria usar sempre botas, o completamente oposto ao da de Hoffman. Porém, mesmo possuindo diferenças, ambas são em essência a mesma história e ninguém perderá muito lendo apenas uma.

            Do começo ao meio, em ambas as versões, foi algo entretido. Mas se torna algo medíocre nos últimos capítulos. Não presenciamos a morte do rei dos camundongos, cortando logo para ida de Marie para o reino do Quebra-Nozes. Acho que foi um erro enrolar muito na descrição da ida para o reino encantado e cortar o que podia ter sido o clímax da história.

            Com todas as observações feitas e explicando que certos costumes são produtos do tempo, tanto a História de um Quebra-Nozes quanto O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos são histórias boas que podem ser contadas às crianças. Quem sabe isto não as anime no Natal. À meia noite, na noite de Natal, ao invés de esperarem o Papai Noel, elas olharão para seus brinquedos e talvez acabem presenciando uma imensa batalha.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Links para duas das mais conhecidas composições:

https://www.youtube.com/watch?v=-t-3wfA_uow

https://www.youtube.com/watch?v=QxHkLdQy5f0

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A criação de um mundo


 

            Trago novamente outra obra do irlandês C. S. Lewis. Mas não se preocupem, esta é bem mais leve. O Sobrinho do Mago faz parte da coleção literária mais famosa do autor, As Crônicas de Nárnia. Li todos os livros aos onze anos, com exceção do último, cujo final foi revelado antes que eu pudesse tê-lo começado. Agora, decidi reler todos, e dessa vez irei até o fim. Será que eles continuam bons?

            No tempo em que Sherlock Holmes ainda passava pelas ruas de Londres, Digory foi obrigado a ir morar com os tios por causa de sua mãe doente. Lá ele conhece Polly, sua vizinha, e se tornam bons amigos. Mas em um pequeno erro em sua exploração, eles acabam indo parar no sótão do tio de Digory, André, que deseja usá-los para seus experimentos.

            Algo interessante de se saber é que este livro é considerado o primeiro na cronologia de Nárnia. Mas isto só com relação aos acontecimentos da história. O Sobrinho do Mago foi lançado em 1955 enquanto O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa estreou em 1950, cinco anos antes. É uma situação similar aos filmes de Star Wars em que os episódios um, dois e três vieram depois do quatro, cinco e seis. Então, existem duas formas de se ler As Crônicas de Nárnia: uma pela cronologia de acontecimentos e outra pela ordem de lançamento dos livros. Escolhi a primeira opção. Se for pela segunda opção, O Sobrinho do Mago seria o sexto da série.

            Devo confessar que lembrava muito pouco deste livro, pois li há uns quinze anos atrás. Foi bom refrescar a minha memória, pois poderei dar agora a visão de um adulto quase maduro. Agora que tenho mais anos de experiência literária, não posso deixar de comparar os elementos desta obra com outras. Uma que acredito ser coincidência é a semelhança dos anéis que as crianças usam para ir ao bosque de vários mundos. Ele é feito a partir do pó deste local. Então, é um pó que te leva a outros lugares. O que isso me lembra? O pó de pirlimpimpim do Sítio do Picapau Amarelo, cujo seu primeiro volume foi lançado em 1931, vinte e quatro anos antes do Sobrinho do Mago ser lançado.

            Também acredito que a trilogia de As Fronteiras do Universo de Philip Pullman foi feita em resposta às Crônicas de Nárnia. Ambas se tratam de viagem por diferentes mundos, mas enquanto a de Lewis apresenta um modelo cristão, a de Pullman tem uma visão mais ateísta. O primeiro é para crianças de oito a onze anos (infanto-juvenil), e possui uma linguagem e ilustrações destinadas a este público, e o segundo acredito ser de doze anos para cima (juvenil).

            Por falar em religião, este livro possui cenas similares a algumas que acontecem na Bíblia. O que não é de se surpreender, pois C. S. Lewis era cristão e um autor conhecido por colocar vários elementos do cristianismo em suas obras. Aslam, o leão, cria Nárnia, e escolhe pares de animais para dar o dom da fala. A divisão dos animais em pares lembra a arca de Noé, que traz um casal de cada animal para repopular o mundo depois do dilúvio. Digory é tentado a tocar o sino por curiosidade, assim como Eva foi convencida a comer o fruto proibido e ambos acabaram por trazer o mal. Há outra referência a história de Eva, mas com resultados diferentes dos da Bíblia. Além disso, a história dá muitos indícios que Aslam e o Deus cristão são a mesma entidade. Enquanto a feiticeira Jadis representa o mal, e em uma cena específica, a serpente que tenta Eva.

            Uma curiosidade: no livro, a mãe de Digory está muito doente, quase morta. Isto remete a perda da mãe de Lewis quando ele tinha dez anos de idade. Só que aqui, Digory consegue salvá-la, que era o que o autor desejava ter feito por sua mãe.

            Um acontecimento do livro que me chamou a atenção foi quando Aslam cria os seres vivos de Nárnia, incluindo seres fantásticos como ninfas, faunos, anões e um Deus do rio. Ele é uma representação do Deus cristão e ele foi o responsável pela criação de outro deus. Será que isso significa que para a religião cristã, está tudo bem acreditar na existência de outros deuses desde que louvemos o Deus cristão como o mais poderoso? Me considero católica, mas como a maioria dos brasileiros, não sou praticante, por isso não sei a resposta.

            Por ser o primeiro da cronologia de Nárnia, ele apresenta personagens que aparecerão em futuros volumes, como Aslam, a feiticeira e um outro que deixarei em segredo. Além disso, apresenta a origem de dois objetos proeminentes do Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa.

            Foi uma boa releitura. Mesmo tendo crescido, consegui me divertir. Recomendo crianças e até adultos a lerem esta obra. Sendo religioso ou não, acredito que o leitor consiga tirar deste livro algumas boas lições. E agora que cheguei a este mundo, vou explorá-lo mais um pouco. Vejo vocês numa próxima resenha.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Volta às aulas


                                                         Roteiro: Mariana Torres

                                                         Desenho: Maya Flor

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Por baixo do véu


 

              Continuando com minhas leituras que envolvem a mitologia grega, dessa vez trago a resenha do livro Até que tenhamos rostos, escrita por C. S. Lewis, autor conhecido pelos livros das Crônicas de Nárnia.

            Orual a rainha de Glome, está velha e não teme mais a morte. Por isso, decidiu escrever sua história e acusar os deuses, principalmente o que vive na Montanha Cinzenta, pelos crimes que cometeram contra ela.

            O livro conta a história de Cupido e Psique, conto que aparece pela primeira vez no livro Metamorfoses ou O Asno de Ouro de Lucius Apuleio, só que pela perspectiva da irmã mais velha de Psique. Na obra de Apuleio, ambas irmãs de Psique são descritas como invejosas e planejaram arruinar o casamento da caçula de propósito. Mas aqui, Orual amava sua irmã, e foi este amor que condenou sua relação com ela. Enquanto Redival, a segunda irmã, nutria sentimentos de inveja, porém aparenta sentir um certo arrependimento de suas ações. Infelizmente, Redival não aparece muito. Teria sido interessante ver a sua versão dos acontecimentos.

            Quanto aos outros personagens, temos o rei, pai de Orual, que é covarde, orgulhoso e temperamental. Ignora claramente as filhas e até as agride em certas ocasiões, além de ser um péssimo governante; Raposa, um escravo grego, responsável pela educação das meninas e lhes tem um grande carinho; Bardia, o soldado leal do rei, cujos pensamento são bem simples, mas é um ótimo guerreiro e marido; o sacerdote de Ungit, devoto religioso; e por último, mas não menos importante, Istra, ou Psique como ela é conhecida por aqui, jovem de beleza notável e muita paciência.

            O romance mistura o real com o fictício, pois locais como a Grécia com suas filosofias e crenças, são apresentadas junto ao reino de Glome, um reino bárbaro, cuja sua principal deusa é Ungit (Afrodite). E na língua de Glome, o nome da irmã caçula de Orual é Istra, mas esta a chama de Psique pois este é o seu nome em grego, cujo idioma aprendera com seu mentor, Raposa.

            Há muito o que se falar deste romance. Ele abre a porta para várias discussões, principalmente quando se trata da protagonista. A princípio, pude comparar a relação de Orual e Psique como a de uma mãe que não quer se separar da filha, como a Deméter e Perséfone. Deméter traz o inverno e a fome quando não está com a filha enquanto Orual faz com que Psique traia a promessa que fez ao seu marido para que sua irmã não se matasse. O próprio livro a compara com Ungit, que exige sacrifícios humanos enquanto Orual rouba vidas para lhe servirem. Mas acredito que isso seja um exagero causado pela culpa que a protagonista sentia, pois Orual foi uma boa governante de forma geral, como libertar seus antigos escravos e oferecer liberdade àqueles que trabalharem por um tempo na mina.

            Por falar em Ungit, Orual também pode ser comparada com a própria Psique, pois esta também foi comparada à deusa. Ambas podem ser consideradas como metades do amor como sentimento, sendo uma a parte boa e bela que se sacrifica pelos outros e a outra feia e egoísta que age em prol de sua própria felicidade, fingindo que é pelo bem estar do outro. O amor divino e o mortal.

            A própria Orual divide a si mesma como duas figuras: a dela mesma como Orual e a da rainha. A rainha seria como uma máscara que ela apresenta para seus súditos, como a de uma mulher séria, respeitável e que nada teme. Enquanto Orual seria o seu lado sentimental, fraco, que teme ser abandonada por aqueles que são próximos. Algo interessante é que ela passa a usar um véu que cobre o rosto, como uma máscara que esconde seus sentimentos mais profundos.

            Também há o dualismo feminino e masculino na protagonista. Por ser considerada feia, a opção de atrair homens através de sua beleza foi negada à Orual. Mas ela desenvolveu-se tão bem na luta de espadas que Bardia mencionou ser uma pena que ela tenha nascido mulher. Ao mesmo tempo que ela inferioriza a esposa de Bardia por nunca ter visto ou compartilhado momentos com o marido na batalha, ela ao mesmo tempo sente inveja por nunca tê-lo visto em seus momentos de fraqueza, algo que ele só mostrava à companheira. É irônico, porque mesmo que ela demonstre mais seu lado masculino, ela ainda assim é comparada a Afrodite, a deusa da fertilidade, considerada a mais feminina das deusas gregas.

            Raposa e Bardia são duas figuras que também abrem caminho para se pensar, e a própria protagonista as usa para tomar suas decisões. Raposa é um homem cético com relação aos deuses, que não acredita na existência deles e que seus poderes e aparições são apenas ações da natureza ou fruto da imaginação da pessoa. Enquanto Bardia, assim como todo povo de Glome, acredita firmemente neles e teme provocar sua ira.

            Uma curiosidade interessante de se falar de C. S. Lewis é que ele era cristão e que várias de suas obras tratam desse tema. Até que tenhamos rostos é uma destas e foi considerado pelo seu autor o melhor livro que ele escreveu.

            Como disse anteriormente, Até que tenhamos rostos é um livro introspectivo, que te faz pensar e é cheio de simbolismo. Porém, o livro tem poucos acontecimentos que sejam fora da cabeça de Orual. Queria que ela tivesse narrado mais aventuras para que o romance tivesse mais equilíbrio entre os acontecimentos do reino e os pensamentos da rainha, principalmente do meio para final. Apesar disso, foi uma boa jornada. Se quiserem fazer o mesmo, vão até onde ficava o antigo reino de Glome e escalem a Montanha Cinzenta. Lá, vocês vão encontrar o mais belo castelo que já viram. Ou não.

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Meus livros na Galáxia

 

        Imagem tirada da internet


        Tenho a alegria de informar que meus livros para o público infantil, ilustrados pela minha irmã Maya Flor, estão à venda na Livraria Galáxia. Incluindo A concha musical, publicado mais recentemente. 











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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Normal


                                             Roteiro e desenho: Mariana Torres

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Não perca a cabeça


        Para comemorar o Halloween, decidi fazer a resenha de uma história de terror. A lenda do cavaleiro sem cabeça é um conto escrito pelo americano Washington Irving, lançado em 1820 como parte da coletânea Os Esboços de Geoffrey Crayon.

            Icabode Crane foi enviado para ser professor na pequena cidade de Greensburgh, conhecida pela presença de várias figuras apavorantes, inclusive a do famoso Cavaleiro Sem Cabeça. Ao ver as riquezas de uma de suas discípulas musicais, Katrina Van Tassel, ele tenta persuadir a jovem a se casar com ele. Para seu azar, Brom Bones, o rapaz mais forte e encrenqueiro do local, também tem interesse na moça.

            Apesar do conto ter sido feito por um americano, a figura do cavaleiro sem cabeça já é conhecida no folclore alemão, servindo como inspiração para o monstro que aparece na obra. Algo cômico de se pensar que um dos primeiros contos americanos se utilizou de um monstro estrangeiro. Além disso, a história se passa em um local cuja descendência era holandesa e não inglesa.

            Quanto aos personagens, por ser um conto, são poucos que têm real significância. A pessoa que tem suas características mais detalhadas é com certeza Icabode, que por ser o “herói” da história, faz sentido. Mas falamos dele depois. Seu interesse romântico, Katrina, só sabemos um pouco de sua aparência. Até mesmo sua casa é mais detalhada que a própria moça. Ela só serve como uma ferramenta para a história. Já o rival, Brom Bones, é descrito como o completo oposto de Icabode, não só pela aparência forte, mas também pela personalidade maliciosa, sem medo, apesar da pouca educação.

            Falemos do protagonista. Icabode está longe de ser um herói romântico. O “amor” que ele tem por Katrina é mais pelo fato da grande herança que ela receberá do pai. Talvez seja por isso que o narrador descreve muito pouco a moça, pois Icabode estava ocupado demais olhando os detalhes de sua fazenda, que poderia se tornar dele se ele a conquistasse. Além disso, ele é guloso, indo a casa de seus alunos para comer algo de bom. Também é supersticioso, e acreditava em todas as lendas que o povo contava, algo contraditório para um professor. Bem provável que o autor o fez assim para que não tenhamos pena do que aconteceu com ele depois.

            O icônico Cavaleiro infelizmente só aparece nos momentos finais do livro. Mas o narrador especula suas origens no início do conto. Enquanto se ele existe ou não, fica no ar, pois o livro te dá a possibilidade tanto de um final realista quanto o de um sobrenatural.

            Lembro que quando era bem pequena, assisti uma adaptação deste livro em desenho. Ela foi feita pela Disney em 1949, época em que a empresa não tinha medo de traumatizar crianças com figuras assustadoras*.

            Foi uma boa leitura. Gostaria que tivesse mais momentos com o Cavaleiro Sem Cabeça e mais desenvolvimento dos outros personagens, mas me contento com o que foi apresentado. Por ser uma história antiga, há algumas coisas que hoje em dia seriam inaceitáveis, como castigar alunos com uma vara e escravidão. Porém, nada disso tem foco ou afeta o conto. Por isso, não percam a cabeça.

 

*Link para a primeira parte do desenho: https://www.youtube.com/watch?v=t-6g_MxiDqI

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A Penelopíada


              Já vi o ponto de vista da amante. Por que não o da esposa? A Odisseia de Penélope foi escrita por Margaret Atwood, mesma autora de O Conto da Aia, no ano de 2005. Apesar deste último ter ficado famoso devido a série de tv, nunca assisti ou li O Conto da Aia. Sendo assim, A Odisseia de Penélope é o primeiro livro que leio desta autora. Então, sua fama não irá me influenciar.

            Agora que está morta e cansada de ser vista como o exemplo da “mulher perfeita e leal”, Penélope decide contar a sua versão da história, esperando que alguém do mundo dos vivos escute murmúrios.

            Começo com uma pequena reclamação: o título original da obra é The Penelopiad (A Penelopíada) e aqui foi traduzida como A Odisseia de Penélope. Sei que nossa tradução é mais sonora, porém ela acaba com o sentido original. Apesar de usarmos a palavra Odisseia para jornadas longas, cheias de aventura, seu significado original é “A história de Odisseu”, ou “A aventura de Odisseu”. Não faz jus com a proposta do livro.

            Como mostrada no resumo, a proposta da novela é contar a Odisseia do ponto de vista de Penélope, a esposa de Odisseu, conhecida por ter enganado seus pretendentes, dizendo que escolheria um deles após o término da mortalha de seu sogro. Só que ela nunca era terminada, pois à noite Penélope a desfazia e começava novamente no dia seguinte. Como a aparição de Penélope não é tão grande fora da Odisseia, a autora teve que inventar para dar mais enredo à história. Como por exemplo, o boato que não se sabe se é verdade ou não de que Ícaro, rei de Esparta e pai de Penélope, a tenha jogado no mar quando era pequena. Mas ela foi salva por patos, o que fez com que seu pai a visse como especial e não quisesse dá-la a mais ninguém. Por causa disso, Penélope nunca confiou no pai.

            Algo que também se destaca é a rivalidade entre Penélope e sua prima Helena. Penélope tanto a odeia por ser uma metida, que zomba dela por ser menos bela e mais certinha quanto por ser a principal causadora da Guerra de Troia, que levou Odisseu para longe, trazendo vários problemas em sua porta após a saída do marido. Gosto da dualidade das duas: a esposa fiel vs a traidora sedutora; a pata vs o cisne; os dois lados de uma moeda. Pena que não temos a visão de Helena na história.

            Apesar do título, a novela não é composta apenas do ponto de Penélope. Há capítulos em que vemos os pensamentos das doze escravas mortas por Odisseu, devido ao seu relacionamento com os pretendentes. Porém, existia uma boa razão pela qual elas dormiam com eles. Esses capítulos variavam de linguagem, sendo alguns em forma de poesia, outros em prosa ou texto teatral. Foi um bom toque. A linguagem poética e teatral parece fazer referência a como esses mitos eram contados na Grécia Antiga.

            Bastante tempo se passou desde que Penélope foi para o Hades. Ela conta como os espíritos chegaram a ser convocados por magos na idade média e por videntes no século XXI. A mistura dos elementos antigos com os do presente me interessou, por isso, os mencionei aqui neste parágrafo.

            No primeiro parágrafo, fiz uma brincadeira, pois na resenha passada avaliei Circe, que é sobre a bruxa que em alguns mitos teve um caso com Odisseu. Mas nenhuma das duas narrativas estão relacionadas e ambas foram escritas por autoras diferentes. O destino de Penélope e Telêmaco é diferente do que é apresentado no livro que estou resenhando agora. A personalidade deste último também é algo que se difere bastante da novela de Atwood. Diria que Atwood foi mais fiel a Odisseia neste tópico.

            A capa representa bem a cena em que Penélope é salva pelos patos. Só não sei se aquilo ela segura é uma corda, que poderia ser a corda usada para enforcar as escravas, ou um pedaço de tecido que ela usara para fazer sua mortalha.

            De maneira geral, gostei do livro. Seu maior pecado, tirando a tradução do título, é ser curto. A autora poderia ter aumentado um pouco mais com diálogos e histórias sobre a vida de Penélope antes de conhecer o marido. Também poderia desenvolver mais as escravas, dando a elas mais individualidade. Porém, a pouca caracterização delas parece ter sido proposital, para demonstrar o quão eram insignificantes para a história da Odisseia. A única nomeada foi Melanto, a de belas faces, porém isso é tudo que lhe é descrito. Elas são doze, mas agem como um só. Se desejam ouvir as palavras de Penélope, procurem uma vidente para servir como fio telefônico. Ou compre a novela. O que for mais fácil para vocês.

            

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Deusa, bruxa e humana


 

             Na resenha passada, falei da Odisseia, que conta a jornada de Ulisses (Odisseu), de volta a Ítaca depois da guerra de Tróia. Agora, é a vez da bruxa da ilha de Eana. Circe foi escrito pela escritora americana Madeline Miller em 2018 e conta a história de Circe, cuja participação na Odisseia foi curta, mas essencial.

            Circe é a primogênita da união de Hélio, deus do sol e Perseis, uma ninfa filha do titã Oceano, deus do grande rio de água doce que rodeia o mundo. Como não nasceu com uma aparência muito boa, sua mãe pouco se importava com ela, dando mais atenção aos seus irmãos. Quando Hélio conta o que acontecem com os astrônomos humanos que erram suas previsões, Circe sentiu algo. Mas o que era esse algo?

         Acreditava que Circe era um personagem que aparecia somente na Odisseia. Mas estava enganada. Além da jornada de Ulisses, Circe aparece em outras duas histórias. A primeira é no mito de Glauco e Cila. Glauco era um ser humano que após ingerir uma planta, se transforma em um deus marinho. Ele se apaixona pela ninfa Cila, que não queria nada com ele e fugia quando o via. Ele pediu a ajuda de Circe, que por ser tremendamente apaixonada por ele e sentir inveja de Cila, a transforma em um monstro. Após sua transformação, Cila foi para o colo de Glauco chorar, porém ele a rejeita devido sua aparência horrenda. Cila então foge para um rochedo próximo ao turbilhão Caríbdis. Ela se tornaria um dos desafios que Ulisses teria de enfrentar na Odisseia. Glauco nunca perdoou Circe pelo seu feito. Não é surpresa dizer que este conto foi alterado no livro para que Circe fosse simpática e atraísse o leitor para seu lado. Também foi modificado a origem de Glauco. Foi Circe que apertou a seiva da flor pharmaka, nascida do sangue dos deuses, na boca de Glauco. Vejo esta mudança como algo positivo pois acrescenta na descoberta dos poderes da personagem.

            A segunda aparição de Circe foi em Jasão e os Argonautas. Após fugir do reino de Aietes, pai de Medeia e irmão de Circe, Jasão para na ilha de Eana para que a bruxa possa fazer o rito de purificação em sua embarcação, pois Medeia havia assassinado o próprio irmão, causando a ira de Zeus e os afastando de sua rota. Esta cena teve mais acréscimos que mudanças de fato.

            Como é um romance, essas três aparições da personagem não seriam suficientes para compô-lo, por isso a autora teve que inventar a maior parte e costurar com os mitos gregos que a gente conhece. Por exemplo, todos os filhos que Hélio teve com Perseis são bruxos capazes de usar plantas como feitiços. Pasifae especificamente, é boa com venenos e usa seus feitiços para matar as amantes de seu marido, Minos, toda a vez que se deitavam com ele, como ela fazia no mito.

        O livro é narrado pela própria Circe, que conta a história desde o ponto que seus pais se conheceram. Me pergunto como ela conhece estes detalhes se ela nem era nascida ainda. Será que os pais contaram a ela mesmo que a mãe claramente não gostasse dela? Ou será que ela ouviu de seus tios e tias do palácio de seu pai? Isto nunca foi explicado. Como personagem, Circe começa como uma deusa inocente, que demora a descobrir seus poderes e é feita de tola por vários personagens. Do meio para o final, isso muda conforme ela vai ganhando mais experiência de vida e se tornando mais forte não só de poder, mas de caráter.

            Quanto aos outros personagens, em boa parte são bons. Mas duas caracterizações me irritaram: A primeira foi Hermes, que apesar de ser descrito como esperto, nunca vi um mito dele em que fosse babaca pelo simples prazer de ser. Aqui, ele vê a humanidade como brinquedo assim como vários dos deuses enquanto nos mitos parecia ser o contrário. A segunda foi de Atena. São poucos os mitos que ela perde a compostura, mas aqui... A imagem que estou mais acostumada é a de uma deusa séria, respeitosa, que quase não demonstra raiva. Apesar de vestir o mesmo elmo e a mesma armadura, esta não é a mesma personagem que conheci na mitologia grega.

          Um tema bastante abordado no livro é a diferença entre os humanos e os deuses. Deuses são imortais e não tem a noção do desespero que os humanos possuem. Se consideram perfeitos, por isso a noção de dor é algo estranho e curioso de se ver. Mas como os humanos, existem classes e brigas por poder. Para eles, os homens são só um divertimento e uma fonte para ganhar presentes. Quanto mais desesperada é a pessoa, melhores são os sacrifícios. É nesse ponto que chegamos na Circe. O jeito que ela age é diferente dos outros deuses, e aos poucos ela se aproxima de nós.

            Tive uma boa leitura. O romance termina em aberto, mas te dá aquela esperança de que tudo acabará bem. Recomendo bastante a adultos que gostam de mitologia grega. E para quem conhece pouco, no final do livro tem a lista dos personagens e um pequeno resumo de suas histórias. Nesta resenha, nossa parada foi em Eana. Agora naveguemos para o Submundo de Hades.

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Vida de Boneca




                                             Roteiro e desenho: Mariana Torres

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Odisseia em prosa


 

              Sempre tive a curiosidade de saber o que tinha acontecido na Odisseia de Homero. Mas por ser bem longa e ainda ter o formato de poesia, sempre me afastava. Ainda assim, achei a solução para o meu problema. Ruth Rocha conta a Odisseia é, como diz o título, a Odisseia contada nas palavras de Ruth Rocha, autora muito conhecida na literatura nacional infantil, cujo livro mais conhecido é Marcelo, Marmelo, Martelo.

            Após o término da Guerra de Troia e de vários problemas em sua viagem de volta, Ulisses foi parar na ilha da ninfa Calipso, e não consegue sair de lá. Enquanto isso, sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco fazem de tudo para que os pretendentes da suposta viúva, que estão acomodados em sua casa e acabando com seus bens, desistam dessa ideia de casamento e vão embora.

            Há muitas semelhanças das histórias da mitologia grega com os contos de fadas. Não duvido que o primeiro tenha influenciado o último. Um exemplo é a possibilidade do conto A Bela e a Fera ter sido inspirado no mito de Cupido e Psique. Eu mesma criei um conto baseado no que aprendi nas aulas de mitologia como parte de um trabalho da faculdade. Tirei 9.8. O conto se chama Jornadas e vários de seus personagens são baseados nos deuses da mitologia grega. Ele é uma das histórias contidas no livro A Pena Mágica e outros contos. Recomendo para treze anos ou mais. Mas voltando ao assunto, muito elementos dos mitos gregos são encontrados nos contos de fadas.

Na Odisseia, o orgulho de Ulisses causa a ira de Poseidon, o deus dos mares, que dificulta sua volta para casa e a perda de todos os seus tripulantes. Todos que tem algum dos sete pecados se dão mal. Isso também acontece em contos como em A roupa nova do rei, em que sua vaidade faz com que ele seja facilmente enganado. Há também os que desobedecem ordens superiores. Ulisses recebeu o conselho de não matar os animais do deus Hélio. Ele fala isso aos seus homens, que acabam desobedecendo e sendo punidos pelo deus. Se Branca de Neve não tivesse ouvido o conselho dos anões, não teria sido enganada pela madrasta três vezes. E ainda, a intromissão de Athena e Hermes, deuses poderosos do Olimpo, lembra bastante quando um ser mágico ou animal falante aparece para ajudar o protagonista de contos de fada, como a fada madrinha da Cinderela e o gato em O gato de botas.

            As ilustrações do livro foram feitas por Eduardo Rocha, o marido da autora que infelizmente faleceu em 2012. Seus desenhos lembram bastante as figuras dos vasos antigos da Grécia com um toque infantil. Apesar de simples, as imagens combinaram bastante com a história, dando o toque da época que surgiram esses mitos. Por causa desse livro, o ilustrador ganhou o Prêmio da Fundação do Livro Infantil e Juvenil de 2001.

            Curiosidades interessantes: Sabiam que o nome Odisseia vem de Odisseu, o nome grego de Ulisses? Enquanto Ilíada vem de Ílion, outro nome dado a cidade Troia que significa “rica em cavalos”? Algo que não gostei aqui foi que Hélio, o deus sol e Apolo, deus da luz e da música são a mesma pessoa nessa história apesar de serem entidades diferentes, um sendo um deus titã antigo e o outro um deus olimpiano filho de Zeus.

            Acredito que o livro é bom para apresentar as crianças para a Odisseia, ou para a mitologia grega de um modo geral. Sua linguagem é simples e as palavras estranhas costumam ter uma nota explicativa. Li este livro não só para conhecer a Odisseia de uma maneira mais simples, mas também para me preparar para um próximo romance que vou ler. Qual é o nome dele? Vocês descobrirão em uma próxima resenha.

 

 


sábado, 22 de agosto de 2020

Recomendações para o Dia do Folclore

 

            Como vivo dizendo em minhas resenhas, gosto bastante de mitologia. Mas alguém aqui conhece algo da nossa mitologia? Além dos Sacis, Cucas e Curupiras, existe algum outro mito? Para esse dia do folclore nacional, aqui estão minhas recomendações:



            Lendas da Chiaroscuro studios é uma compilação de vários de nossos mitos, ilustrado por diversos artistas.


            Você gosta das criaturas mágicas do universo de Harry Potter? Então é bom conhecer O Guia das Criaturas Mágicas: desbravando terras brasileiras. Escrito e ilustrado por Thaís Câmara, a autora cria e recria seres mágicos baseados na nossa fauna e folclore. O meu favorito foi a Kunhã Bebé.



            Mboi Tu’i e outros contos, escrito por Renan Cardozo, são histórias de terror, bem no estilo H.P. Lovecraft, que muitas vezes se intercalam umas com as outras. Numa delas, aparece o Mboi Tu’i, ser da mitologia guarani. Para mais detalhes, o livro já possui uma resenha neste blog. Link: http://ponteparaoimaginario.blogspot.com/2017/09/misterio-e-terror-brasileiros.html



            Apesar do mito do lobisomem já ser bastante conhecido tanto aqui quanto no mundo, À Sombra da Lua de Marcos DeBrito adapta bem como a lenda se passaria em uma cidade rural em uma época que ainda não existia televisão. Este blog também possui sua resenha. Link: http://ponteparaoimaginario.blogspot.com/2018/03/o-lobisomem-brasileiro.html

 

 

Boas Leituras!!!

Feliz Dia do Folclore

 

        Roteiro: Mariana Torres

        Desenho: Maya Flor

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Cursed: A releitura da Lenda do Lago



         Como a série baseada neste livro acabou de estrear na Netflix, decidi logo fazer esta resenha. Cursed: A Lenda do Lago foi escrita pelo americano Thomas Wheeler e ilustrada por Frank Miller, sendo este último um quadrinista bastante conhecido e o seu quadrinho mais famoso é a série do Batman, O Cavaleiro das Trevas.

            A jovem Nimue planeja fugir de sua terra devido às estranhas possessões que sofre dos Ocultos, espíritos da natureza, o que faz com que seu povo a trate mal. Mas o que ela fará quando esses mesmos espíritos a escolhem para ser o próximo Conjurador na cerimônia de sucessão?

            Este livro é uma releitura das lendas arthurianas, que infelizmente tenho pouco conhecimento. O único filme que assisti que é baseado nessas histórias é A Espada é a Lei da Disney, que conhecendo a companhia, acredito que tenha modificado bastante o filme para atrair o público infantil. Então, analisarei o livro por si só.

            Apesar de Nimue ser a protagonista do livro, a história é composta de vários pontos de vista como os de Merlim, rei Uther, padre Cardem e outros, dando o romance todos os lados possíveis da guerra que está sendo travada. Infelizmente, alguns círculos são mais bem desenvolvidos e interessantes que outros.

            Quando peguei este livro, já imaginei que teria magia, pois Merlin é um dos magos mais conhecidos da mídia, mesmo para aqueles que não tenham tido contato com a lenda do Rei Arthur. Mas não imaginava que teria a aparição de feéricos neste romance. E assim como na trilogia de Corte de Espinhos e Rosas, lidamos com a rivalidade entre humanos e seres mágicos. Só que os feéricos daqui não são tão poderosos quanto os dos livros da Sarah J. Maas, o que me deixa mais feliz, pois dá um pouco mais de igualdade de forças. Apesar da Igreja conseguir exterminar grande parte desses seres, isso só acontece devido ao ataque surpresa. Numa batalha mais justa, suas forças são mais equivalentes, ganhando aquele que possuir mais habilidade ou uma arma melhor.

            A grande parte dos personagens é genérica. Com exceção do rei Uther, sua mãe Lunette e Merlin, nenhum outro personagem me chamou a atenção. Nimue é a típica garota cabeça-dura que o povo detesta e teme, mas que dá a volta por cima e se torna uma guerreira respeitada por todos. Arthur, apesar de ser um mercenário bem treinado, aparece mais no livro para ser o interesse romântico de Nimue. Morgana está lá apenas para ser a amiga de Nimue e falar mal do irmão. O Monge Choroso podia ter sido desenvolvido melhor. Há mais personagens, porém apenas um em específico, que não direi o seu nome, cuja existência é desnecessária e sua função podia ser dada a outro personagem mais importante, pois teve muito pouco desenvolvimento e aparição no livro comparado a outros. Não direi o porquê gostei dos personagens de cima. Se fizer isso, entraria na zona de spoilers. O que posso dizer é que a história que envolve Uther e a relação com sua mãe Lunette é interessante e teve um bom desfecho. Enquanto Merlin tem uma personalidade de malandro, que me atraí. Ele só fica mais sem graça quando encontra com Nimue.

            Quanto às ilustrações, tenho que confessar que não sou muito fã do estilo de Frank Miller. Mas seu desenho combina com a guerra sanguinária que ocorre no decorrer do livro.

            De um modo geral, não achei o romance nem bom nem ruim. Terminou de um jeito que dá base para uma continuação. Não sei se terá uma sequência, mas se tiver, não devo ler pois a história não me deu ânimo o bastante para saber o que acontece depois. Por outro lado, este livro me deixou curiosa para ler algo relacionado ao seu material de origem, que são as lendas arthurianas, só para saber o que foi modificado. Quem sabe eu leia algo sobre elas um dia.