sexta-feira, 27 de junho de 2025
sexta-feira, 13 de junho de 2025
Os Melhores Contos de Fadas Nórdicos
Já li contos de fadas de
vários lugares, por que não leria das terras dos vikings? Os Melhores Contos
de Fadas Nórdicos é uma coletânea de vários autores e, como faço na maioria
desses livros, analisarei uma história de cada vez e no final darei meu
veredito. Comecemos:
A Leste do Sol e
Oeste da Lua – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um pai vivia com sua família e diversos filhos, sem dinheiro para
alimentá-los nem vesti-los. Numa quinta-feira de outono à noite, com um clima
horrível lá fora, um enorme urso branco bateu em sua janela, oferecendo
riquezas em troca da filha mais nova, que era a mais bonita e amável de seus filhos.
Outro conto que lembra a história de Cupido e Psiquê, mas ao invés de
irmãs invejosas, é uma mãe preocupada que dá o conselho que acaba atrapalhando
o relacionamento da garota e do príncipe. Também lembra bastante o conto O
príncipe papagaio, pois a protagonista pergunta para várias pessoas onde
fica o local em que o príncipe está e delas, ganha presentes que lhe serão
úteis depois.
Peer Gynt – Escrito
por Clara Stroebe. Peer Gynt era um grande caçador. Numa de suas voltas para
casa, ele esbarrou em algo frio, escorregadio e grande. Quando perguntou quem
era, este respondeu que era o Corcunda. Um conto estranho. Parece uma pequena
coletânea de histórias sobre o protagonista enfrentando trolls.
Por que o Mar é
Salgado – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Havia dois irmãos: um rico e um pobre. No Natal, o pobre foi pedir para
o rico algo o que comer. Cansado do irmão viver lhe pedindo coisas, rico ia dar
com a condição de o irmão fazer o que ele pedir. O pobre aceitou e o rico lhe
deu um toucinho e o mandou ir para o Inferno. Chegando lá, o pobre encontrou um
velho, que falou que muitos por lá iriam querer negociar o toucinho por algo,
mas que o dono só deveria aceitar se oferecesse um moinho... Uma história que
responde de maneira fantasiosa o porquê do mar ser salgado. E, como é de se
esperar de um conto de fadas, o rico sempre se dá mal no final enquanto o pobre
prospera.
A Noiva da
Floresta – Escrito por Parker Fillmore. Já tendo
idade para se casarem, os três filhos de um fazendeiro saíram em busca de suas
noivas conforme a árvore que cortaram havia caído. A árvore de Veikko, o mais
novo, apontou em direção à floresta, onde só havia animais. Mesmo assim, ele
foi andando pelo mato e encontrou uma cabana com uma ratinha penteando seus
bigodes... Conto com a mesma premissa do conto russo A princesa sapo* e
de sua variante brasileira, A princesa sapa**, em que o irmão mais novo
fica com uma noiva animal, e apesar de sua aparência, prova que é a melhor
opção e se torna uma bela princesa no final.
Kari Capa Dura – Escrito
por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um rei vivia com sua esposa e sua filha,
até que um dia, sua esposa faleceu, deixando-o triste e solitário. Depois de um
tempo, ele se casou com uma rainha viúva que também tinha uma filha tão feia
quanto a sua era bela. Ela e a mãe odiavam a princesa, porém, não podiam fazer
nada enquanto o rei estivesse por perto. Mas quando ele foi para a guerra, elas aproveitaram
e maltrataram a pobre princesa, deixando-a passar fome. Quando a princesa foi
cuidar do rebanho, toda chorosa, um touro baio, que a moça sempre acariciava,
veio tranquilizá-la, dizendo que em sua
orelha esquerda havia uma toalha que ao puxar e abrir, poderia dar tudo o que
ela quisesse comer... Este conto é descrito no livro como uma versão da Cinderela,
especificamente a versão dos Grimm pelo corte do dedão e do calcanhar da irmã
postiça para caber o sapatinho. Mas sua estrutura lembra O sargento de pau***,
trocando os bailes por idas na igreja. E este último, tem similaridade com Pele
de Asno. Uma mistura de histórias num só conto.
A Criança Trocada
– Escrito por Selma Lagerlof. Uma mãe troll andava com
seu bebê, que para ela era a coisa mais linda do mundo. Até que chegou numa
estrada e viu um casal andando a cavalo com um bebê no colo. A troll acabou
assustando os cavalos sem querer e a mulher deixou cair seu filho no arbusto.
Vendo que o bebê humano era mais belo que o seu, a troll o pegou e deixou o seu
filho no lugar. Um conto que mostra que a bondade pode te recompensar. Há uma hipótese
de que a lenda da criança que é trocada por um ser mágico está associada com
crianças que nasceram com alguma deficiência e que erroneamente, eram mortas.
Aqui, a mãe humana faz de tudo para manter o bebê troll vivo, mesmo o marido e
os empregados o odiando e ela própria tendo ressentimento e desejando em certos
momentos se livrar do que é considerado um peso em sua vida. Acredito que pais
de crianças especiais possam se identificar um pouco com ela. Escrevi um conto
relacionado a esta lenda no livro A Pena Mágica e outros contos.
O Rei Dragão – Escrito
por Svend Grundtvig. Um rei e uma rainha não conseguiam ter filhos. Até que uma
velha disse à rainha que ela conseguiria ter filhos se colocasse um prato no
chão, virado para baixo, no canto noroeste do jardim. No dia seguinte teria
duas rosas. Se ela comesse a branca, seria uma menina e se comesse a vermelha
seria um menino. A rainha fez o que foi dito e comeu a rosa branca. Mas não
resistiu e comeu também a vermelha. Quando o bebê nasceu, viram que ele não era
humano, e sim um dragão... Tinha visto uma versão bem parecida chamada Príncipe
Lindworm. Está aqui possui uma segunda parte após o encantamento ser
desfeito que acho desnecessária.
O Castelo de Soria
Moria – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Halvor nasceu em uma família pobre e não se empenhava em aprender
nenhuma profissão. Só tateava as cinzas do fogão. Até que um dia, um capitão o
chamou para viajar com ele e Halvor aceitou. Após uma tempestade, eles perderam
o seu rumo e foram levados a um estranho litoral. Halvor pediu para descer e
caminhou até encontrar um castelo... Este conto é uma mistura de outros. Aqui,
aparece três trolls com números de cabeça sendo múltiplos de três como em Kari
Capa Dura e o protagonista perde sua amada e tem que partir numa viagem,
perguntando para outros onde fica a sua residência, como em A Leste do Sol e
Oeste da Lua.
A Giganta e o
Barco de Granito – Escrito por Angus W. Hall. Sigurd
foi para outro reino, se casou com Helga, a bela e tiveram um filho. Três anos
depois, Sigurd recebeu a notícia que seu pai havia falecido e foi até seu país
com sua esposa e filho no navio. Mas durante a viagem, enquanto dormia, sua
esposa estava no convés com o bebê. E então, apareceu uma giganta vinda de um
barco de granito, que a forçou trocar de lugar com ela. Não tenho muito o que
dizer desse conto. Apenas que a esperteza de Helga e os ouvidos de dois
príncipes salvaram o dia.
O Gato em
Dovrefjell – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um homem havia capturado um urso-polar para levar ao rei da
Dinamarca. No caminho, ele pediu abrigo a um homem chamado Halvor na véspera do
Natal. Halvor disse que não poderia dar pois trolls vinham em toda véspera de Natal
e atacavam todos da região. Mas o homem insistiu tanto que Halvor cedeu. Este
conto é uma versão de uma das aventuras de Peer Gynt.
Poderoso Mikko – Escrito
por Parker Fillmore. Mikko era um jovem pobre que havia perdido a mãe e o pai
logo depois. Mas antes de partir, o pai deixou para ele três armadilhas e disse
que se encontrasse um animal, o libertasse e o levasse para casa. Mikko
encontrou um raposo na terceira armadilha, levou-o para casa e o tratou bem. O
raposo perguntou por que estava triste e o moço respondeu que se sentia
solitário. O animal então disse que o faria se casar com uma princesa. Uma
versão do Gato de Botas.
Rei Valemon, o
Urso Branco – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um rei tinha três filhas, cuja mais nova era a mais bela e
agradável enquanto as outras eram feias e más. A mais nova sonhou com uma bela
grinalda de ouro e ficou triste por não a ter. Seu pai chamou os melhores
ourives para fazer várias grinaldas, mas a princesa recusou todas. Um dia, brincando
com um Urso Polar, viu que ele possuía a grinalda de seus sonhos. Em troca da
grinalda, o urso quis ter a jovem como noiva. Ela aceitou, mas seu pai não
deixaria que o urso a levasse. Conto muito similar A Leste do Sol e Oeste da
Lua. Apesar de ser descrita como a mais agradável, achei a princesa
bem mimada nesse começo. Outra história em que o mais novo é o mais belo e o
favorito dos pais.
A Flor da Islândia
– Escrito por Marie Jeserich Timme. Marietta, nascida
na Itália, se casou com um marinheiro da Islândia e teve que abandonar sua
terra quente e florida pelo gélido país do marido. Juntos, tiveram uma filha
chamada Helga, que tinha a pele branca e cabelos loiros do pai e os olhos
escuros e misteriosos da mãe. Por sua beleza rara, a apelidaram de flor da
Islândia. Apesar de ter ser casado e ido para o local de nascença do marido,
Marietta não pôde resistir às saudades de sua terra natal e acabou morrendo.
Mas não antes de contar a filha sobre a Itália e deixar a menina com o sonho de
conhecer este país. Anos se passaram e seu pai e primo foram viajar de barco,
negando-a a possibilidade de ir com eles. Helga chorou e seu choro foi ouvido
por alguém que a levou para uma terra ainda melhor que a da mãe: a terra das
fadas. Um conto triste. A história quer que o leitor se simpatize com o amor de
Helga e o rei das fadas, mas para mim, ele foi tão manipulador quanto o pai em
querer deixá-la presa num só lugar.
Lindaura e o Velho
Rei – Escrito por Anna Wahlenberg. O velho rei era um bom
governante, mas desde que perdera a esposa e o filho, não deixava que ninguém
se aproximasse dele, vendo garras nas mãos das pessoas. Um dia, ele estava
caminhando na floresta, até que uma garotinha se agarrou nele, gritando que um
monstro estava atrás dela... Um conto que mostra como a alegria
de uma criança pode ser contagiante.
Lasse, meu vassalo
– Escrito por G. Djurklou. Um nobre gastou toda sua
fortuna e ficou miserável. Andando pela floresta, encontrou uma cabana.
Entrando nela, viu um baú e dentro dele, havia outro baú. Depois de abrir
vários baús, achou um papel no último deles, escrito “Lasse, meu vassalo!” Ao
ler estas palavras em voz alta, alguém lhe respondeu, perguntando o que o seu
mestre ordena... Tudo que se ganha com facilidade, também pode se perder com
facilidade. O esforço pode recompensar.
O Anel – Escrito
por Helena Nyblom. Ao retornar de sua cavalgada noturna, o príncipe deu uma
passada na praia e encontrou um pequeno anel, de pedrinhas azuis que formavam uma
flor não-me-esqueças. Achando que fosse de uma dama do palácio, perguntou se
alguma delas havia perdido um anel, mas nenhuma delas tinha perdido. Ao deixar
o anel numa mesa próxima à sua cama e apagar as luzes, a joia começou a girar. Se
movia todas as noites, a ponto de incomodar o príncipe, que por fim, decidiu
embarcar numa jornada em busca de sua dona. Conto bonitinho.
Noiva Galhuda – Escrito
por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um viúvo tinha dois filhos: um
menino e uma menina. Ele se casou com uma mulher que também era viúva e possuía
uma filha. A nova esposa e irmã era tão ruins com os filhos dele que o rapaz
saiu para cuidar dos cavalos do rei e para ficar bem longe delas. A irmã não
teve essa sorte, sendo maltratada e feita de empregada pelas duas. Ao ir pegar
água, uma cabeça gigante pediu para que a limpasse. Uma segunda pediu que penteasse o seu cabelo e uma terceira pediu que a beijasse. Tendo
atendido todos os seus pedidos, as cabeças decidiram recompensá-la... Parece
uma mistura do conto russo Morozko, o velho inverno**** e o conto A
Giganta e o Barco de Granito.
O Homem de Neve – Escrito
por Hans Christian Andersen. O Homem de Neve conversava com o cachorro que
ficava no quintal. Em suas conversas, o animal mencionou o fogão. Ao ver o
fogão pela janela, o Homem de Neve sentiu algo estranho dentro de si. História
melancólica. O final é, em grande parte, previsível, mas tem um pequeno detalhe
que surpreende.
Heiemo e Nokk –
Escritor anônimo. Um nokk mandou um capitão ir para a terra dos cristãos, pois
ia desposar a bela virgem, Heiemo. Este texto é uma tradução de uma canção
clássica da Noruega e este nokk, pelo que pesquisei, faz parte de mitologia
nórdica e é um espírito aquático que atrai pessoas para a água e então as
afoga. Normalmente, ele aparece na forma de um homem, de uma mulher bonita ou
de um cavalo. Esta última me lembrou o mito do kelpie.
A Saga do Alce
Skutt e da Princesa Tuvstarr – Escrito por Helge
Kjellin. No Castelo do Sonho, vivia uma princesinha chamada Tuvstarr. Ela
encontra um alce chamado Pernalonga Skutt e pediu para este a carregasse vida
afora. Ele avisa que o mundo é cruel lá fora, mas a menina insiste e o alce
acaba a levando. O mundo é realmente cruel e precisa ter cuidado com tudo.
Principalmente numa floresta mágica. Conto melancólico.
Pernacurta e os
Trolls – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um casal muito pobre quase não tinha o que comer e ainda tinha um
filho a cada ano. O pai reclamou tanto disso que quando o seu filho nasceu,
este pediu para que sua mãe lhe desse roupas velhas e comida que ele iria
embora. O seu gêmeo fez a mesma coisa e foi encontrar o mais velho. Os dois se
deram o nome de Rei Robusto e Pernacurta respectivamente e depois de um tempo,
se separaram, com Rei Robusto prometendo vir salvar sua vida se chamasse o seu
nome três vezes. Outra história envolvendo trolls de várias cabeças e situações
envolvendo o número três. Conto legalzinho.
O Monte Élfico – Escrito
por Hans Christian Andersen. O velho rei dos elfos planejava fazer uma festa no
monte élfico, convidando vários tipos de seres sobrenaturais. O convidado mais
esperado era o Velho Duende da Noruega, vindo das antigas montanhas de Dovre. O
duende foi com a intenção de encontrar noivas para seus dois filhos, mas estes
eram bastante mal-educados... Um conto que não possui uma aventura ou algo muito
espetacular. Meio sem graça.
O Vizinho
Subterrâneo – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e
Jorgen Moe. Um camponês teve má sorte com seu gado e perdeu sua propriedade.
Acabou comprando outro pedaço de terra próximo a uma floresta até que encontrou
um homem, que descobriu que além de ser seu vizinho, era uma pessoa do povo
subterrâneo. Mas não se importou e o convidou para cear em sua casa. O vizinho
foi e disse que ele precisava mudar o estábulo de lugar senão haveria
consequências... Gentileza gera gentileza.
Tempestade Mágica
– Escrito por Clara Stroebe. Um jovem camareiro tinha
em sua posse um trevo de quatro folhas, que o permitia ver seres que eram
invisíveis sem que estes seres o pudessem ver. Então, dentro do navio, ele
acabou ouvindo a conversa de três bruxas transformadas em corvos. Elas eram as
esposas do capitão e dos dois intendentes e planejavam matar seus maridos junto
com toda a tripulação. É um tanto estúpido você planejar um assassinato de
alguém no local onde ocorrerá o massacre, e ainda por cima revelar o
contrafeitiço que pode estragar o seu plano. Vilões podem ser estúpidos às
vezes.
A Última Morada
dos Gigantes – Escrito por Marie Jeserich Timme. Num
castelo que antigamente pertencia a gigantes, o atual dono se chama Samund, que
tem uma bela filha chamada Aslog. Ele deseja que a moça se case com algum
homem nobre, mas o coração da jovem pertence a Orm, um pobre pajem. Por negar
todos os pretendentes, o pai a obrigou que escolhesse um noivo antes da noite
de Natal. Então, uma noite antes da data, Aslog foge com Orm. Porém, essa fuga
trará consequências. O perdão é uma dádiva. Apesar ser um dos contos cristãos
que mostra como perdoar faz bem, não vi o cristianismo tão glorificado como nos
outros contos, pois não esconde totalmente o que ele fez com os pagãos, que
aqui é demonstrado figurativamente na forma de gigantes e anões.
Estou tão acostumada com a mitologia nórdica que esperava
alguma menção de Thor, Odin ou Loki em um desses contos. Mas apenas o último
fez menção a Odin como um rei que invadiu um castelo de gigantes pacíficos para
acrescentar ao seu território, matando-os enquanto estavam dormindo. Com
exceção de um casal que fugiu. E é dito que apesar do sangue derramado, ele
governou com “sabedoria, poder e benevolência”. Em nenhuma vez, Odin é
mencionado como um deus. Muito provável que isso tenha acontecido devido a
introdução do cristianismo na região nórdica.
Muitos desses contos mencionam o cristianismo
como algo bom e trolls, que são considerados criaturas malignas, odeiam os
cristãos. Eles os aprisionam ou querem devorá-los. Aparentemente, a religião já
tinha se estabelecido como dominante quando estas histórias foram coletadas. Além
dos trolls, gigantes, elfos e alguns outros seres do folclore nórdico são
mencionados em alguns desses textos.
Tive uma boa experiência literária. Recomendo a leitura
para quem é fã de contos de fadas e deseja conhecer um pouco mais das histórias
nórdicas. Mas se você for cristão, tenha cuidado. Os trolls podem sentir o seu
cheiro...
* Resenha do conto A
princesa sapo: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas russos
**Resenha do conto A
princesa sapa: Ponte
para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil
***Resenha do conto O
sargento de pau: Ponte
para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil
****Resenha do conto Morozko, o velho inverno: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas russos
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Dos pequenos aos grandes
É sempre bom ler uns clássicos de vez em quando... Viagens
de Gulliver foi escrito pelo irlandês Jonathan Swift em 1726. Será que é
bom? Vamos descobrir:
Lemuel Gulliver se formou como médico e sempre quis
viajar pelo mar. Em uma dessas viagens, seu navio naufragou, sendo ele o único
que sobreviveu. Conseguindo chegar em terra, sentiu sono e dormiu. Mas ao
acordar, viu que seu corpo havia sido preso por humanos bem pequenos, com menos
de quinze centímetros de altura.
Primeiramente, tenho que dizer que a edição que tenho em
mãos não está completa. Aqui contém apenas duas partes de quatro sendo elas a Viagem
a Lilliput e a Viagem a Brobdingnag. Faltam a Viagem a Laputa, Balnibarbi, Luggnagg,
Glubbdubdrib e Japão e
a Viagem ao país dos Houyhnhnms. Não sei o porquê a editora Autêntica
não colocou as outras duas partes. Por essa razão, vou apenas resenhar as que
estão contidas nesse livro.
O
livro trata como se os personagens fossem reais, ao ponto que tem um texto do
editor, que é primo de Gulliver, comentando sobre seus escritos, e como ele
cortou certas partes que achava desnecessárias, como detalhes das operações
contra tempestades. Por esses diários terem sido escritos pelo protagonista,
ele é também o narrador e o único cujo ponto de vista é mostrado nessas
viagens. Então, os outros personagens só podem ser vistos pela lente de
Gulliver.
Os lugares em que Gulliver passou foram Lilliput e
Brobdingnag, que são completos opostos. O primeiro, é um lugar de gente bem
pequena, que possui uma rixa com outro país de pessoas pequenas, Blefuscu,
devido a algo que a nossos olhos, seria bobo (qual o lado certo de quebrar um
ovo). Suas leis são bastantes rígidas assim como sua educação. Enquanto
Brobdingnag é uma terra onde as pessoas são gigantes, pacífica, com poucas
matérias nas escolas e também poucos livros. Eles também se diferem no modo
como tratam o protagonista. Lilliput o trata como uma ameaça no começo, depois
como arma de guerra e por último como algo caro para se manter devido ao seu
imenso tamanho. E Brobdingnag o trata como um pet divertido, com uma cultura inferior
à deles. Gulliver é visto literalmente e figurativamente, como alguém grande e
pequeno por essas respectivas nações.
Vi que este livro é classificado como infanto-juvenil e,
sinceramente, não compreendo o porquê. Apesar de ter momentos engraçados, como
Gulliver mijando no palácio do rei de Lilliput para apagar o fogo e a
rivalidade dele com o anão de Brobdingnag, a história tem muitas passagens que focam
nas descrições políticas das nações fictícias e um pouco também da Inglaterra
daquela época que entediaria várias crianças (e alguns adultos). Vi que de
acordo com o próprio autor, ele criou
esse livro para “agredir o mundo, e não o divertir”. Isso explica bastante
coisa.
Quando peguei este livro em mãos, imaginei que fosse uma
simples fantasia e não uma sátira política, o que para mim, foi uma surpresa
desagradável. Apesar de conter algumas críticas interessantes, não gostei muito
e nem desejo ler os capítulos que faltam. Mas se ainda deseja embarcar nessa
história, vá em frente. Só cuidado onde naufragar. Você pode acordar amarrado
por pequenas pessoas ou ser esmagado por um gigante.
sexta-feira, 23 de maio de 2025
sexta-feira, 16 de maio de 2025
Contos Indígenas Brasileiros
Já fiz resenha dos contos
brasileiros. Então, por que não analisar os contos de suas tribos indígenas? Contos
Indígenas Brasileiros é uma coletânea feita por Daniel Munduruku, que é um
índio do povo Munduruku, em 2005. Farei um resumo de cada um dos oito contos do
livro e darei minha opinião no final. Comecemos:
Povo Munduruku
(Mito Tupi)
Do mundo do centro
da Terra ao mundo de cima – Karú-Sakaibê, criador dos
animais, plantas, rios e montanhas, andava pelo mundo com seu companheiro e
ajudante, Rairu. Rairu acabou por fazer um desenho de tatu tão perfeito, que
ele usou resina de mel para colá-lo e assim ele nunca desapareceria. Para
secá-lo, ele o colocou debaixo da terra, com apenas o rabo do lado de fora. Mas
a mão de Rairu ficou grudada na cauda. Querendo desgrudar sua mão, ele deu vida
ao tatu. Porém, seu plano não deu certo e o animal cavou até o centro da Terra.
História que conta a origem do povo Munduruku e de alguns povos indígenas
vizinhos.
Povo Guarani (Mito
Guarani)
O roubo do fogo – Antigamente,
a posse do fogo pertencia aos urubus, que aproveitaram um dia em que o sol
estava fraquinho para retirarem algumas de suas brasas. Nenhum outro animal
possuía o fogo, até que Nhanderequeí, herói do povo Apopocúva, fez um plano
junto aos outros animais para roubá-lo dos urubus. Não tem como ler essa
história sem lembrar de Prometeu, da mitologia grega, que roubou o fogo para os
homens. Uma das interpretações sugere que o fogo era na verdade a sabedoria ou
a inteligência que foi dada somente aos homens pois nenhum outro ser vivo
possui um intelecto como o nosso. Neste conto também pode se ter essa leitura.
Povo Nambikwara
(Mito Nambikwara)
A pele nova da
mulher velha – Há muito tempo, havia uma senhora que por
ser tão velha, todos se afastaram dela. Um dia ela sonhou que era jovem de novo,
cheia de enfeites, cuja única coisa que a deixava triste era não ter penas para
fazer um cocar. Achando que isso era uma mensagem, ela mandou um jovem que ia
passar a noite em sua casa encontrar um tucano para fazer o seu cocar... Conto
com uma proposta interessante, mas decepciona no final.
Povo Karajá (Mito
Karajá)
Por que o sol anda
tão devagar? – Há muito tempo atrás, a Terra era um
planeta escuro e frio, deixando os homens Karajá muito preguiçosos, inclusive o
herói Cananxiuê. Depois da insistência do sogro, dos animais e da esposa,
Cananxiuê foi resolver o problema, trazendo o sol para todos. Mas descobriu que
tanto o sol quanto a lua e a estrela vespertina estavam em posse de Ranranresá,
o urubu-rei. Então, ele teve uma ideia... A história me lembrou a do Roubo
do fogo, não só por ter urubus na posse de algo flamejante como também o
plano para conseguir tomar o objeto. Mas o final é diferente, porque ao
contrário do fogo, a humanidade não possui controle do sol.
Povo Terena (Mito
Terena)
A origem do fumo – Uma
mulher não gostava do seu marido. Então, fez um feitiço contra ele, colocando seu
sangue na árvore de caraguatá e dando o broto para o marido comer. O homem
passou mal e o filho acabou revelando que foi a esposa que fez isso. Irritado,
o marido deu o troco, deixando a mulher furiosa atrás dele, para matá-lo. O
conto tem o mesmo nível fantasioso dos outros, mas não me entreteve tanto.
Fiquei curiosa em saber o motivo pelo qual a mulher odiava o marido. Parece que
a história quer que a gente ache ela má pelo modo animalesco dela na
perseguição e por ser uma feiticeira.
Povo Kaingang
(Mito Kaingang)
Depois do dilúvio
– Há muito tempo atrás, houve um grande dilúvio, cuja
única coisa que ficou fora do alcance das águas foi o pico da serra Crinjijimbê.
Várias pessoas morreram, e seus espíritos fizeram do centro da serra a sua
morada. Os sobreviventes que ficaram no pico foram salvos depois de vários dias
pelas aves saracuras, que fizeram um grande dique junto com as outras aves, o que
fez com que os humanos pudessem passar e as águas irem em direção ao rio Paraná.
Após isso, os espíritos que foram para o centro da Terra reapareceram e
formaram os Kaiurucré e os Kamé. Ambos os povos ajudaram a criar os animais do
planeta. Além dessa história, as mitologias grega e cristã também relatam sobre
um dilúvio. Com tantos povos mencionando-o, me pergunto se realmente não
ocorreu um.
Povo Tukano (Mito
Tukano)
A proeza do
caçador contra o curupira – Um caçador estava com
muita má sorte de pegar uma caça para alimentar sua família. Só havia
conseguido pegar um pequeno macaco. E ainda por cima, a noite havia chegado, e
com ela, o curupira estaria espreitando a procura de caçadores que tenham feito
mal aos seus animais. Não tenho muito a dizer. É um bom conto.
Povo Taulipang
(Mito Taulipang)
A onça valentona e
o raio poderoso – A onça se achava o animal mais poderoso.
Um dia, ela encontrou um homem, que estava preparando um bastão, próximo à
beira de um rio. Ela chegou rapidamente, mas antes de tentar devorá-lo,
resolveu se exibir. Nunca subestime seu oponente.
É um bom livro. Rápido de ler, com glossário no final de
cada conto para tirar dúvida de certas palavras. Se deseja conhecer algumas
histórias das tribos indígenas brasileiras, recomendo a sua leitura. Só não
deixe que os urubus o tomem de você.
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Lendas e Fábulas do Brasil
Já li contos e lendas de vários países. Por que não ler contos
e lendas aqui do Brasil? Lendas e Fábulas do Brasil é uma coletânea
feita pela escritora Ruth Guimarães em 1972. Será que vou reconhecer alguma
dessas histórias? Vamos descobrir:
Dona Baratinha e o fim do mundo – Quando estava varrendo a casa, Dona Baratinha achou um tostão e com ele comprou muitas coisas, deixando tudo mais chique, inclusive ela própria. Então, ela decidiu que era hora de se casar. Conto de fada clássico, com várias repetições. De maneira metafórica, ele mostra que toda tristeza uma hora acaba, o que achei bem fofo.
A pombinha e a Moura-Torta – Um moço foi visitar a madrinha no reino encantado das fadas. Antes de ir embora, a fada lhe deu três gamboas e disse que era para abrir quando estivesse próximo a água. Decepcionado com o presente, ele decidiu abrir num lugar seco e da fruta saiu uma bela moça dizendo estar com sede... Possui uma outra variante no livro que não muda muita coisa. Sinto que já ouvi uma história parecida antes. Não seria de se surpreender, já que os contos de fadas eram orais e “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Tem as típicas repetições e a antagonista tem uma morte cruel. De forma geral, gostei do conto.
As três irmãs – Um
homem teve três belas filhas. A mais velha sonhava em se casar com o padeiro do
rei; a do meio sonhava em casar com o cozinheiro; e por último, a mais nova, sonhava
em se casar com o próprio rei e lhe daria três filhos com estrelas na cabeça. O
rei ouviu tudo isso e decidiu realizar o sonho das três, achando que as faria
felizes. Mas não foi bem assim... Outro típico conto em que as irmãs mais velhas invejam a
mais nova. Como deu pra perceber, o número três está presente nessa história, como
na maioria dos contos de fadas. É uma boa história.
Pedro Malazarte – Pedro
Malazarte trabalhava em sua tendinha de ferreiro quando dois homens pediram
para emprestar a forja. Este permitiu. O homem mais novo pegou uma senhora e
batendo ela na forja, a fez jovem de novo. Os dois peregrinos eram Jesus e seu
discípulo Pedro e como agradecimento por permitir o uso da forja, Jesus deu a
Malazarte três desejos. O ferreiro desejou que quem se sentasse em seu banco, subisse
em sua figueira e entrasse em seu surrão só poderiam sair com a permissão dele.
Vendo que foi tolo e poderia ter pedido dinheiro, ele decide fazer um trato com
o Diabo para este lhe provir. O típico conto em que o protagonista engana o
Diabo, mas mesmo assim, tem um pequeno castigo pelas malandragens que fez
durante a vida. O conto possui uma versão, sem a aparição do Diabo e de São Pedro,
que é contada aqui no livro. Apesar dessa segunda ter uma moral melhor, preferi
a primeira pois é mais cômica. Já havia ouvido falar da figura do Pedro
Malazarte, mas nunca tinha lido o seu conto.
As peneiras do
diabo – Um senhor muito rico ignorava a todos que
considerava abaixo dele, além de ser muito mimado. Um dia, chegando em casa e
vendo que a comida não estava pronta, decidiu sair e quando a esposa o pergunta
para onde ele vai, o marido responde rudemente que ia para o inferno. No
caminho, ele encontra um homem de capa preta, com dentes de ouro montado em uma
mula. Quando este pergunta ao senhor para onde ia e ele dá a mesma resposta que
deu para mulher, o homem responde que pode guiá-lo até lá. Este é um dos contos
que faz o personagem querer se redimir para não ir ao inferno. O problema é que
o motivo pelo qual ele quase foi condenado é porque o seu tataravô roubou a
riqueza de alguém, e não por sua própria arrogância com os outros. Não gosto
desse conceito de dívida histórica. Para mim, devemos ser punidos por nossas
próprias ações e não pela dos nossos antepassados.
Artes de
Branca-Flor – Um moço era viciado em jogos. Até que um
dia, apostou a sombra e perdeu. Vendo que todos o achavam estranho por não ter
sombra, o jovem foi atrás do Diabo para que este a devolvesse. Mas o demônio
não a devolveria se ele não fizesse uns servicinhos antes... Esse é um daqueles
contos em que o herói consegue tudo com a ajuda da filha do monstro. Me lembrou
muito o conto Lis Amarela dos Melhores Contos de Fadas Celtas*. Gostei
da história.
O pinto Sura – O
pinto Sura era bicado por todos de seu galinheiro. Um dia, ele encontrou um
pedaço de papel perto do lixo e achou que fosse uma carta. Decidiu ir até o rei
entregá-la e pedir por justiça. É um daqueles contos que o protagonista encontra
companheiros em seu caminho e eles o ajudam a resolver seus problemas. O final
me lembrou um pouco o do Patinho Feio.
O sargento de pau
– Por tentação do Diabo, um rei se apaixona por sua
filha e deseja se casar com ela. Chorosa em seu quarto, a princesa recebe a visita
de uma velhinha, que é a Nossa Senhora. Ela diz a moça para pedir ao seu pai que
a desse um vestido cor do campo com todas as flores. Já contente, a jovem pede
isso ao pai. Parecia impossível de conseguir, mas o Diabo aparece, vendendo esse
vestido. A história de um pai que se apaixona pela própria filha lembra muito Pele
de Asno, enquanto o meio do conto lembra a Cinderela de Perrault. Um
bom conto, apesar de achar que o príncipe não merecesse ficar com ela no final.
A mãe de ouro – Em
Rosário, havia um senhor de escravos muito cruel. O que mais sofria era o
escravo chamado Pai Antônio, que nunca conseguia achar metal algum na
mineração. Um dia, Pai Antônio foi chorar no mato e encontrou uma bela moça
branca de cabelos de fogo... A mãe de ouro faz parte do folclore do Sudeste,
Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. É dito que ela mostra a localização das
jazidas de ouro. Um bom conto, apesar de
ter gente que não merecia aquele final.
A Mãe d’água – Um
homem tinha como o seu único sustento as melancias que plantava a beira de um
rio. Ao notar que elas andavam desaparecendo, ele vigiou a plantação por três
noites e viu que o ladrão era uma bela mulher de cabelos verdes, vinda do rio.
Ao capturá-la, falou que esta seria sua esposa. Ela concordou, com a condição
de não desprezar gente que vive debaixo d’água. Após o casamento, a sorte do
homem começou a mudar... É um bom conto. Como dito no texto explicativo do
livro, a Mãe d’água deste conto é uma mistura de lendas portuguesas, indígenas
e africanas, em específico a Iara, que já é uma mistura da sereia portuguesa
com o Ipupiara, um ser do folclore indígena, e a deusa africana Iemanjá.
O diabo advogado – Um
andarilho pobre parou numa hospedaria e pediu por comida, prometendo pagar depois.
A dona ofereceu pão com ovos. Ele comeu e foi embora. Dez anos depois, ele volta
cheio de riquezas para pagar o que devia e a mulher avarenta fala que os ovos eram
de uma raça de galos muito valiosa e se não os tivesse fritado, estaria rica. Ela
então cobra o valor equivalente ao que ele tem. O homem não soube o que fazer, até
que encontrou alguém no caminho que ofereceu ser seu advogado. É primeiro conto
em que o Diabo não é o vilão. Tem uma boa lição de que não deveríamos cobrar
por algo que não aconteceu. E que ovos fritos não dão pintos.
O Saci-pererê – De noite, numa tempestade com bastante ventania, nasceram vários sacis dos gomos
de taquaruçu. O último deles se instalou numa fazenda e começou suas
travessuras... Esta história não teve
muita graça, pois soou mais como se eu estivesse lendo um texto explicativo do
Saci com alguns exemplos de seus feitos do que um conto em si.
O príncipe
papagaio – Num reino, havia três princesas, sendo a
mais nova muito bela. Um papagaio sempre passava pela janela onde ela estava e
a pediu em casamento. Achando graça, a jovem aceitou. A ave pediu para que
deixasse uma bacia de água para se banhar. A moça o fez e o papagaio de
transformou num belo príncipe... Me lembrou a história de Cupido e Psiquê.
Um bom conto.
A princesa sapa – Um
rei muito velho quis testar os seus filhos para ver qual deles seria digno do
trono. Então, mandou os três saírem numa jornada para ver qual deles lhe traria
o melhor presente. O mais velho foi pelo caminho da direita, onde encontrou
outro reino e trabalhou em sua fazenda até conseguir o presente. O mesmo
aconteceu com o segundo filho, que foi pelo caminho da esquerda, só que este
trabalhou como comandante de guerra. O terceiro e último filho foi pelo caminho
do meio e ouviu uma bela voz na beira do lago. Ele prometeu se casar com a dona
da voz. Mas descobriu que ela era uma sapa. Este conto me lembrou muito o conto
russo A princesa sapo**, em que, apesar da aparência de anfíbio, a
princesa sapo provou ser a melhor noiva.
O rei que tinha
orelhas de burro – Num reino, havia um rei que nasceu
com orelhas de burro. O único que sabia de seu segredo era o seu fiel barbeiro
mudo. Mas um dia, o barbeiro faleceu e o rei teve que substituí-lo. O novo
barbeiro não aguentava guardar esse segredo, porém, sabia que se abrisse a
boca, seria severamente punido. Então, ele foi para bem longe, cavou um buraco
e gritou o segredo. Uma história curta e bem razoável.
Os dois papudos – Havia
um homem, festeiro, mas gente boa, com papo muito grande. Ele se incomodava com
isso, porém, não tinha como tirá-lo. Até que uma noite, depois de uma festa, ele
encontrou vários anõezinhos dançando em círculos. O rapaz decidiu participar.
Por deixar a festa animada, o anão mais velho decidiu presenteá-lo com um
desejo. Este desejou se livrar do papo e o anão o tirou dele, jogando no chão. Ao
notar que ele estava sem papo, um outro homem papudo, com inveja, insistiu para
que revelasse o seu segredo. Um conto que mostra que devemos ter cuidado com
nossas palavras. Há uma versão africana, só que com uma mulher corcunda chamada
Kaoumba. A história é bem similar, mas não tem essa lição de ter cuidado com as
palavras. Porém, ambas punem os invejosos.
A lenda de São
Cristóvão – Cristóvão era um homem gigante, mas tinha
alma de criança. Ele desejava servir o ser mais poderoso do mundo. Disseram lhe que um rei era o mais poderoso, e este o serviu até perder para outro rei em
uma guerra. Então, Cristóvão foi servir ao ganhador até este dizer que teme
alguém... Pelo título, você já sabe quem Cristóvão irá servir. Essa coisa de trocar
o mestre por um mais forte me lembrou o começo do filme dos Minions.
Quem vê cara... – Jesus
e São Pedro estavam em suas andanças e no caminho passaram por um homem sério com o
terço na mão e um carreiro que falou todo tipo de palavrão. São Pedro apostou
que o primeiro ia para o céu e o segundo ia para o inferno. Mas Jesus não tinha
tanta certeza disso... O título já entrega o que vai acontecer. Porém, discordo
um pouco do método em como a bondade desses homens foi testada. Apesar do
tratamento de excessiva violência, tenho que concordar que a desconfiança que
um dos homens teve em relação ao mestre e seu aprendiz seja coesa, já que não
podemos confiar em todo mundo.
No começo do mundo
– “Deus e o Diabo sentaram-se à beira do rio e começaram
a fazer os animais.” Um conto que não tem nada demais. Só mostra como Deus
criou os animais mais belos e o Diabo não conseguiu superá-lo.
Os três desejos – Um
casal pobre se esquentava próximo ao fogo a lenha, na taipa do fogão. Quando o
homem viu que não tinha nada para comer, a mulher desejou que caísse um pedaço
grande de linguiça de porco no brasido. E por um milagre, seu desejo foi
realizado. Esse é o famoso cuidado com o
que deseja.
Quem te matou? – Um
homem andava por aí e no caminho encontrou uma caveira. Ele deu um pontapé e caçoou dela, perguntando: “quem te matou, caveira?”. Ele se surpreendeu quando ela
respondeu que foi a língua. Ele contou o ocorrido a todos, até chegar nos
ouvidos do rei... Cuidado quando se fala com os mortos.
A mulher que
queria ser imortal – Uma senhora rica queria tanto se
tornar imortal que um dia, um anjo apareceu e disse que se construísse uma
igreja, ela viveria o quanto a construção durasse. Ela então mandou construir
uma igreja de pedra para que durasse mais. Um conto que mostra o quanto a
imortalidade pode ser ruim. Me lembrou um pouco também a premissa do Retrato
de Dorian Gray, mas aqui ela só tem a imortalidade. A velhice continua.
O padre e o menino
esperto – Um padre estava em sua montaria quando viu
um menino próximo ao rio. O padre perguntou a ele se o rio era fundo e o garoto
respondeu que o gado do pai dele atravessava com a água no peito. Mas quando o
padre foi atravessar, a água era tão funda que teve dificuldades para voltar.
Irritado, o padre decidiu falar com os pais do menino, planejando se vingar. Um
conto com bastante jogo de palavras e que mostra que às vezes, não vale a pena
se vingar. Não gostei muito dele. Final pesado.
O macaco e o
confeito – O macaco-guariba achou um vintém e com
ele comprou um confeito. Mas em suas macaquices, ele acabou derrubando o
confeito num tronco oco, e não conseguia tirar. Então, o macaco foi até o
ferreiro e pediu para este fazer lhe um machado. Porém, o ferreiro recusou sem
pagamento, então o macaco foi até o rei para que ele mandasse o ferreiro
construir o machado... Este é um daqueles contos em que o protagonista vai
sempre indo até algo ou alguém mais forte para resolver o seu problema, com
bastante repetição em sua fala.
Macaco Serafim – Cansada
do filho, a mãe do Macaco Serafim fez um virado de feijão e o mandou para fora
de casa. Não estando com fome, o macaco joga o virado no muro e vai embora. Mas
depois, a fome bate e ele volta até o muro e fala para ele devolver o virado.
Tendo os outros bichos já comido o virado e a insistência do Macaco Serafim
estar deixando o muro nos nervos, ele lhe dá um sabão. E assim, o macaco vai
embora... Esse é um daqueles contos em que o protagonista troca objeto com os
outros até se satisfazer. Também há muita repetência nas falas dele como no
conto acima.
O enforcado – Um
andarilho, cansado de tanto caminhar, decidiu subir numa árvore. Mas de noite,
foi surpreendido com várias pessoas com tochas e um padre. Assustado, o homem
pensou ser uma procissão dos mortos. Um conto que mostra como algumas lendas
podem surgir com uma simples confusão.
A guerra dos
marimbondos – O tatu e a onça brigaram e para decidir
quem era o melhor, cada um chamou um batalhão. A onça invocou mamíferos de
grande porte enquanto o tatu chamou seres bem menores... Esse é o famoso
“tamanho não é documento”.
A casa do coelho – O
coelho decidiu que estava na hora de ter uma casa. Mas não tinha dinheiro para uma.
Então, pediu emprestado para o galo, a raposa, o cachorro, a onça e o homem,
prometendo pagá-los depois. Ele conseguiu sua casa, sendo o galo o primeiro a
chegar para cobrar a sua dívida... Um conto que o protagonista usa da sua
esperteza e malandragem para se dar bem no final. Esse coelho é "um sete um".
O coelho e a onça
– O coelho saltitou por aí até chegar num povoado. Lá,
viu uma moça bonita por qual ele se apaixonou. Ele a cortejava, mas tinha um
rival, que era uma onça macho bem forte, que venceria o coelho em uma briga
facilmente. Ainda assim, o coelho espalhou que ele um dia haveria de cavalgar
na onça. Outro conto que o protagonista usa de sua esperteza para conseguir o
que quer.
O gigante – Um
gigante decide sair em busca de fortunas. Ele vai andando até encontrar uma
fazenda, cuja dona é bem avarenta. Ela contrata o gigante achando que ia se dar
bem, devido ao quão desesperado ele parecia estar para arrumar um emprego. Mas
não foi bem isso o que aconteceu... Um conto que mostra que até os burros podem
se dar bem uma vez ou outra.
De uma forma geral, gostei da maioria das histórias. Todos
os contos possuem origens portuguesas, africanas ou indígenas, o que é de se
esperar, já que o Brasil foi formado originalmente por esses três grupos. Mas o
que se nota nos contos de fadas é que apesar de mudar o país onde foi contado,
sempre haverá uma temática parecida, como a da esperteza ganhando da força, do
avarento se dando mal, do irmão mais novo se dando melhor que os mais velhos.
Isso prova que apesar das diferenças culturais de cada lugar, sempre existirão temas
universais.
Recomendo a leitura do livro. Além dos contos, este
também possui explicações de suas origens, que pode interessar aos curiosos. Então,
chegue e dê uma lida. Só não dê ouvidos ao Diabo. Nem ao coelho.
*Resenha do livro Os
Melhores Contos de Fadas Celtas: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas celtas
**Resenha do conto A
princesa sapo: Ponte
para o Imaginário: Contos de fadas russos
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Releitura do Primeiro Assassino
Já li livros que foram
inspirados na Bíblia, sendo um exemplo deles As Crônicas de Nárnia. Mas
não lembro de nenhum que pegue um personagem específico da Bíblia e faça uma
releitura de sua história. O que seria uma releitura? É você pegar uma história
e reescrevê-la, deixando apenas elementos que deixem claro que foi inspirado no
texto original, como por exemplo os nomes e o ambiente que os personagens vivem.
Ou em certos casos, tampar buracos que o original deixou. Caim, escrito
por José Saramago em 2009 faz os dois.
Todos
sabem a história de Adão e Eva. E de Caim e Abel. Pelo menos, pela perspectiva bíblica.
Ao matar Abel, Caim é castigado a vagar pela Terra, mas Deus lhe marcou em sua
testa para que não fosse morto por ninguém. O que acontecerá com Caim após
isso?
Algo que não esperava em uma releitura da Bíblia era
viagem no tempo. Neste livro, Caim viaja em diferentes acontecimentos bíblicos
do Antigo Testamento e, em cada um deles, faz com que sua visão sobre Deus
fique negativa. Ele já era revoltado com Deus desde que este recusou a sua
oferenda em favor do irmão e disse tê-lo matado por não ser capaz de fazer isso
com a própria divindade. Apesar de seus defeitos, não é difícil simpatizar com
Caim (pelo menos até o penúltimo capítulo), ainda mais quando o romance mostra
que Deus assassinou mais gente que o próprio, o que, caso você tenha lido a
Bíblia, você saberá que é verdade.
Além
de reescrever a história, o escritor também tampou alguns buracos deixados pela
Bíblia, como o nome da mãe do filho de Caim, que não tinha nome no original,
mas aqui é chamada de Lilith. Provavelmente, ele pegou justamente esse nome
pois em algumas histórias judaico-cristãs, Lilith foi a primeira esposa de
Adão. No Antigo Testamento, Deus diz que quem cultuá-lo, não pode cultuar
outros deuses. Enquanto aqui, fica implícito que há outros deuses pois Adão e
Eva não eram os únicos humanos. Ou talvez o Deus desse livro seja tão
perfeccionista que criou aqueles humanos há muito tempo atrás e, não satisfeito
com o resultado, criou Adão e Eva para recomeçar. Esse comportamento condiz com
o Deus descrito nesse livro.
Não sou especialista em viagem no tempo, mas sei que
existem duas teorias: a primeira é que o tempo é uma linha reta e se você
voltar e mudar um evento no passado, modifica o futuro (como no filme De
Volta para o Futuro). A segunda é que o tempo tem várias linhas. Se você
voltar no tempo e mudar algo no passado, nada se modifica na sua linha
temporal. Só criaria uma linha do tempo nova, um universo novo. Neste livro não
dá para se saber qual é, mas suponho que seja a segunda, senão não faria
sentido o acontecimento do final do romance. Acredito que o autor nem pensou
nisso ao escrever o livro, pois o foco era a crítica que ele tinha com o Deus
cristão, usando Caim como a pessoa que aponta isso para ele. Mas às vezes, é
interessante analisar outros pontos.
Há incongruências na história com relação a fala dos
personagens, que é anacrônica. Mas o próprio narrador admite que isso é proposital,
pois ele está traduzindo o diálogo para os dias atuais. Exemplo é Caim chamando
um olheiro de bom samaritano sem ele próprio saber de onde vem essa expressão
pois os samaritanos ainda não existiam e Deus dizendo a Josué que não podia
parar o sol pois este já estava parado e quem se mexia era a Terra. Esta última
achei engraçadinha.
O que achei irritante e desnecessário foi o autor não
seguir as regras gramaticais. Vários nomes estão em letra minúscula enquanto os
diálogos não são separados por travessão nem por aspas e sim por vírgula e
letra maiúscula no início da frase. Foi chato de me acostumar. Pelo que vi,
esse é o estilo de José Saramago. Me pergunto com que intento ele teve ao
escrever assim. Foi para ser diferentão? Independente do motivo, não gostei
desse formato.
De uma forma geral, gostei do livro. Com exceção do
último capítulo e o desrespeito gramatical do autor, foi uma boa leitura. Obvio
que aqueles que amam muito a Bíblia não gostarão nenhum pouco das mudanças
feitas pelo escritor. Mas se você não se incomodar com isso ou com os pontos
negativos que mencionei, vá lê-lo. Quem sabe não encontra com Caim em uma de
suas perambulações no tempo?
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Obras do Fradinho da Mão Furada
Muito do folclore
brasileiro foi inspirado nas crenças portuguesas, junto com as indígenas e
africanas. Porém, nunca havia lido uma história que se baseasse em um ser folclórico
de Portugal. Até agora... Obras do Fradinho da Mão Furada é um texto de
autoria desconhecida, mas que foi atribuído ao escritor e dramaturgo António
José da Silva, nascido no Brasil Colônia.
André Peralta é um soldado pobre que arrumou uma casa
abandonada como refúgio da chuva. Mas descobriu que ela não era tão abandonada
assim, pois um demônio era o seu proprietário. Este tinha uma aparência
horrenda e se vestia de frade apesar de sua natureza demoníaca. Ele era o
Fradinho da Mão Furada, um dos servos de Lúcifer que faz pacto com os humanos.
Este oferece um acordo com André Peralta. Será que o homem vai aceitar?
O Fradinho da Mão Furada ou o Diabinho da Mão Furada, que
pode ser considerado tanto o antagonista e guia do protagonista é baseado no
ser do folclore português de mesmo nome. É dito que ele ajuda uma pessoa a
encontrar riquezas, mas isso é apenas uma enganação para tentá-la e levar sua
alma para o inferno. Também gosta de fazer travessuras o que me lembrou a
figura do Saci, só que mais maligna. Aqui no livro, o personagem é bem fiel as
descrições. Ele obriga o protagonista a aceitar sua companhia enquanto em sua
jornada mostra lugares associados ao inferno, que a gente não sabe se é real ou
apenas uma ilusão feita pelo diabinho, enquanto Peralta resiste firmemente as
tentações, pois é um soldado honrado e leal a Deus.
Falando nesses lugares, neles o protagonista se depara
com figuras da mitologia greco-romana como Proserpina (Perséfone na mitologia
grega), Eurídice, Cérbero e o Rei Midas. Também teve o rei Saul, figura bíblica
que invejava os feitos de Davi. Houve também a personificação dos sete pecados
capitais e palavras como a Cobiça, o Engano, a Mentira e a Verdade. Estas duas
últimas me lembrou uma história: um dia, a Mentira engana a Verdade e rouba
suas roupas e se passa por ela, enganando todo mundo. A Verdade apareceu para
desmenti-la, mas como estava nua, todos ficaram chocados e ela desapareceu,
envergonhada. Aqui no livro, a Verdade aparece nua e não sente vergonha
enquanto a Mentira aparece bem adornada. O fradinho comenta que ninguém dá
crédito aos sinceros e malvestidos. E toda mentira costuma ser bem detalhada e
cresce ainda mais com o ego do mentiroso, por isso sua personificação é bem-vestida.
Gostei dessa associação.
Agora para os pontos negativos. Como a linguagem é do
tempo do Brasil colonial, tinha coisas que achei difíceis de entender e isso
dificultou um pouco a leitura do texto. Algo que não é bem um ponto negativo,
mas sim algo curioso, é que quando Peralta esteve no inferno, várias pessoas
estavam sendo punidas de acordo com suas profissões em vida. E lá, estavam os poetas
sendo punidos por compararem obras humanas à divinas. Tenho a impressão de que
o autor do texto, assim como Platão, não gostava muito dos poetas. Para mim,
isso foi excessivo, mas cômico.
Um assunto que acho interessante de destacar é a
discussão entre o diabinho e Peralta em que o primeiro diz que a humanidade nem
precisa de muita interferência dos demônios para serem maus. Enquanto o segundo
diz que ainda assim, existem almas boas que se arrependem, como aconteceu com
alguns dos fiéis santos de Deus. O fradinho replica que isso era antigamente e
hoje não se tem essa esperança. E vocês? Acham que ainda há chance de uma
pessoa má se arrepender e se redimir nos tempos atuais?
De maneira geral, gostei da história. Espero que encontre
outros livros que falem sobre figuras folclóricas de Portugal, pois quase não encontro.
E se quiserem dar uma lida, podem vir. Só tomem cuidado para não encontrarem o
Fradinho da Mão Furada. Se livrar dele vai ser difícil.
sexta-feira, 7 de março de 2025
Instinto e Programação
Tivemos muitas histórias
envolvendo homens se perdendo na selva e tendo que usar a inteligência para
sobreviver. O que aconteceria se quem se perdesse fosse um robô? O livro Robô
Selvagem, escrito por Peter Brown em 2016, apresenta essa questão. Ele é o
primeiro de uma coleção de três obras publicadas até agora. Também possui uma
adaptação cinematográfica lançada em 2024 que foi indicada ao Oscar de
Melhor Animação e, como é de se esperar, não é uma cópia exata do
original, mas as lições continuam intactas e recomendo que assistam.
Um navio cargueiro afundou e apenas uma de suas cargas
conseguiu resistir, sendo levada até uma ilha. Dentro da caixa, havia uma robô chamada
ROZZUM, ou apenas Roz, que foi ligada após lontras curiosas mexerem em seu
caixote. Sem nenhum humano ou civilização para lhe dar comandos, Roz terá que
se adaptar à vida selvagem para sobreviver aos seus perigos.
Interessante como
o autor conseguiu encontrar uma semelhança entre um ser criado artificialmente
e seres naturais e ainda colocar em um livro para crianças. Roz é programada
para aprender, se adaptar e não pode machucar os outros. Isso é algo que está
dentro dela e que a fez permanecer viva na ilha. É muito parecido com os
instintos que os animais possuem. Eles nascem com esse “sexto sentido” programado
na cabeça que os permitem viver no ambiente selvagem.
Mas, saindo um pouco da realidade de como funcionam
animais e inteligências artificiais, Robô Selvagem vai também muito para
o aspecto fantástico em como Roz aprende a língua dos animais e que apesar de
seus instintos, eles são bem humanizados, possuindo emoções complexas e
inteligência quase a nível humana. Roz também vai ganhando humanidade conforme
passa tempo com os bichos. Dar características de pessoas a outros seres ou
coisas é algo comum, principalmente na mídia infantil. Porém, gostaria que eles
não fossem tão humanizados assim, como por exemplo um veado saber construir um
jardim. Isso foi um pouco demais.
Outro
ponto que achei passível de crítica é como os gansos, que migram todo o
inverno, não saberem o que são seres humanos e robôs. Dá para entender o porquê
dos outros animais não terem esse
conhecimento já que vivem numa ilha que, aparentemente, nunca foi tocada por
homens ou máquinas, mas os gansos viajam todo o inverno e nunca se depararam
com eles no caminho antes. Achei essa parte sem sentido, mesmo para um livro
fantasioso.
Acredito que a lição que a maioria dos leitores irá
captar desse livro é como se adaptar a um lugar e ser aceito pelos que vivem
nele. Roz é vista primeiramente como um monstro, um ser que eles nunca viram e
que não precisa comer para sobreviver. Mas após ela adotar um filhote de ganso
e pedir por ajuda sendo educada e retribuindo um favor por outro, os animais
começam a respeitá-la e até mesmo gostarem dela. Através da educação e da calma
se consegue mais coisas do que sendo agressivo e impaciente.
Um livro bonitinho. Recomendo sua leitura para crianças. Assim
como a Roz, somos programados para aprender e uma boa leitura pode nos
proporcionar um grande aprendizado.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Lavando as manchas do seu coração
Já li romances japoneses.
Por que não leria um coreano? O livro A Incrível Lavanderia dos Corações
foi escrito por Yun Jungeun em 2023. Vamos para o resumo:
Numa vila mágica, onde as pessoas não possuíam nenhum
sentimento negativo, uma menina nasce com dois dons: o de apaziguar o
sentimento dos outros e o de realizar desejos. Ao descobrir isso, a menina
desmaia e quando acorda, seus pais haviam desaparecido. Ela tenta usar o seu
dom de realizar desejos para encontrá-los, renascendo várias vezes em épocas
diferentes. Porém, não obteve sucesso. Até que por fim, ela decide usar seus
dons para curar o coração das pessoas, surgindo assim a Lavanderia dos
Corações. Mas será que ela conseguirá lavar a mancha de seu próprio coração?
Como diz o resumo acima, o livro se trata de Jieun, o
nome que a protagonista se dá nessa nova vida, aliviando o coração atormentado
dos outros enquanto ela vai aprendendo a lidar com suas próprias amarguras.
Apesar de Jieun ser a principal, a história apresenta pontos de vistas de
outros personagens, que em sua maioria, são clientes da lavanderia,
apresentando também suas memórias dolorosas. Isso é um bom recurso literário
para fazer o leitor ter empatia por eles e sentir aliviado ao vê-los felizes.
Acredito que a grande lição do livro é que não devemos
focar só no passado. Devemos viver o presente e ter perspectiva para o futuro.
Jieun vivia tão triste por não encontrar os seus pais que esquecia do presente
e das pessoas que viviam a sua volta. Existem erros que não podem ser
consertados. O jeito é seguir em frente e tentar não os cometer novamente.
Assim, a mancha da amargura vai aos poucos desaparecendo.
Mesmo não sendo um livro muito grande, demorei para
lê-lo. Talvez por ser muito introspectivo. Ainda assim, foi uma boa leitura e
recomendo. E lembre-se: se está passando por uma situação ruim, pode levar
dias, meses e até anos, mas ela vai passar. Não deixe que essa mancha cresça e
envolva completamente o seu coração. Siga em frente.