sexta-feira, 13 de junho de 2025

Os Melhores Contos de Fadas Nórdicos

 


        Já li contos de fadas de vários lugares, por que não leria das terras dos vikings? Os Melhores Contos de Fadas Nórdicos é uma coletânea de vários autores e, como faço na maioria desses livros, analisarei uma história de cada vez e no final darei meu veredito. Comecemos:

A Leste do Sol e Oeste da Lua – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um pai vivia com sua família e diversos filhos, sem dinheiro para alimentá-los nem vesti-los. Numa quinta-feira de outono à noite, com um clima horrível lá fora, um enorme urso branco bateu em sua janela, oferecendo riquezas em troca da filha mais nova, que era a mais bonita e amável de seus filhos. Outro conto que lembra a história de Cupido e Psiquê, mas ao invés de irmãs invejosas, é uma mãe preocupada que dá o conselho que acaba atrapalhando o relacionamento da garota e do príncipe. Também lembra bastante o conto O príncipe papagaio, pois a protagonista pergunta para várias pessoas onde fica o local em que o príncipe está e delas, ganha presentes que lhe serão úteis depois.

Peer Gynt – Escrito por Clara Stroebe. Peer Gynt era um grande caçador. Numa de suas voltas para casa, ele esbarrou em algo frio, escorregadio e grande. Quando perguntou quem era, este respondeu que era o Corcunda. Um conto estranho. Parece uma pequena coletânea de histórias sobre o protagonista enfrentando trolls.

Por que o Mar é Salgado – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Havia dois irmãos: um rico e um pobre. No Natal, o pobre foi pedir para o rico algo o que comer. Cansado do irmão viver lhe pedindo coisas, rico ia dar com a condição de o irmão fazer o que ele pedir. O pobre aceitou e o rico lhe deu um toucinho e o mandou ir para o Inferno. Chegando lá, o pobre encontrou um velho, que falou que muitos por lá iriam querer negociar o toucinho por algo, mas que o dono só deveria aceitar se oferecesse um moinho... Uma história que responde de maneira fantasiosa o porquê do mar ser salgado. E, como é de se esperar de um conto de fadas, o rico sempre se dá mal no final enquanto o pobre prospera.

A Noiva da Floresta – Escrito por Parker Fillmore. Já tendo idade para se casarem, os três filhos de um fazendeiro saíram em busca de suas noivas conforme a árvore que cortaram havia caído. A árvore de Veikko, o mais novo, apontou em direção à floresta, onde só havia animais. Mesmo assim, ele foi andando pelo mato e encontrou uma cabana com uma ratinha penteando seus bigodes... Conto com a mesma premissa do conto russo A princesa sapo* e de sua variante brasileira, A princesa sapa**, em que o irmão mais novo fica com uma noiva animal, e apesar de sua aparência, prova que é a melhor opção e se torna uma bela princesa no final.

Kari Capa Dura – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um rei vivia com sua esposa e sua filha, até que um dia, sua esposa faleceu, deixando-o triste e solitário. Depois de um tempo, ele se casou com uma rainha viúva que também tinha uma filha tão feia quanto a sua era bela. Ela e a mãe odiavam a princesa, porém, não podiam fazer nada enquanto o rei estivesse por perto. Mas quando ele foi para a guerra, elas aproveitaram e maltrataram a pobre princesa, deixando-a passar fome. Quando a princesa foi cuidar do rebanho, toda chorosa, um touro baio, que a moça sempre acariciava, veio tranquilizá-la,  dizendo que em sua orelha esquerda havia uma toalha que ao puxar e abrir, poderia dar tudo o que ela quisesse comer... Este conto é descrito no livro como uma versão da Cinderela, especificamente a versão dos Grimm pelo corte do dedão e do calcanhar da irmã postiça para caber o sapatinho. Mas sua estrutura lembra O sargento de pau***, trocando os bailes por idas na igreja. E este último, tem similaridade com Pele de Asno. Uma mistura de histórias num só conto.

A Criança Trocada – Escrito por Selma Lagerlof. Uma mãe troll andava com seu bebê, que para ela era a coisa mais linda do mundo. Até que chegou numa estrada e viu um casal andando a cavalo com um bebê no colo. A troll acabou assustando os cavalos sem querer e a mulher deixou cair seu filho no arbusto. Vendo que o bebê humano era mais belo que o seu, a troll o pegou e deixou o seu filho no lugar. Um conto que mostra que a bondade pode te recompensar. Há uma hipótese de que a lenda da criança que é trocada por um ser mágico está associada com crianças que nasceram com alguma deficiência e que erroneamente, eram mortas. Aqui, a mãe humana faz de tudo para manter o bebê troll vivo, mesmo o marido e os empregados o odiando e ela própria tendo ressentimento e desejando em certos momentos se livrar do que é considerado um peso em sua vida. Acredito que pais de crianças especiais possam se identificar um pouco com ela. Escrevi um conto relacionado a esta lenda no livro A Pena Mágica e outros contos.

O Rei Dragão – Escrito por Svend Grundtvig. Um rei e uma rainha não conseguiam ter filhos. Até que uma velha disse à rainha que ela conseguiria ter filhos se colocasse um prato no chão, virado para baixo, no canto noroeste do jardim. No dia seguinte teria duas rosas. Se ela comesse a branca, seria uma menina e se comesse a vermelha seria um menino. A rainha fez o que foi dito e comeu a rosa branca. Mas não resistiu e comeu também a vermelha. Quando o bebê nasceu, viram que ele não era humano, e sim um dragão... Tinha visto uma versão bem parecida chamada Príncipe Lindworm. Está aqui possui uma segunda parte após o encantamento ser desfeito que acho desnecessária.

O Castelo de Soria Moria – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Halvor nasceu em uma família pobre e não se empenhava em aprender nenhuma profissão. Só tateava as cinzas do fogão. Até que um dia, um capitão o chamou para viajar com ele e Halvor aceitou. Após uma tempestade, eles perderam o seu rumo e foram levados a um estranho litoral. Halvor pediu para descer e caminhou até encontrar um castelo... Este conto é uma mistura de outros. Aqui, aparece três trolls com números de cabeça sendo múltiplos de três como em Kari Capa Dura e o protagonista perde sua amada e tem que partir numa viagem, perguntando para outros onde fica a sua residência, como em A Leste do Sol e Oeste da Lua.

A Giganta e o Barco de Granito – Escrito por Angus W. Hall. Sigurd foi para outro reino, se casou com Helga, a bela e tiveram um filho. Três anos depois, Sigurd recebeu a notícia que seu pai havia falecido e foi até seu país com sua esposa e filho no navio. Mas durante a viagem, enquanto dormia, sua esposa estava no convés com o bebê. E então, apareceu uma giganta vinda de um barco de granito, que a forçou trocar de lugar com ela. Não tenho muito o que dizer desse conto. Apenas que a esperteza de Helga e os ouvidos de dois príncipes salvaram o dia.  

O Gato em Dovrefjell – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um homem havia capturado um urso-polar para levar ao rei da Dinamarca. No caminho, ele pediu abrigo a um homem chamado Halvor na véspera do Natal. Halvor disse que não poderia dar pois trolls vinham em toda véspera de Natal e atacavam todos da região. Mas o homem insistiu tanto que Halvor cedeu. Este conto é uma versão de uma das aventuras de Peer Gynt.

Poderoso Mikko – Escrito por Parker Fillmore. Mikko era um jovem pobre que havia perdido a mãe e o pai logo depois. Mas antes de partir, o pai deixou para ele três armadilhas e disse que se encontrasse um animal, o libertasse e o levasse para casa. Mikko encontrou um raposo na terceira armadilha, levou-o para casa e o tratou bem. O raposo perguntou por que estava triste e o moço respondeu que se sentia solitário. O animal então disse que o faria se casar com uma princesa. Uma versão do Gato de Botas.

Rei Valemon, o Urso Branco – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um rei tinha três filhas, cuja mais nova era a mais bela e agradável enquanto as outras eram feias e más. A mais nova sonhou com uma bela grinalda de ouro e ficou triste por não a ter. Seu pai chamou os melhores ourives para fazer várias grinaldas, mas a princesa recusou todas. Um dia, brincando com um Urso Polar, viu que ele possuía a grinalda de seus sonhos. Em troca da grinalda, o urso quis ter a jovem como noiva. Ela aceitou, mas seu pai não deixaria que o urso a levasse. Conto muito similar A Leste do Sol e Oeste da Lua. Apesar de ser descrita como a mais agradável, achei a princesa bem mimada nesse começo. Outra história em que o mais novo é o mais belo e o favorito dos pais.

A Flor da Islândia – Escrito por Marie Jeserich Timme. Marietta, nascida na Itália, se casou com um marinheiro da Islândia e teve que abandonar sua terra quente e florida pelo gélido país do marido. Juntos, tiveram uma filha chamada Helga, que tinha a pele branca e cabelos loiros do pai e os olhos escuros e misteriosos da mãe. Por sua beleza rara, a apelidaram de flor da Islândia. Apesar de ter ser casado e ido para o local de nascença do marido, Marietta não pôde resistir às saudades de sua terra natal e acabou morrendo. Mas não antes de contar a filha sobre a Itália e deixar a menina com o sonho de conhecer este país. Anos se passaram e seu pai e primo foram viajar de barco, negando-a a possibilidade de ir com eles. Helga chorou e seu choro foi ouvido por alguém que a levou para uma terra ainda melhor que a da mãe: a terra das fadas. Um conto triste. A história quer que o leitor se simpatize com o amor de Helga e o rei das fadas, mas para mim, ele foi tão manipulador quanto o pai em querer deixá-la presa num só lugar.

Lindaura e o Velho Rei – Escrito por Anna Wahlenberg. O velho rei era um bom governante, mas desde que perdera a esposa e o filho, não deixava que ninguém se aproximasse dele, vendo garras nas mãos das pessoas. Um dia, ele estava caminhando na floresta, até que uma garotinha se agarrou nele, gritando que um monstro estava atrás dela... Um conto que mostra como a alegria de uma criança pode ser contagiante.

Lasse, meu vassalo – Escrito por G. Djurklou. Um nobre gastou toda sua fortuna e ficou miserável. Andando pela floresta, encontrou uma cabana. Entrando nela, viu um baú e dentro dele, havia outro baú. Depois de abrir vários baús, achou um papel no último deles, escrito “Lasse, meu vassalo!” Ao ler estas palavras em voz alta, alguém lhe respondeu, perguntando o que o seu mestre ordena... Tudo que se ganha com facilidade, também pode se perder com facilidade. O esforço pode recompensar.

O Anel – Escrito por Helena Nyblom. Ao retornar de sua cavalgada noturna, o príncipe deu uma passada na praia e encontrou um pequeno anel, de pedrinhas azuis que formavam uma flor não-me-esqueças. Achando que fosse de uma dama do palácio, perguntou se alguma delas havia perdido um anel, mas nenhuma delas tinha perdido. Ao deixar o anel numa mesa próxima à sua cama e apagar as luzes, a joia começou a girar. Se movia todas as noites, a ponto de incomodar o príncipe, que por fim, decidiu embarcar numa jornada em busca de sua dona. Conto bonitinho.

Noiva Galhuda – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um viúvo tinha dois filhos: um menino e uma menina. Ele se casou com uma mulher que também era viúva e possuía uma filha. A nova esposa e irmã era tão ruins com os filhos dele que o rapaz saiu para cuidar dos cavalos do rei e para ficar bem longe delas. A irmã não teve essa sorte, sendo maltratada e feita de empregada pelas duas. Ao ir pegar água, uma cabeça gigante pediu para que a limpasse. Uma segunda pediu que penteasse o seu cabelo e uma terceira pediu que a beijasse. Tendo atendido todos os seus pedidos, as cabeças decidiram recompensá-la... Parece uma mistura do conto russo Morozko, o velho inverno**** e o conto A Giganta e o Barco de Granito.

O Homem de Neve – Escrito por Hans Christian Andersen. O Homem de Neve conversava com o cachorro que ficava no quintal. Em suas conversas, o animal mencionou o fogão. Ao ver o fogão pela janela, o Homem de Neve sentiu algo estranho dentro de si. História melancólica. O final é, em grande parte, previsível, mas tem um pequeno detalhe que surpreende.

Heiemo e Nokk – Escritor anônimo. Um nokk mandou um capitão ir para a terra dos cristãos, pois ia desposar a bela virgem, Heiemo. Este texto é uma tradução de uma canção clássica da Noruega e este nokk, pelo que pesquisei, faz parte de mitologia nórdica e é um espírito aquático que atrai pessoas para a água e então as afoga. Normalmente, ele aparece na forma de um homem, de uma mulher bonita ou de um cavalo. Esta última me lembrou o mito do kelpie.

A Saga do Alce Skutt e da Princesa Tuvstarr – Escrito por Helge Kjellin. No Castelo do Sonho, vivia uma princesinha chamada Tuvstarr. Ela encontra um alce chamado Pernalonga Skutt e pediu para este a carregasse vida afora. Ele avisa que o mundo é cruel lá fora, mas a menina insiste e o alce acaba a levando. O mundo é realmente cruel e precisa ter cuidado com tudo. Principalmente numa floresta mágica. Conto melancólico.

Pernacurta e os Trolls – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um casal muito pobre quase não tinha o que comer e ainda tinha um filho a cada ano. O pai reclamou tanto disso que quando o seu filho nasceu, este pediu para que sua mãe lhe desse roupas velhas e comida que ele iria embora. O seu gêmeo fez a mesma coisa e foi encontrar o mais velho. Os dois se deram o nome de Rei Robusto e Pernacurta respectivamente e depois de um tempo, se separaram, com Rei Robusto prometendo vir salvar sua vida se chamasse o seu nome três vezes. Outra história envolvendo trolls de várias cabeças e situações envolvendo o número três. Conto legalzinho.

O Monte Élfico – Escrito por Hans Christian Andersen. O velho rei dos elfos planejava fazer uma festa no monte élfico, convidando vários tipos de seres sobrenaturais. O convidado mais esperado era o Velho Duende da Noruega, vindo das antigas montanhas de Dovre. O duende foi com a intenção de encontrar noivas para seus dois filhos, mas estes eram bastante mal-educados... Um conto que não possui uma aventura ou algo muito espetacular. Meio sem graça.

O Vizinho Subterrâneo – Escrito por Peter Christen Asbjornsen e Jorgen Moe. Um camponês teve má sorte com seu gado e perdeu sua propriedade. Acabou comprando outro pedaço de terra próximo a uma floresta até que encontrou um homem, que descobriu que além de ser seu vizinho, era uma pessoa do povo subterrâneo. Mas não se importou e o convidou para cear em sua casa. O vizinho foi e disse que ele precisava mudar o estábulo de lugar senão haveria consequências... Gentileza gera gentileza.

Tempestade Mágica – Escrito por Clara Stroebe. Um jovem camareiro tinha em sua posse um trevo de quatro folhas, que o permitia ver seres que eram invisíveis sem que estes seres o pudessem ver. Então, dentro do navio, ele acabou ouvindo a conversa de três bruxas transformadas em corvos. Elas eram as esposas do capitão e dos dois intendentes e planejavam matar seus maridos junto com toda a tripulação. É um tanto estúpido você planejar um assassinato de alguém no local onde ocorrerá o massacre, e ainda por cima revelar o contrafeitiço que pode estragar o seu plano. Vilões podem ser estúpidos às vezes.

A Última Morada dos Gigantes – Escrito por Marie Jeserich Timme. Num castelo que antigamente pertencia a gigantes, o atual dono se chama Samund, que tem uma bela filha chamada Aslog. Ele deseja que a moça se case com algum homem nobre, mas o coração da jovem pertence a Orm, um pobre pajem. Por negar todos os pretendentes, o pai a obrigou que escolhesse um noivo antes da noite de Natal. Então, uma noite antes da data, Aslog foge com Orm. Porém, essa fuga trará consequências. O perdão é uma dádiva. Apesar ser um dos contos cristãos que mostra como perdoar faz bem, não vi o cristianismo tão glorificado como nos outros contos, pois não esconde totalmente o que ele fez com os pagãos, que aqui é demonstrado figurativamente na forma de gigantes e anões.

            Estou tão acostumada com a mitologia nórdica que esperava alguma menção de Thor, Odin ou Loki em um desses contos. Mas apenas o último fez menção a Odin como um rei que invadiu um castelo de gigantes pacíficos para acrescentar ao seu território, matando-os enquanto estavam dormindo. Com exceção de um casal que fugiu. E é dito que apesar do sangue derramado, ele governou com “sabedoria, poder e benevolência”. Em nenhuma vez, Odin é mencionado como um deus. Muito provável que isso tenha acontecido devido a introdução do cristianismo na região nórdica.

 Muitos desses contos mencionam o cristianismo como algo bom e trolls, que são considerados criaturas malignas, odeiam os cristãos. Eles os aprisionam ou querem devorá-los. Aparentemente, a religião já tinha se estabelecido como dominante quando estas histórias foram coletadas. Além dos trolls, gigantes, elfos e alguns outros seres do folclore nórdico são mencionados em alguns desses textos.

            Tive uma boa experiência literária. Recomendo a leitura para quem é fã de contos de fadas e deseja conhecer um pouco mais das histórias nórdicas. Mas se você for cristão, tenha cuidado. Os trolls podem sentir o seu cheiro...

 

 

* Resenha do conto A princesa sapo: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas russos

**Resenha do conto A princesa sapa: Ponte para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil

***Resenha do conto O sargento de pau: Ponte para o Imaginário: Lendas e Fábulas do Brasil

****Resenha do conto Morozko, o velho inverno: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas russos

 

 

 


sexta-feira, 6 de junho de 2025

Dos pequenos aos grandes

 


 

            É sempre bom ler uns clássicos de vez em quando... Viagens de Gulliver foi escrito pelo irlandês Jonathan Swift em 1726. Será que é bom? Vamos descobrir:

            Lemuel Gulliver se formou como médico e sempre quis viajar pelo mar. Em uma dessas viagens, seu navio naufragou, sendo ele o único que sobreviveu. Conseguindo chegar em terra, sentiu sono e dormiu. Mas ao acordar, viu que seu corpo havia sido preso por humanos bem pequenos, com menos de quinze centímetros de altura.

            Primeiramente, tenho que dizer que a edição que tenho em mãos não está completa. Aqui contém apenas duas partes de quatro sendo elas a Viagem a Lilliput e a Viagem a Brobdingnag. Faltam a Viagem a Laputa, Balnibarbi, Luggnagg, Glubbdubdrib e Japão e a Viagem ao país dos Houyhnhnms. Não sei o porquê a editora Autêntica não colocou as outras duas partes. Por essa razão, vou apenas resenhar as que estão contidas nesse livro.

            O livro trata como se os personagens fossem reais, ao ponto que tem um texto do editor, que é primo de Gulliver, comentando sobre seus escritos, e como ele cortou certas partes que achava desnecessárias, como detalhes das operações contra tempestades. Por esses diários terem sido escritos pelo protagonista, ele é também o narrador e o único cujo ponto de vista é mostrado nessas viagens. Então, os outros personagens só podem ser vistos pela lente de Gulliver.

            Os lugares em que Gulliver passou foram Lilliput e Brobdingnag, que são completos opostos. O primeiro, é um lugar de gente bem pequena, que possui uma rixa com outro país de pessoas pequenas, Blefuscu, devido a algo que a nossos olhos, seria bobo (qual o lado certo de quebrar um ovo). Suas leis são bastantes rígidas assim como sua educação. Enquanto Brobdingnag é uma terra onde as pessoas são gigantes, pacífica, com poucas matérias nas escolas e também poucos livros. Eles também se diferem no modo como tratam o protagonista. Lilliput o trata como uma ameaça no começo, depois como arma de guerra e por último como algo caro para se manter devido ao seu imenso tamanho. E Brobdingnag o trata como um pet divertido, com uma cultura inferior à deles. Gulliver é visto literalmente e figurativamente, como alguém grande e pequeno por essas respectivas nações.

            Vi que este livro é classificado como infanto-juvenil e, sinceramente, não compreendo o porquê. Apesar de ter momentos engraçados, como Gulliver mijando no palácio do rei de Lilliput para apagar o fogo e a rivalidade dele com o anão de Brobdingnag, a história tem muitas passagens que focam nas descrições políticas das nações fictícias e um pouco também da Inglaterra daquela época que entediaria várias crianças (e alguns adultos). Vi que de acordo com o próprio autor, ele criou esse livro para “agredir o mundo, e não o divertir”. Isso explica bastante coisa.

            Quando peguei este livro em mãos, imaginei que fosse uma simples fantasia e não uma sátira política, o que para mim, foi uma surpresa desagradável. Apesar de conter algumas críticas interessantes, não gostei muito e nem desejo ler os capítulos que faltam. Mas se ainda deseja embarcar nessa história, vá em frente. Só cuidado onde naufragar. Você pode acordar amarrado por pequenas pessoas ou ser esmagado por um gigante.


sexta-feira, 16 de maio de 2025

Contos Indígenas Brasileiros

 


        Já fiz resenha dos contos brasileiros. Então, por que não analisar os contos de suas tribos indígenas? Contos Indígenas Brasileiros é uma coletânea feita por Daniel Munduruku, que é um índio do povo Munduruku, em 2005. Farei um resumo de cada um dos oito contos do livro e darei minha opinião no final. Comecemos:

 

Povo Munduruku (Mito Tupi)

Do mundo do centro da Terra ao mundo de cima – Karú-Sakaibê, criador dos animais, plantas, rios e montanhas, andava pelo mundo com seu companheiro e ajudante, Rairu. Rairu acabou por fazer um desenho de tatu tão perfeito, que ele usou resina de mel para colá-lo e assim ele nunca desapareceria. Para secá-lo, ele o colocou debaixo da terra, com apenas o rabo do lado de fora. Mas a mão de Rairu ficou grudada na cauda. Querendo desgrudar sua mão, ele deu vida ao tatu. Porém, seu plano não deu certo e o animal cavou até o centro da Terra. História que conta a origem do povo Munduruku e de alguns povos indígenas vizinhos.

 

Povo Guarani (Mito Guarani)

O roubo do fogo – Antigamente, a posse do fogo pertencia aos urubus, que aproveitaram um dia em que o sol estava fraquinho para retirarem algumas de suas brasas. Nenhum outro animal possuía o fogo, até que Nhanderequeí, herói do povo Apopocúva, fez um plano junto aos outros animais para roubá-lo dos urubus. Não tem como ler essa história sem lembrar de Prometeu, da mitologia grega, que roubou o fogo para os homens. Uma das interpretações sugere que o fogo era na verdade a sabedoria ou a inteligência que foi dada somente aos homens pois nenhum outro ser vivo possui um intelecto como o nosso. Neste conto também pode se ter essa leitura.

 

Povo Nambikwara (Mito Nambikwara)

A pele nova da mulher velha – Há muito tempo, havia uma senhora que por ser tão velha, todos se afastaram dela. Um dia ela sonhou que era jovem de novo, cheia de enfeites, cuja única coisa que a deixava triste era não ter penas para fazer um cocar. Achando que isso era uma mensagem, ela mandou um jovem que ia passar a noite em sua casa encontrar um tucano para fazer o seu cocar... Conto com uma proposta interessante, mas decepciona no final.

 

Povo Karajá (Mito Karajá)

Por que o sol anda tão devagar? – Há muito tempo atrás, a Terra era um planeta escuro e frio, deixando os homens Karajá muito preguiçosos, inclusive o herói Cananxiuê. Depois da insistência do sogro, dos animais e da esposa, Cananxiuê foi resolver o problema, trazendo o sol para todos. Mas descobriu que tanto o sol quanto a lua e a estrela vespertina estavam em posse de Ranranresá, o urubu-rei. Então, ele teve uma ideia... A história me lembrou a do Roubo do fogo, não só por ter urubus na posse de algo flamejante como também o plano para conseguir tomar o objeto. Mas o final é diferente, porque ao contrário do fogo, a humanidade não possui controle do sol.

 

Povo Terena (Mito Terena)

A origem do fumo – Uma mulher não gostava do seu marido. Então, fez um feitiço contra ele, colocando seu sangue na árvore de caraguatá e dando o broto para o marido comer. O homem passou mal e o filho acabou revelando que foi a esposa que fez isso. Irritado, o marido deu o troco, deixando a mulher furiosa atrás dele, para matá-lo. O conto tem o mesmo nível fantasioso dos outros, mas não me entreteve tanto. Fiquei curiosa em saber o motivo pelo qual a mulher odiava o marido. Parece que a história quer que a gente ache ela má pelo modo animalesco dela na perseguição e por ser uma feiticeira.

 

Povo Kaingang (Mito Kaingang)

Depois do dilúvio – Há muito tempo atrás, houve um grande dilúvio, cuja única coisa que ficou fora do alcance das águas foi o pico da serra Crinjijimbê. Várias pessoas morreram, e seus espíritos fizeram do centro da serra a sua morada. Os sobreviventes que ficaram no pico foram salvos depois de vários dias pelas aves saracuras, que fizeram um grande dique junto com as outras aves, o que fez com que os humanos pudessem passar e as águas irem em direção ao rio Paraná. Após isso, os espíritos que foram para o centro da Terra reapareceram e formaram os Kaiurucré e os Kamé. Ambos os povos ajudaram a criar os animais do planeta. Além dessa história, as mitologias grega e cristã também relatam sobre um dilúvio. Com tantos povos mencionando-o, me pergunto se realmente não ocorreu um.

 

Povo Tukano (Mito Tukano)

A proeza do caçador contra o curupira – Um caçador estava com muita má sorte de pegar uma caça para alimentar sua família. Só havia conseguido pegar um pequeno macaco. E ainda por cima, a noite havia chegado, e com ela, o curupira estaria espreitando a procura de caçadores que tenham feito mal aos seus animais. Não tenho muito a dizer. É um bom conto.

 

Povo Taulipang (Mito Taulipang)

A onça valentona e o raio poderoso – A onça se achava o animal mais poderoso. Um dia, ela encontrou um homem, que estava preparando um bastão, próximo à beira de um rio. Ela chegou rapidamente, mas antes de tentar devorá-lo, resolveu se exibir. Nunca subestime seu oponente.

 

            É um bom livro. Rápido de ler, com glossário no final de cada conto para tirar dúvida de certas palavras. Se deseja conhecer algumas histórias das tribos indígenas brasileiras, recomendo a sua leitura. Só não deixe que os urubus o tomem de você.

 

 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

Lendas e Fábulas do Brasil

 


 

            Já li contos e lendas de vários países. Por que não ler contos e lendas aqui do Brasil? Lendas e Fábulas do Brasil é uma coletânea feita pela escritora Ruth Guimarães em 1972. Será que vou reconhecer alguma dessas histórias? Vamos descobrir:

 

Dona Baratinha e o fim do mundo – Quando estava varrendo a casa, Dona Baratinha achou um tostão e com ele comprou muitas coisas, deixando tudo mais chique, inclusive ela própria. Então, ela decidiu que era hora de se casar. Conto de fada clássico, com várias repetições. De maneira metafórica, ele mostra que toda tristeza uma hora acaba, o que achei bem fofo. 

A pombinha e a Moura-Torta – Um moço foi visitar a madrinha no reino encantado das fadas. Antes de ir embora, a fada lhe deu três gamboas e disse que era para abrir quando estivesse próximo a água. Decepcionado com o presente, ele decidiu abrir num lugar seco e da fruta saiu uma bela moça dizendo estar com sede...  Possui uma outra variante no livro que não muda muita coisa. Sinto que já ouvi uma história parecida antes. Não seria de se surpreender, já que os contos de fadas eram orais e “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Tem as típicas repetições e a antagonista tem uma morte cruel. De forma geral, gostei do conto.

As três irmãs – Um homem teve três belas filhas. A mais velha sonhava em se casar com o padeiro do rei; a do meio sonhava em casar com o cozinheiro; e por último, a mais nova, sonhava em se casar com o próprio rei e lhe daria três filhos com estrelas na cabeça. O rei ouviu tudo isso e decidiu realizar o sonho das três, achando que as faria felizes. Mas não foi bem assim... Outro típico  conto em que as irmãs mais velhas invejam a mais nova. Como deu pra perceber, o número três está presente nessa história, como na maioria dos contos de fadas. É uma boa história.

Pedro Malazarte – Pedro Malazarte trabalhava em sua tendinha de ferreiro quando dois homens pediram para emprestar a forja. Este permitiu. O homem mais novo pegou uma senhora e batendo ela na forja, a fez jovem de novo. Os dois peregrinos eram Jesus e seu discípulo Pedro e como agradecimento por permitir o uso da forja, Jesus deu a Malazarte três desejos. O ferreiro desejou que quem se sentasse em seu banco, subisse em sua figueira e entrasse em seu surrão só poderiam sair com a permissão dele. Vendo que foi tolo e poderia ter pedido dinheiro, ele decide fazer um trato com o Diabo para este lhe provir. O típico conto em que o protagonista engana o Diabo, mas mesmo assim, tem um pequeno castigo pelas malandragens que fez durante a vida. O conto possui uma versão, sem a aparição do Diabo e de São Pedro, que é contada aqui no livro. Apesar dessa segunda ter uma moral melhor, preferi a primeira pois é mais cômica. Já havia ouvido falar da figura do Pedro Malazarte, mas nunca tinha lido o seu conto.

As peneiras do diabo – Um senhor muito rico ignorava a todos que considerava abaixo dele, além de ser muito mimado. Um dia, chegando em casa e vendo que a comida não estava pronta, decidiu sair e quando a esposa o pergunta para onde ele vai, o marido responde rudemente que ia para o inferno. No caminho, ele encontra um homem de capa preta, com dentes de ouro montado em uma mula. Quando este pergunta ao senhor para onde ia e ele dá a mesma resposta que deu para mulher, o homem responde que pode guiá-lo até lá. Este é um dos contos que faz o personagem querer se redimir para não ir ao inferno. O problema é que o motivo pelo qual ele quase foi condenado é porque o seu tataravô roubou a riqueza de alguém, e não por sua própria arrogância com os outros. Não gosto desse conceito de dívida histórica. Para mim, devemos ser punidos por nossas próprias ações e não pela dos nossos antepassados.

Artes de Branca-Flor – Um moço era viciado em jogos. Até que um dia, apostou a sombra e perdeu. Vendo que todos o achavam estranho por não ter sombra, o jovem foi atrás do Diabo para que este a devolvesse. Mas o demônio não a devolveria se ele não fizesse uns servicinhos antes... Esse é um daqueles contos em que o herói consegue tudo com a ajuda da filha do monstro. Me lembrou muito o conto Lis Amarela dos Melhores Contos de Fadas Celtas*. Gostei da história.

O pinto Sura – O pinto Sura era bicado por todos de seu galinheiro. Um dia, ele encontrou um pedaço de papel perto do lixo e achou que fosse uma carta. Decidiu ir até o rei entregá-la e pedir por justiça. É um daqueles contos que o protagonista encontra companheiros em seu caminho e eles o ajudam a resolver seus problemas. O final me lembrou um pouco o do Patinho Feio.

O sargento de pau – Por tentação do Diabo, um rei se apaixona por sua filha e deseja se casar com ela. Chorosa em seu quarto, a princesa recebe a visita de uma velhinha, que é a Nossa Senhora. Ela diz a moça para pedir ao seu pai que a desse um vestido cor do campo com todas as flores. Já contente, a jovem pede isso ao pai. Parecia impossível de conseguir, mas o Diabo aparece, vendendo esse vestido. A história de um pai que se apaixona pela própria filha lembra muito Pele de Asno, enquanto o meio do conto lembra a Cinderela de Perrault. Um bom conto, apesar de achar que o príncipe não merecesse ficar com ela no final.

A mãe de ouro – Em Rosário, havia um senhor de escravos muito cruel. O que mais sofria era o escravo chamado Pai Antônio, que nunca conseguia achar metal algum na mineração. Um dia, Pai Antônio foi chorar no mato e encontrou uma bela moça branca de cabelos de fogo... A mãe de ouro faz parte do folclore do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. É dito que ela mostra a localização das jazidas de ouro.  Um bom conto, apesar de ter gente que não merecia aquele final.

A Mãe d’água – Um homem tinha como o seu único sustento as melancias que plantava a beira de um rio. Ao notar que elas andavam desaparecendo, ele vigiou a plantação por três noites e viu que o ladrão era uma bela mulher de cabelos verdes, vinda do rio. Ao capturá-la, falou que esta seria sua esposa. Ela concordou, com a condição de não desprezar gente que vive debaixo d’água. Após o casamento, a sorte do homem começou a mudar... É um bom conto. Como dito no texto explicativo do livro, a Mãe d’água deste conto é uma mistura de lendas portuguesas, indígenas e africanas, em específico a Iara, que já é uma mistura da sereia portuguesa com o Ipupiara, um ser do folclore indígena, e a deusa africana Iemanjá.

O diabo advogado – Um andarilho pobre parou numa hospedaria e pediu por comida, prometendo pagar depois. A dona ofereceu pão com ovos. Ele comeu e foi embora. Dez anos depois, ele volta cheio de riquezas para pagar o que devia e a mulher avarenta fala que os ovos eram de uma raça de galos muito valiosa e se não os tivesse fritado, estaria rica. Ela então cobra o valor equivalente ao que ele tem. O homem não soube o que fazer, até que encontrou alguém no caminho que ofereceu ser seu advogado. É primeiro conto em que o Diabo não é o vilão. Tem uma boa lição de que não deveríamos cobrar por algo que não aconteceu. E que ovos fritos não dão pintos.

O Saci-pererê – De noite, numa tempestade com bastante ventania, nasceram vários sacis dos gomos de taquaruçu. O último deles se instalou numa fazenda e começou suas travessuras...  Esta história não teve muita graça, pois soou mais como se eu estivesse lendo um texto explicativo do Saci com alguns exemplos de seus feitos do que um conto em si.

O príncipe papagaio – Num reino, havia três princesas, sendo a mais nova muito bela. Um papagaio sempre passava pela janela onde ela estava e a pediu em casamento. Achando graça, a jovem aceitou. A ave pediu para que deixasse uma bacia de água para se banhar. A moça o fez e o papagaio de transformou num belo príncipe... Me lembrou a história de Cupido e Psiquê. Um bom conto.

A princesa sapa – Um rei muito velho quis testar os seus filhos para ver qual deles seria digno do trono. Então, mandou os três saírem numa jornada para ver qual deles lhe traria o melhor presente. O mais velho foi pelo caminho da direita, onde encontrou outro reino e trabalhou em sua fazenda até conseguir o presente. O mesmo aconteceu com o segundo filho, que foi pelo caminho da esquerda, só que este trabalhou como comandante de guerra. O terceiro e último filho foi pelo caminho do meio e ouviu uma bela voz na beira do lago. Ele prometeu se casar com a dona da voz. Mas descobriu que ela era uma sapa. Este conto me lembrou muito o conto russo A princesa sapo**, em que, apesar da aparência de anfíbio, a princesa sapo provou ser a melhor noiva.

O rei que tinha orelhas de burro – Num reino, havia um rei que nasceu com orelhas de burro. O único que sabia de seu segredo era o seu fiel barbeiro mudo. Mas um dia, o barbeiro faleceu e o rei teve que substituí-lo. O novo barbeiro não aguentava guardar esse segredo, porém, sabia que se abrisse a boca, seria severamente punido. Então, ele foi para bem longe, cavou um buraco e gritou o segredo. Uma história curta e bem razoável.

Os dois papudos – Havia um homem, festeiro, mas gente boa, com papo muito grande. Ele se incomodava com isso, porém, não tinha como tirá-lo. Até que uma noite, depois de uma festa, ele encontrou vários anõezinhos dançando em círculos. O rapaz decidiu participar. Por deixar a festa animada, o anão mais velho decidiu presenteá-lo com um desejo. Este desejou se livrar do papo e o anão o tirou dele, jogando no chão. Ao notar que ele estava sem papo, um outro homem papudo, com inveja, insistiu para que revelasse o seu segredo. Um conto que mostra que devemos ter cuidado com nossas palavras. Há uma versão africana, só que com uma mulher corcunda chamada Kaoumba. A história é bem similar, mas não tem essa lição de ter cuidado com as palavras. Porém, ambas punem os invejosos.

A lenda de São Cristóvão – Cristóvão era um homem gigante, mas tinha alma de criança. Ele desejava servir o ser mais poderoso do mundo. Disseram lhe que um rei era o mais poderoso, e este o serviu até perder para outro rei em uma guerra. Então, Cristóvão foi servir ao ganhador até este dizer que teme alguém... Pelo título, você já sabe quem Cristóvão irá servir. Essa coisa de trocar o mestre por um mais forte me lembrou o começo do filme dos Minions.

Quem vê cara... – Jesus e São Pedro estavam em suas andanças e no caminho passaram por um homem sério com o terço na mão e um carreiro que falou todo tipo de palavrão. São Pedro apostou que o primeiro ia para o céu e o segundo ia para o inferno. Mas Jesus não tinha tanta certeza disso... O título já entrega o que vai acontecer. Porém, discordo um pouco do método em como a bondade desses homens foi testada. Apesar do tratamento de excessiva violência, tenho que concordar que a desconfiança que um dos homens teve em relação ao mestre e seu aprendiz seja coesa, já que não podemos confiar em todo mundo.

No começo do mundo – “Deus e o Diabo sentaram-se à beira do rio e começaram a fazer os animais.” Um conto que não tem nada demais. Só mostra como Deus criou os animais mais belos e o Diabo não conseguiu superá-lo.

Os três desejos – Um casal pobre se esquentava próximo ao fogo a lenha, na taipa do fogão. Quando o homem viu que não tinha nada para comer, a mulher desejou que caísse um pedaço grande de linguiça de porco no brasido. E por um milagre, seu desejo foi realizado.  Esse é o famoso cuidado com o que deseja.

Quem te matou? – Um homem andava por aí e no caminho encontrou uma caveira. Ele deu um pontapé e caçoou dela, perguntando: “quem te matou, caveira?”. Ele se surpreendeu quando ela respondeu que foi a língua. Ele contou o ocorrido a todos, até chegar nos ouvidos do rei... Cuidado quando se fala com os mortos.

A mulher que queria ser imortal – Uma senhora rica queria tanto se tornar imortal que um dia, um anjo apareceu e disse que se construísse uma igreja, ela viveria o quanto a construção durasse. Ela então mandou construir uma igreja de pedra para que durasse mais. Um conto que mostra o quanto a imortalidade pode ser ruim. Me lembrou um pouco também a premissa do Retrato de Dorian Gray, mas aqui ela só tem a imortalidade. A velhice continua.

O padre e o menino esperto – Um padre estava em sua montaria quando viu um menino próximo ao rio. O padre perguntou a ele se o rio era fundo e o garoto respondeu que o gado do pai dele atravessava com a água no peito. Mas quando o padre foi atravessar, a água era tão funda que teve dificuldades para voltar. Irritado, o padre decidiu falar com os pais do menino, planejando se vingar. Um conto com bastante jogo de palavras e que mostra que às vezes, não vale a pena se vingar. Não gostei muito dele. Final pesado.

O macaco e o confeito – O macaco-guariba achou um vintém e com ele comprou um confeito. Mas em suas macaquices, ele acabou derrubando o confeito num tronco oco, e não conseguia tirar. Então, o macaco foi até o ferreiro e pediu para este fazer lhe um machado. Porém, o ferreiro recusou sem pagamento, então o macaco foi até o rei para que ele mandasse o ferreiro construir o machado... Este é um daqueles contos em que o protagonista vai sempre indo até algo ou alguém mais forte para resolver o seu problema, com bastante repetição em sua fala.

Macaco Serafim – Cansada do filho, a mãe do Macaco Serafim fez um virado de feijão e o mandou para fora de casa. Não estando com fome, o macaco joga o virado no muro e vai embora. Mas depois, a fome bate e ele volta até o muro e fala para ele devolver o virado. Tendo os outros bichos já comido o virado e a insistência do Macaco Serafim estar deixando o muro nos nervos, ele lhe dá um sabão. E assim, o macaco vai embora... Esse é um daqueles contos em que o protagonista troca objeto com os outros até se satisfazer. Também há muita repetência nas falas dele como no conto acima.

O enforcado – Um andarilho, cansado de tanto caminhar, decidiu subir numa árvore. Mas de noite, foi surpreendido com várias pessoas com tochas e um padre. Assustado, o homem pensou ser uma procissão dos mortos. Um conto que mostra como algumas lendas podem surgir com uma simples confusão.

A guerra dos marimbondos – O tatu e a onça brigaram e para decidir quem era o melhor, cada um chamou um batalhão. A onça invocou mamíferos de grande porte enquanto o tatu chamou seres bem menores... Esse é o famoso “tamanho não é documento”.

A casa do coelho – O coelho decidiu que estava na hora de ter uma casa. Mas não tinha dinheiro para uma. Então, pediu emprestado para o galo, a raposa, o cachorro, a onça e o homem, prometendo pagá-los depois. Ele conseguiu sua casa, sendo o galo o primeiro a chegar para cobrar a sua dívida... Um conto que o protagonista usa da sua esperteza e malandragem para se dar bem no final. Esse coelho é "um sete um".

O coelho e a onça – O coelho saltitou por aí até chegar num povoado. Lá, viu uma moça bonita por qual ele se apaixonou. Ele a cortejava, mas tinha um rival, que era uma onça macho bem forte, que venceria o coelho em uma briga facilmente. Ainda assim, o coelho espalhou que ele um dia haveria de cavalgar na onça. Outro conto que o protagonista usa de sua esperteza para conseguir o que quer.

O gigante – Um gigante decide sair em busca de fortunas. Ele vai andando até encontrar uma fazenda, cuja dona é bem avarenta. Ela contrata o gigante achando que ia se dar bem, devido ao quão desesperado ele parecia estar para arrumar um emprego. Mas não foi bem isso o que aconteceu... Um conto que mostra que até os burros podem se dar bem uma vez ou outra.

 

        De uma forma geral, gostei da maioria das histórias. Todos os contos possuem origens portuguesas, africanas ou indígenas, o que é de se esperar, já que o Brasil foi formado originalmente por esses três grupos. Mas o que se nota nos contos de fadas é que apesar de mudar o país onde foi contado, sempre haverá uma temática parecida, como a da esperteza ganhando da força, do avarento se dando mal, do irmão mais novo se dando melhor que os mais velhos. Isso prova que apesar das diferenças culturais de cada lugar, sempre existirão temas universais.

            Recomendo a leitura do livro. Além dos contos, este também possui explicações de suas origens, que pode interessar aos curiosos. Então, chegue e dê uma lida. Só não dê ouvidos ao Diabo. Nem ao coelho.

 

*Resenha do livro Os Melhores Contos de Fadas Celtas: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas celtas

**Resenha do conto A princesa sapo: Ponte para o Imaginário: Contos de fadas russos

 


sexta-feira, 25 de abril de 2025

Releitura do Primeiro Assassino

 


            Já li livros que foram inspirados na Bíblia, sendo um exemplo deles As Crônicas de Nárnia. Mas não lembro de nenhum que pegue um personagem específico da Bíblia e faça uma releitura de sua história. O que seria uma releitura? É você pegar uma história e reescrevê-la, deixando apenas elementos que deixem claro que foi inspirado no texto original, como por exemplo os nomes e o ambiente que os personagens vivem. Ou em certos casos, tampar buracos que o original deixou. Caim, escrito por José Saramago em 2009 faz os dois.

Todos sabem a história de Adão e Eva. E de Caim e Abel. Pelo menos, pela perspectiva bíblica. Ao matar Abel, Caim é castigado a vagar pela Terra, mas Deus lhe marcou em sua testa para que não fosse morto por ninguém. O que acontecerá com Caim após isso?

            Algo que não esperava em uma releitura da Bíblia era viagem no tempo. Neste livro, Caim viaja em diferentes acontecimentos bíblicos do Antigo Testamento e, em cada um deles, faz com que sua visão sobre Deus fique negativa. Ele já era revoltado com Deus desde que este recusou a sua oferenda em favor do irmão e disse tê-lo matado por não ser capaz de fazer isso com a própria divindade. Apesar de seus defeitos, não é difícil simpatizar com Caim (pelo menos até o penúltimo capítulo), ainda mais quando o romance mostra que Deus assassinou mais gente que o próprio, o que, caso você tenha lido a Bíblia, você saberá que é verdade.

Além de reescrever a história, o escritor também tampou alguns buracos deixados pela Bíblia, como o nome da mãe do filho de Caim, que não tinha nome no original, mas aqui é chamada de Lilith. Provavelmente, ele pegou justamente esse nome pois em algumas histórias judaico-cristãs, Lilith foi a primeira esposa de Adão. No Antigo Testamento, Deus diz que quem cultuá-lo, não pode cultuar outros deuses. Enquanto aqui, fica implícito que há outros deuses pois Adão e Eva não eram os únicos humanos. Ou talvez o Deus desse livro seja tão perfeccionista que criou aqueles humanos há muito tempo atrás e, não satisfeito com o resultado, criou Adão e Eva para recomeçar. Esse comportamento condiz com o Deus descrito nesse livro.

            Não sou especialista em viagem no tempo, mas sei que existem duas teorias: a primeira é que o tempo é uma linha reta e se você voltar e mudar um evento no passado, modifica o futuro (como no filme De Volta para o Futuro). A segunda é que o tempo tem várias linhas. Se você voltar no tempo e mudar algo no passado, nada se modifica na sua linha temporal. Só criaria uma linha do tempo nova, um universo novo. Neste livro não dá para se saber qual é, mas suponho que seja a segunda, senão não faria sentido o acontecimento do final do romance. Acredito que o autor nem pensou nisso ao escrever o livro, pois o foco era a crítica que ele tinha com o Deus cristão, usando Caim como a pessoa que aponta isso para ele. Mas às vezes, é interessante analisar outros pontos.

            Há incongruências na história com relação a fala dos personagens, que é anacrônica. Mas o próprio narrador admite que isso é proposital, pois ele está traduzindo o diálogo para os dias atuais. Exemplo é Caim chamando um olheiro de bom samaritano sem ele próprio saber de onde vem essa expressão pois os samaritanos ainda não existiam e Deus dizendo a Josué que não podia parar o sol pois este já estava parado e quem se mexia era a Terra. Esta última achei engraçadinha.

            O que achei irritante e desnecessário foi o autor não seguir as regras gramaticais. Vários nomes estão em letra minúscula enquanto os diálogos não são separados por travessão nem por aspas e sim por vírgula e letra maiúscula no início da frase. Foi chato de me acostumar. Pelo que vi, esse é o estilo de José Saramago. Me pergunto com que intento ele teve ao escrever assim. Foi para ser diferentão? Independente do motivo, não gostei desse formato.

            De uma forma geral, gostei do livro. Com exceção do último capítulo e o desrespeito gramatical do autor, foi uma boa leitura. Obvio que aqueles que amam muito a Bíblia não gostarão nenhum pouco das mudanças feitas pelo escritor. Mas se você não se incomodar com isso ou com os pontos negativos que mencionei, vá lê-lo. Quem sabe não encontra com Caim em uma de suas perambulações no tempo?

 


sexta-feira, 18 de abril de 2025

Obras do Fradinho da Mão Furada


            Muito do folclore brasileiro foi inspirado nas crenças portuguesas, junto com as indígenas e africanas. Porém, nunca havia lido uma história que se baseasse em um ser folclórico de Portugal. Até agora... Obras do Fradinho da Mão Furada é um texto de autoria desconhecida, mas que foi atribuído ao escritor e dramaturgo António José da Silva, nascido no Brasil Colônia.

            André Peralta é um soldado pobre que arrumou uma casa abandonada como refúgio da chuva. Mas descobriu que ela não era tão abandonada assim, pois um demônio era o seu proprietário. Este tinha uma aparência horrenda e se vestia de frade apesar de sua natureza demoníaca. Ele era o Fradinho da Mão Furada, um dos servos de Lúcifer que faz pacto com os humanos. Este oferece um acordo com André Peralta. Será que o homem vai aceitar?

            O Fradinho da Mão Furada ou o Diabinho da Mão Furada, que pode ser considerado tanto o antagonista e guia do protagonista é baseado no ser do folclore português de mesmo nome. É dito que ele ajuda uma pessoa a encontrar riquezas, mas isso é apenas uma enganação para tentá-la e levar sua alma para o inferno. Também gosta de fazer travessuras o que me lembrou a figura do Saci, só que mais maligna. Aqui no livro, o personagem é bem fiel as descrições. Ele obriga o protagonista a aceitar sua companhia enquanto em sua jornada mostra lugares associados ao inferno, que a gente não sabe se é real ou apenas uma ilusão feita pelo diabinho, enquanto Peralta resiste firmemente as tentações, pois é um soldado honrado e leal a Deus.

            Falando nesses lugares, neles o protagonista se depara com figuras da mitologia greco-romana como Proserpina (Perséfone na mitologia grega), Eurídice, Cérbero e o Rei Midas. Também teve o rei Saul, figura bíblica que invejava os feitos de Davi. Houve também a personificação dos sete pecados capitais e palavras como a Cobiça, o Engano, a Mentira e a Verdade. Estas duas últimas me lembrou uma história: um dia, a Mentira engana a Verdade e rouba suas roupas e se passa por ela, enganando todo mundo. A Verdade apareceu para desmenti-la, mas como estava nua, todos ficaram chocados e ela desapareceu, envergonhada. Aqui no livro, a Verdade aparece nua e não sente vergonha enquanto a Mentira aparece bem adornada. O fradinho comenta que ninguém dá crédito aos sinceros e malvestidos. E toda mentira costuma ser bem detalhada e cresce ainda mais com o ego do mentiroso, por isso sua personificação é bem-vestida. Gostei dessa associação.

            Agora para os pontos negativos. Como a linguagem é do tempo do Brasil colonial, tinha coisas que achei difíceis de entender e isso dificultou um pouco a leitura do texto. Algo que não é bem um ponto negativo, mas sim algo curioso, é que quando Peralta esteve no inferno, várias pessoas estavam sendo punidas de acordo com suas profissões em vida. E lá, estavam os poetas sendo punidos por compararem obras humanas à divinas. Tenho a impressão de que o autor do texto, assim como Platão, não gostava muito dos poetas. Para mim, isso foi excessivo, mas cômico.

            Um assunto que acho interessante de destacar é a discussão entre o diabinho e Peralta em que o primeiro diz que a humanidade nem precisa de muita interferência dos demônios para serem maus. Enquanto o segundo diz que ainda assim, existem almas boas que se arrependem, como aconteceu com alguns dos fiéis santos de Deus. O fradinho replica que isso era antigamente e hoje não se tem essa esperança. E vocês? Acham que ainda há chance de uma pessoa má se arrepender e se redimir nos tempos atuais?

            De maneira geral, gostei da história. Espero que encontre outros livros que falem sobre figuras folclóricas de Portugal, pois quase não encontro. E se quiserem dar uma lida, podem vir. Só tomem cuidado para não encontrarem o Fradinho da Mão Furada. Se livrar dele vai ser difícil.


 

sexta-feira, 7 de março de 2025

Instinto e Programação

 



          Tivemos muitas histórias envolvendo homens se perdendo na selva e tendo que usar a inteligência para sobreviver. O que aconteceria se quem se perdesse fosse um robô? O livro Robô Selvagem, escrito por Peter Brown em 2016, apresenta essa questão. Ele é o primeiro de uma coleção de três obras publicadas até agora. Também possui uma adaptação cinematográfica lançada em 2024 que foi indicada ao Oscar de Melhor Animação e, como é de se esperar, não é uma cópia exata do original, mas as lições continuam intactas e recomendo que assistam.

            Um navio cargueiro afundou e apenas uma de suas cargas conseguiu resistir, sendo levada até uma ilha. Dentro da caixa, havia uma robô chamada ROZZUM, ou apenas Roz, que foi ligada após lontras curiosas mexerem em seu caixote. Sem nenhum humano ou civilização para lhe dar comandos, Roz terá que se adaptar à vida selvagem para sobreviver aos seus perigos.

         Interessante como o autor conseguiu encontrar uma semelhança entre um ser criado artificialmente e seres naturais e ainda colocar em um livro para crianças. Roz é programada para aprender, se adaptar e não pode machucar os outros. Isso é algo que está dentro dela e que a fez permanecer viva na ilha. É muito parecido com os instintos que os animais possuem. Eles nascem com esse “sexto sentido” programado na cabeça que os permitem viver no ambiente selvagem.

            Mas, saindo um pouco da realidade de como funcionam animais e inteligências artificiais, Robô Selvagem vai também muito para o aspecto fantástico em como Roz aprende a língua dos animais e que apesar de seus instintos, eles são bem humanizados, possuindo emoções complexas e inteligência quase a nível humana. Roz também vai ganhando humanidade conforme passa tempo com os bichos. Dar características de pessoas a outros seres ou coisas é algo comum, principalmente na mídia infantil. Porém, gostaria que eles não fossem tão humanizados assim, como por exemplo um veado saber construir um jardim. Isso foi um pouco demais.

Outro ponto que achei passível de crítica é como os gansos, que migram todo o inverno, não saberem o que são seres humanos e robôs. Dá para entender o porquê dos outros animais não terem esse conhecimento já que vivem numa ilha que, aparentemente, nunca foi tocada por homens ou máquinas, mas os gansos viajam todo o inverno e nunca se depararam com eles no caminho antes. Achei essa parte sem sentido, mesmo para um livro fantasioso.

            Acredito que a lição que a maioria dos leitores irá captar desse livro é como se adaptar a um lugar e ser aceito pelos que vivem nele. Roz é vista primeiramente como um monstro, um ser que eles nunca viram e que não precisa comer para sobreviver. Mas após ela adotar um filhote de ganso e pedir por ajuda sendo educada e retribuindo um favor por outro, os animais começam a respeitá-la e até mesmo gostarem dela. Através da educação e da calma se consegue mais coisas do que sendo agressivo e impaciente.

         Um livro bonitinho. Recomendo sua leitura para crianças. Assim como a Roz, somos programados para aprender e uma boa leitura pode nos proporcionar um grande aprendizado.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Lavando as manchas do seu coração

 


            Já li romances japoneses. Por que não leria um coreano? O livro A Incrível Lavanderia dos Corações foi escrito por Yun Jungeun em 2023. Vamos para o resumo:

            Numa vila mágica, onde as pessoas não possuíam nenhum sentimento negativo, uma menina nasce com dois dons: o de apaziguar o sentimento dos outros e o de realizar desejos. Ao descobrir isso, a menina desmaia e quando acorda, seus pais haviam desaparecido. Ela tenta usar o seu dom de realizar desejos para encontrá-los, renascendo várias vezes em épocas diferentes. Porém, não obteve sucesso. Até que por fim, ela decide usar seus dons para curar o coração das pessoas, surgindo assim a Lavanderia dos Corações. Mas será que ela conseguirá lavar a mancha de seu próprio coração?

            Como diz o resumo acima, o livro se trata de Jieun, o nome que a protagonista se dá nessa nova vida, aliviando o coração atormentado dos outros enquanto ela vai aprendendo a lidar com suas próprias amarguras. Apesar de Jieun ser a principal, a história apresenta pontos de vistas de outros personagens, que em sua maioria, são clientes da lavanderia, apresentando também suas memórias dolorosas. Isso é um bom recurso literário para fazer o leitor ter empatia por eles e sentir aliviado ao vê-los felizes.

            Acredito que a grande lição do livro é que não devemos focar só no passado. Devemos viver o presente e ter perspectiva para o futuro. Jieun vivia tão triste por não encontrar os seus pais que esquecia do presente e das pessoas que viviam a sua volta. Existem erros que não podem ser consertados. O jeito é seguir em frente e tentar não os cometer novamente. Assim, a mancha da amargura vai aos poucos desaparecendo.

            Mesmo não sendo um livro muito grande, demorei para lê-lo. Talvez por ser muito introspectivo. Ainda assim, foi uma boa leitura e recomendo. E lembre-se: se está passando por uma situação ruim, pode levar dias, meses e até anos, mas ela vai passar. Não deixe que essa mancha cresça e envolva completamente o seu coração. Siga em frente.