sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Rullu e a Maldição do Dragão Kamii

 


         Trago mais um livro escrito por uma brasileira no Kindle. Rullu e a Maldição do Dragão Kamii foi escrita por Natália França em 2023. Será que é bom? Vamos descobrir:

            Rullu é um jovem rebelde, que sempre quis sair da Vila dos Hakikunas para conhecer o mundo. Mas seu povo sofre de uma terrível maldição. Por um erro do passado, os hakikunas são atacados pelo monstro Korogommu a cada trezentos anos, sendo oferecidos jovens de catorze anos como sacrifício. Como Rullu resolverá esse problema?

            Quem já leu minhas resenhas sabe que gosto de fantasia e folclore e este livro parece ser  inspirado no folclore japonês. O dragão Kamii é descrito e ilustrado como um típico dragão oriental, que na Ásia, são vistos como figuras divinas; e Korogommu lembra bastante a joroogumo, a mulher aranha da mitologia japonesa. Há palavras que também soam como japonesas, como por exemplo Kamii, que se tirar um “i” significa deus em japonês.

            A história contém elementos da jornada do herói em que o protagonista Rullu, sendo incentivado por sua mãe, aceita o chamado da aventura e enfrenta desafios no caminho, ganhando um aliado e aprendendo coisas pelo caminho.

            Dois temas que me chamaram a atenção: o primeiro é o medo da velhice, de não ter vivido aquilo que gostaríamos de ter vivenciado. Algo que vários jovens e até mesmo adultos temem e seria interessante ver mais obras que mencionem esse assunto. O outro é o poder do perdão, que também é importante para que tanto o perdoado e quem perdoou sigam em frente.

            A relação entre mãe e filho é importante e é um dos focos do livro. Mas gostaria que o pai tivesse aparecido um pouco mais. Até mesmo o irmão mais novo de Rullu teve sua importância sendo o narrador da história enquanto o pai foi deixado de lado.

            O livro é curto, contendo apenas dez capítulos, tendo final acabado de forma muito rápida na minha opinião. A história poderia ser um pouco maior. Mas recomendo sua leitura. Só cuidado para não encontrarem os irmãos Makendigo pelo caminho.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Looney Tunes da Literatura

 


             Alguém já leu Reinações de Narizinho e se perguntou quem era o Barão de Munchhausen? Este livro irá te responder. Aventuras do Barão de Munchhausen foi escrito por Rudolf Erich Raspe e publicado em 1785.

            Numa época em que não existia cinema nem televisão e teatro era apenas para os ricos, os camponeses tinham pouco com o que se distrair, vivendo sempre seu cotidiano entediante. Mas não foi essa a vida que levou o Barão de Munchhausen. Ele teve muitas aventuras em suas caçadas e agora em sua velhice, ele distrai os trabalhadores contando suas histórias.

            O que mais chama a atenção desse livro é o nível de loucura das aventuras do barão, que faz lembrar os desenhos clássicos como os Looney Tunes. Um exemplo é demonstrado na capa do livro em que um cavalo é cortado ao meio e ainda continua vivo, tendo sua parte traseira costurada depois. Outro é quando o barão atira em um veado com uma semente de cerejeira e dois anos depois nasce uma árvore entre suas galhadas. Essa história da cerejeira é referenciada em Reinações de Narizinho em que o barão tenta caçar o Pássaro Roca atirando sementes de cerejeira para que nasça um bosque e faça a ave parar de voar, pois nenhuma arma surtia efeito no bicho. Existem algumas aventuras mais pés no chão, mas estas são bem poucas e ainda assim tem um pouco de exagero.

            Assim como o príncipe Edward do Príncipe e o Mendigo, o Barão de Munchhausen realmente existiu, porém, não sei se classificaria como uma ficção histórica pois apesar de ser inventada, a história do Príncipe e o Mendigo não possui seres imaginários nem a "física de desenho animado" (exemplo: um homem ser atropelado e depois sair andando feito folha de papel) como as Aventuras do Barão Munchhausen, tendo uma proposta bem mais realista. O barão da vida real, assim como o do livro, era realmente um contador de histórias e é dito que o autor desse livro transcreveu todas as aventuras que ouviu. Agora se o exagero delas veio do barão ou do escritor, não dá para saber. Talvez tenha sido os dois, pois como dizem: “quem conta um conto, aumenta um ponto”.

            É um bom livro para crianças entre oito e dez anos, desde que elas não sejam tão sensíveis a morte de animais já que o barão é um caçador. E tem que se levar em conta que a obra é de 1785 e era uma época bem diferente do que é hoje. Nada me ofendeu nesse livro, mas cada um tem sua sensibilidade. Então, segure em uma bola de canhão e atire em direção a essa aventura.

 


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O Vampiro mais Popular

 


            Para esse Halloween, nada mais justo do que fazer uma resenha do vampiro mais popular do mundo. Drácula foi escrito por Bram Stoker em 1897 e teve várias adaptações para o cinema, assim como a aparição do personagem em outras mídias. Sem mais delongas, vamos para o resumo:

            Jonathan Harker está indo se encontrar com o Conde Drácula para fazer negócios. Mas quando chegou ao seu hotel em Bistritz e avisou aos donos que iria encontrar o conde, eles começaram a agir de forma estranha. A dona lhe disse que era véspera do dia de São Jorge e que a meia-noite, todos os espíritos malignos estarão a solta. A mulher deu uma cruz e antes de partir numa carruagem, os outros cidadãos também fizeram sinais da cruz. Será que as crenças desse povo tinham algum fundo de verdade?

            A narrativa é contada através de diários, cartas, pedaços de jornal, telegramas e memorandos, tudo em ordem cronológica. Como leitora, acredito que teria sido melhor deixar o relato de Jonathan Harker enquanto ele esteve no castelo do Conde mais para o meio do livro, pois não saberíamos quem é o Drácula nem do que ele é capaz, dando a história um ar de mistério. Mas entendo que essa estrutura foi escolhida assim justamente pelos personagens que enfrentaram o vampiro.

            Por falar nos personagens, temos vários deles: Jonathan Harker, que encontrou o Conde no começo e é determinado em proteger a sua noiva.  Mina Murray, sua perspicaz noiva e amiga de Lucy. Lucy, uma jovem doce que sofria de sonambulismo e foi uma das vítimas do Conde. John Seward, um homem sério que cuida de um manicômio em que um dos loucos parece ter tido contato com o Conde. Abraham Van Helsing, amigo e ex-professor de Seward, muito sábio, foi quem descobriu sobre o vampiro e tenta eliminá-lo. Arthur Holmwood, o noivo de Lucy, um nobre que ajuda o grupo com seu status e dinheiro. Quincey Morris, um americano que já viveu várias aventuras em suas viagens, sendo muito bom em caçadas e amigo de John e Arthur, que também estava apaixonado por Lucy. Com isso, formamos personagens perfeitos para um jogo do Arkhan Horror. Brincadeiras a parte, eles formam um bom grupo de heróis, uma pena que uns se destacam mais que outros. Quanto ao vilão e titular do livro, por incrível que pareça, quase não aparece. Seu passado é um mistério e tudo o que sabemos é que é um ser maléfico, inteligente e paciente. Possui vários poderes, como controlar lobos e ratos, se transformar num lobo ou morcego, fazer ou se tornar uma neblina, transformar quem morde em vampiros etc. Ao contrário do que todos pensam, ele não morre com a luz do sol, apenas diminui os seus poderes.

            A edição que possuo em mãos conta que o conde foi baseado no príncipe Vlad III Dracula, o Empalador, que fica bem óbvio pelo nome, e existe a possibilidade que o autor tenha colocado algo da Condessa de Sangue Elizabeth Bathory, que torturou e matou muitas moças, acreditando que o sangue delas a fazia rejuvenescer. Também teve inspiração no livro Carmilla, outra vampira popular cuja resenha já foi feita nesse blog.

             Quanto a história, eu gostei, diria que seu maior defeito foi o clímax, que não teve muita graça. E tenho que avisar aos mais sensíveis que o livro é de 1897 e que o diálogo de Van Helsing sobre Mina ter um coração de mulher e a inteligência de um homem não foi com o intuito de ofender a moça. E para as personagens daquela época, Mina é bem ativa e ajuda bastante o grupo a deter os planos do Drácula. Dito isto, recomendo a leitura deste clássico, só fique alerta se ouvir uivos em seu caminho.

 

 

 

 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A Primeira Viagem no Tempo

 


            Retorno com a resenha de mais uma obra clássica escrita por H. G. Wells. A Máquina do Tempo foi escrita em 1895 e foi o livro que originou o subgênero de viagem no tempo.

            Numa discussão científica, um cientista sugere qual seria a quarta dimensão: o tempo. E com isso, ele faz uma demonstração usando um protótipo antes de mostrar a máquina do tempo, que ainda não estava finalizada. Dias se passaram e ele convidou seus colegas para jantarem em sua casa. O cientista não só chegou atrasado, mas também ferido e com suas roupas em farrapos. Depois de se vestir e comer, ele conta sobre a sua aventura pelo futuro.

            A história tem uma visão bem pessimista sobre o nosso futuro, em que o ser humano após milhares de anos, sofreria uma decadência em sua inteligência e aparência. Aqui, a humanidade se dividiu em duas espécies: os Eloi e os Morlocks. Os Eloi são o povo da superfície, e possuem o tamanho e a mentalidade de uma criança. O protagonista acredita que eles evoluíram para esse tipo devido as poucas dificuldades que passaram durante a vida, pois as dificuldades fazem o homem mais forte e o desafia a usar sua inteligência para solucionar problemas. Engraçado como os Eloi podem ser comparados a minha geração e a que veio depois de mim. Duas gerações que os pais mimaram e cuja tecnologia facilita a vida ao ponto de não terem que ralar tanto quanto seus pais e avós tiveram para dar a moleza que temos agora. Em compensação, assim como os Eloi, por viverem em seu mundinho, não estão acostumados com as coisas de fora, se assustando quando a realidade bate na sua porta e que ela não se resume ao seu grupinho de internet. Outra semelhança é o fato dos Eloi não possuírem diferenças aparentes entre o feminino e o masculino, algo que a cultura de hoje quer emplacar deixando as mulheres mais masculinas e os homens mais femininos, negando a natureza de seu sexo biológico.

            Quanto aos Morlocks, eles são o povo que vive no subsolo cuja visão evoluiu para enxergar no escuro. Sua aparência é mais animalesca e ao contrário dos Eloi que são vegetarianos, os Morlocks são carnívoros e caçam durante a noite. Possuem inteligência de um predador e não tem nenhum interesse em se comunicar com o viajante do tempo como tiveram os Eloi. O protagonista teoriza que os Eloi e os Morlocks haviam sido a os ricos e os trabalhadores mais humildes respectivamente, antes de evoluírem. Isso claramente foi uma crítica da diferença econômica entre as duas classes sociais e como pode acarretar problemas no futuro. Em minha opinião, foi um tanto exagerada, mas como é uma ficção, relevei um pouco.

            Apesar dos exageros, o livro traz boas discussões que podem ser relacionadas com situações atuais e não me surpreende que ele tenha iniciado um novo subgênero na literatura. Por isso, acredito que seja uma leitura essencial para os fãs de ficção cientifica, especialmente os que gostam de viagem no tempo. É um clássico por um bom motivo. Só cuidado com a noite. Não vai querer encontrar nenhum Morlock pelo caminho.

 

 


segunda-feira, 23 de setembro de 2024

O Esquilo Enjoado

    

                 Oi gente! Eu e minha irmã Maya Flor lançamos um livro. Se tiverem interesse, entrem em contato pelo e-mail editoraponteparaoimaginario@gmail.com, no Instagram @ponte_para_o_imaginario ou no WhatsApp 21 97118-6299.


Nozias é um esquilo que não come nada além de nozes.

Quando lhe oferecem outro alimento, ele faz cara feia.

Será que um dia, Nozias vai provar algo novo?


 

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Ficção Histórica Infanto-Juvenil


            Depois de dois romances baseados na religião cristã, vamos agora para um livro de ficção histórica. O Príncipe e o Mendigo foi escrito em 1881 por Mark Twain, também autor de dois clássicos da literatura americana: As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn. O Príncipe e o Mendigo teve várias adaptações televisivas. As versões que tive contato na minha infância foram a animação feita pela Disney de mesmo nome em 1990 e o desenho da Barbie de 2004, chamado A Princesa e a Plebeia.

            Na Inglaterra do século XVI, nasceram dois meninos idênticos na aparência, mas bastante diferentes em status sociais: Tom Canty, que veio de uma família pobre e Edward Tudor, o Príncipe de Gales. Tom sonhava em ser um príncipe até que por sorte do destino, ele encontrou Edward. Após conversarem, o príncipe se interessou pelas brincadeiras da classe baixa e, aproveitando a similaridade de seus corpos, tem a ideia de trocarem de lugar.

            Acredito que o clichê de uma pessoa rica trocar de lugar com uma pessoa pobre e ambas vivenciarem a vida uma da outra tenha começado com esse livro. O mendigo vê o quanto o príncipe tem de obrigações para manter ordem no país e o príncipe vê as dificuldades que seu povo passa, como bandidos, leis e punições rígidas. Edward nunca presenciara isso tão de perto, pois vivia trancado em palácios com a nobreza, sem ter a liberdade de ir para qualquer lugar. Mas o livro não ignora o fato de que entre as duas, a vida de príncipe era muito melhor, com Tom tendo não só se acostumado como também gostado de ser rei, enquanto Edward desejava mais que tudo voltar para a sua antiga rotina, mesmo tendo encontrado um bom amigo no soldado exilado Miles Hendon durante sua jornada.  

            Como dito no primeiro parágrafo, O Príncipe e o Mendigo se trata de uma ficção histórica, ou seja, uma história que retrata eventos e figuras históricas através de histórias fictícias, misturando a realidade com a imaginação. Personagens como príncipe Edward e sua família realmente existiram. Antes de morrer em seus quinze anos, Edward colocou sua prima como sucessora, mas sua irmã Mary tomou o trono e ficou conhecida como Bloody Mary, e perseguiu os protestantes por toda Inglaterra. Também é fato de o reino ter ficado bastante endividado após a morte do rei Henry VIII, conhecido por ter separado a Igreja da Inglaterra da autoridade do Papa e fundar a Igreja Anglicana. Ele também era conhecido como um rei cruel que perseguiu cristãos.

            É um bom livro. Recomendo sua leitura para crianças de dez a doze anos e para adultos que desejam conhecer uma ficção histórica com um enredo simples, mas com boas lições e cheio de tramas. E lembre-se: se encontrar alguém que seja muito parecido com você, pense bem antes de querer trocar de lugar com essa pessoa. Talvez sua vida seja melhor do que você pense.

 


 

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Romantasia Cristã

 


 

            Trago novamente mais um livro de fantasia criado por uma brasileira. Desejos em Guerra foi escrito por Sara Gusella em 2024. Será que é bom? Vamos descobrir:

As nações de Kahif e Sarahij estão em guerra. Zahira, uma jovem de Kahif, sonha em ser médica e tirar a família da pobreza. Mas não consegue a vaga por não ser de uma classe mais abastada. Enquanto Numan é um guerreiro de Sarahij que deseja resgatar a sua honra. O rapaz guarda consigo o segredo de sua origem. O caminho de ambos se colide quando decidem percorrer o deserto de Garib, que divide os dois países, em busca do lago Yarghab, que é capaz de conceder desejos. Para encontrá-lo, os dois terão que percorrer por uma zona perigosa e aturar um ao outro.

            Este livro foi descrito como uma romantasia cristã. O que é uma romantasia? É um termo que surgiu recentemente no meio literário para classificar uma fantasia com foco no romance. E realmente, o amor que surge entre os dois protagonistas durante a sua jornada é o tema principal desse universo fantástico. Agora a parte cristã, a autora se inspirou em algumas histórias da Bíblia. Mas não sei ao certo se isso se classificaria como um romance cristão, já que nenhuma das figuras bíblicas foi mencionada pelo nome, ou pelo menos, nenhuma que eu tenha conhecimento. Além da Bíblia, Desejos em Guerra também se inspirou na mitologia árabe, com a aparição de um djin num capítulo, sendo este um espírito que vaga pelo deserto e pode ser visto pela luz da lua.

            A história não é algo novo. É o típico “inimigos que se tornam amantes”, mas é um clichê que eu gosto. Sendo que esta inimizade vem principalmente de Zahira, que é mais emotiva e se zanga com mais facilidade enquanto Numan é mais calmo, mostrando que além de estarem em lados opostos na guerra, suas personalidades se contrastam. É mencionado que esses dois foram inspirados em Katara e Zuko, personagens do desenho Avatar: A Lenda de Aang. Não assisti ao desenho, porém, sei que na animação, tinham pessoas capazes de dominar os elementos e que a água tinha um poder curativo. E aqui, alguns kahifesenses como Zahira são capazes de controlar tecidos e os usam para curar feridas. Enquanto sarahijanos têm uma visão de longo alcance.

            O livro tem uma história bonitinha, mas muito curta, contendo apenas dezessete capítulos, fazendo com que a jornada de Zahira e Numan terminasse de forma rápida. Acho que o texto poderia ser aumentado, dando mais desafios aos protagonistas antes de chegarem ao seu destino final. Recomendo sua leitura para aqueles que gostam de uma romantasia leve. Só tomem cuidado ao atravessarem o deserto.  

 


sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Empresa Infernal

 


                Faz um tempo que não trago um livro de temática cristã. Acredito que o último tenha sido As Crônicas de Nárnia em 2021. Mas voltei, e ainda por cima, com um romance nacional. Inferno LTDA foi escrito por Déborah S. Carvalho em 2023. Será que é bom? Vamos descobrir:

            Após um planeta de plástico cair em sua cabeça, Leo morre e sua alma é recebida por um demônio chamado Eddie. Devido a uma aposta, Eddie planeja levar o garoto para se tornar um juiz dessa grande corporação que é o Inferno. Como Leo vai lidar com seu novo cargo?

            A construção do Inferno desse livro é bem criativa. Não só pelo fato do Inferno ser uma grande corporação, mas também pela menção de várias outras mitologias. Seres como Caronte, o barqueiro dos mortos da mitologia grega, Izanami, a deusa japonesa dos mortos e os yokai, monstros também da mitologia japonesa são todos demônios, com pequenas aparições no livro. Os locais de tortura como Yomi no Kuni, Tuat e Niflheim, pertencem às mitologias japonesa, egípcia e nórdica respectivamente. O texto possui referências à cultura pop atual. Minha opinião em relação a isso é dividida. Por mais que eu reconheça a maior parte delas, como por exemplo Pokémon e Harry Potter, deve-se tomar um certo cuidado para o livro não ficar datado.

            Quanto aos personagens, os que possuem maior foco são Leo, um adolescente violento que teve vários problemas na vida, e Eddie, um demônio duas caras que faz de tudo para se entreter. A relação entre os dois é interessante. Algo como um mentor maligno tentando corromper o seu aprendiz. Eddie me lembra o Loki da Marvel, que faz várias tramoias e sempre acaba traindo alguém.

Ao contrário do que é feito em muitas obras atuais, que tenta humanizá-los, nenhum dos demônios desse livro possui bondade. Todas as suas ações são movidas por interesses próprios. Nenhum deles deseja a redenção ou se arrepende de seus erros. Isso condiz bastante com a Bíblia, enquanto Deus e seus anjos são vistos como seres de pura bondade. O julgamento das almas mandadas para o Inferno me fez pensar. Enquanto umas eram realmente más, outras eram boas, mas por não acreditarem no sacrifício de Cristo, foram mandadas para lá. Esse livro põe em discussão a idolatria do homem, que vê a si mesmo como Deus. Concordo que ver a si mesmo como o centro do mundo não é algo bom, porém, não entendo essa obrigatoriedade de louvar Deus para ir aos céus. Ser bom e amar o próximo já não é o bastante? Por que essa necessidade de lembrar dele e agradecer todas as nossas conquistas a ele? Nada que a gente produz é por nossa conta e esforço? Por que comparado aos anjos e demônios, somos fracos e sem nenhum poder divino, correndo sempre o risco de sermos manipulados por demônios nessa guerra entre céu e inferno? Por que só existe céu e inferno como opções de pós-morte? Por que não podemos criar uma terceira alternativa? Existe purgatório para aqueles que se arrependeram depois da morte? Neste livro não tem, mas e na Bíblia, tem? Se alguém souber me responder, ficarei grata.

Apesar de me fazer ter essas perguntas desconfortáveis, Inferno LTDA é divertido. Cristãos e até mesmo não cristãos podem gostar de sua criatividade. Li este livro pelo Kindle Unlimited da Amazon, mas até este momento, ele não se encontra mais em seu catálogo. A autora possui um site*do romance e o Instagram @debescreve para qualquer dúvida. Por isso, tentem encontrá-lo. Só tome cuidado para nenhum planeta cair na sua cabeça.

 

 

 

*Site do livro: Home - Inferno LTDA


sexta-feira, 12 de julho de 2024

Pato

 


 

            Trouxe outro livro infantil que me chamou a atenção pelo seu formato. Pato foi escrito por Jô Bibas e ilustrado por Denise Teixeira. A história é simples: um pato nasceu em um galinheiro. Não sabendo que ele era pato, ele achava seus pés esquisitos. No fim, ele acaba descobrindo a utilidade deles, mostrando que cada um tem uma função nesse mundo. Uma bela lição para uma criança aprender.



            O livro se abre todo no final, formando a bela imagem acima. Esse formato chama a atenção tanto de uma criança quanto de um adulto, que como eu, se surpreende a cada vez que encontra uma joia dessa. Espero encontrar outros livros como esse e como o Esta Noite, Sonhei que era Dragão. Quem sabe futuramente, eu não faça algo nesse estilo? Por falar em futuro, o final tem uma pista para a continuação. O que será que vai acontecer?

 




sexta-feira, 28 de junho de 2024

Pentameron

 


               Antigamente, os contos de fadas eram contados de forma oral e, nesse grande telefone sem fio, surgem variações de uma mesma história. O Conto dos Contos – Pentameron, escrito por Giambattista Basile, contém algumas dessas variações e muito mais. A obra foi publicada postumamente entre 1634 e 1636 em napolitano, que hoje é considerada uma variante da língua italiana, e é considerada a primeira coletânea de contos de fadas do ocidente. Mas será que ela é boa? Vamos descobrir:  

            Zoza era uma princesa que não ria por nada nesse mundo, até que o fez quando uma velha entrou em uma discussão calorosa com um rapaz. Zangada, a velha amaldiçoou a moça, dizendo que ia se apaixonar por Tadeo, um príncipe que foi amaldiçoado a dormir até que uma mulher derrame uma ânfora com suas lágrimas e o desperte. Desesperada, Zoza pediu ajuda às fadas, que lhe deram uma noz, uma castanha e uma avelã e ela só poderia abri-las em momentos de necessidade. De tanto chorar para despertar o príncipe, acabou por adormecer. Uma escrava se aproveitou dessa situação, roubou a ânfora e se casou com o príncipe. Com essa terrível situação, Zoza abriu a noz e a castanha e, de cada uma delas, saiu algo que a escrava desejava. A malvada mandou o marido dar para ela, ameaçando matar o filho que estava carregando no ventre. Depois que Zoza lhes entrega de presente para Tadeo, a princesa abre a avelã, e dela sai uma boneca. Sabendo que a escrava ia desejá-la, ela fala para a boneca incutir na usurpadora o desejo de ouvir histórias. Quando Zoza entrega a boneca para Tadeo, o brinquedo faz exatamente o que foi mandado, e o príncipe escolhe dez mulheres para este serviço vendo se assim saciará o desejo da esposa.

            Primeiramente, devo dizer que não recomendo este livro para crianças. Apesar de contos de fadas serem associados ao público infantil, O Conto dos Contos contém muito xingamento escroto, cenas de sexo, humor escatológico, punições terríveis e trechos que hoje seriam considerados racistas. Quando os contos de fadas foram criados, não existia essa noção de infância. A criança era apenas um pequeno adulto em aprendizagem, por isso, estas histórias eram para todas as idades, mesmo tendo este tipo de conteúdo. Além disso, o romance tem muitas notas de página assim como referências antigas e pouco conhecidas que já deixam alguns adultos irritados em ter que lê-las para entender o contexto, imagina com uma criança.

            Analisando os contos de uma forma geral, têm muitos com temáticas parecidas. Como a do homem tolo que se dá bem no final em O conto do ogro, Peruonto, Vardiello, apesar deste último ter sua burrice apenas mencionada; mulheres que usam sua inteligência para resolver seus problemas como em Violeta, O Serpente e Rosella. Apesar de todas as histórias acabarem com uma lição, não pude deixar de notar algo: enquanto a maioria dos antagonistas têm o fim que merecem, há contos em que os reis, mesmo tendo feito algo nefasto, são perdoados no final como em O Dragão, Peruonto, A Sábia e Sol, Lua e Talia. No primeiro e no último especificamente, só a rainha má é punida enquanto o seu marido (que matou várias de suas amantes e aprisionou a mãe do protagonista em O Dragão e traiu a esposa e estuprou uma mulher em Sol, Lua e Talia) não sofreu nenhuma consequência. Há também alguns contos em que os protagonistas não merecem o seu prêmio no final, mas estes são poucos e sua maioria tem boas lições.

            Quanto aos personagens (da história principal), são típicos de contos de fadas. Zoza é a heroína que utiliza das coisas boas que foram dadas pelos seus ajudantes mágicos para conseguir de volta o seu príncipe. Tadeo é o servo da sua esposa, como o pai de Cinderela no conto dos irmãos Grimm, e faz tudo o que ela quer senão ela mata o filho que está na barriga. E a escrava Lucia, que ao contrário de como é retratado um escravo nos dias de hoje, como alguém bom que é maltratado, ela é ruim e invejosa, mostrando que existem pessoas tanto boas quanto más, independente do seu status social. Spoiler, pula para o próximo parágrafo se não quiser saber: a escrava tem o final que merece. Pena que o filho de seu ventre teve que pagar com ela.   

            Comentei no primeiro parágrafo sobre as diferentes variações dos contos de fadas e que este livro possui algumas delas. Pois bem, A Gata Borralheira; Sol, Lua e Talia; Petrosinela e Nennilo e Nennela, que são versões italianas dos contos da Cinderela, A Bela Adormecida, Rapunzel e João e Maria. Além dessas, há histórias como Cagliuso, que tem semelhanças com O Gato de Botas; A Ursa lembra Pele de Asno; O Cadeado e O Tronco de Ouro têm elementos que lembram a história de Cupido e Psiquê. O formato de ter uma história principal que contém outras pequenas é similar ao Mil e Uma Noites.

            Há uma adaptação cinematográfica da obra de 2015, cujo título é o mesmo do livro, tirando o Pentameron. Este filme apresenta a releitura dos contos A Pulga, A Gazela Encantada e A Velha Esfolada. E, por incrível que pareça, esta versão é mais sangrenta que a do livro. Todos estes contos tiveram um “felizes para sempre” para a maioria dos personagens, com exceção de uma das velhas de A Velha Esfolada, no romance enquanto no filme, termina com tragédias agridoces. Outras diferenças é o destaque de certos personagens, como por exemplo o da rainha de A Gazela Encantada, que só aparece como uma pequena antagonista no início do conto, mas no filme é a protagonista e vilã principal.

O Conto dos Contos me entreteve como fã de contos de fadas. Por isso, recomendo sua leitura àqueles que também gostam desta temática. Só cuidado para não rirem de nenhuma senhorinha na rua. Suas maldições podem ser bem potentes.       

 


quinta-feira, 13 de junho de 2024

Esta Noite, Sonhei que era Dragão

 



            Raramente pego livros infantis para ler, pois sou uma adulta e não tenho uma criança. Mas depois que comecei a editar meus próprios livros, às vezes me pego olhando para um deles seja pelo formato ou ilustração. Este me pegou pelos dois. Esta Noite, Sonhei que era Dragão foi escrito e ilustrado pelo argentino Gastón Hauviller, lançado originalmente em 2023 e em 2024 aqui no Brasil.



        O livro tem o formato sanfona, o que já chama a atenção. E o texto, apesar de simples, se comunica com a belíssima ilustração. O narrador conta que esta noite, ele sonhou que era dragão, com olhos de dragão, nariz de dragão etc. Mas a imagem ilustra não os olhos de um dragão, mas sim de um gato. Na parte do nariz, aparece um cachorro e assim por diante, compondo um dragão no final.

Pode não ter sido a intenção do autor, mas isto me lembrou uma aula sobre ficção. Ficção é como um centauro. Centauros existem? Não. Mas o cavalo e o homem existem. Ficção nada mais é do que usar objetos e seres existentes para criar algo inexistente.

Gostei do livro e recomendo a leitura. Apesar de ser preto e branco na frente, sua parte de trás é colorida. Acredito que as crianças irão gostar. E adultos também. Pelo menos, aqueles que têm coração de criança e a imaginação de um dragão.



terça-feira, 4 de junho de 2024

Ajudante para o Cupido

 


O Dia dos Namorados é uma data comemorada por jovens e adultos. Mas não significa que a criança não pode curtir com um novo livro desta temática. 

                        O Cupido decidiu fazer uma competição para saber qual das aves seria o seu ajudante. Quem será que ganhou?

    Você pode encontrar este livro na Banca Sorriso, que fica na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, próxima ao supermercado Ultra. Boa leitura!

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Matinta Pereira

 


Roteiro: Mariana Torres
Desenho: Maya Flor


Há muito tempo, um homem ajudou um carbúnculo a escapar da caverna da Cuca e, como recompensa, o carbúnculo prometeu lhe dar pedras preciosas todos os dias até que ele comprasse uma mansão. Tendo cumprido sua promessa, o carbúnculo deixa a pedra de sua testa antes de partir. Com esta pedra, o homem faz um colar e dá de presente para sua filha Ágata. Até que no aniversário da moça, a Cuca aparece e, não encontrando o carbúnculo, decide levar Ágata em seu lugar. O que a jovem fará para escapar das garras da Cuca? 

    Se deseja uma cópia desse livro, entre em contato pelo e-mail editorapontparaoimaginario@gmail.com 


domingo, 12 de maio de 2024

A Arma mais Poderosa da Ásia

 

                                                             Roteiro: Mariana Torres

                                                             Desenho: Maya Flor

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Steampunk Mágico

 


            E lá vou eu novamente, trazendo mais um livro nacional do Kindle. Vera Cruz: Sonhos e Pesadelos foi escrito por Gabriel Billy em 2019 e, por se tratar de um universo mágico baseado no folclore brasileiro, logo me atraiu. Será que valeu a pena? Vamos descobrir:

            No mundo de Vera Cruz, existem duas nações que não se dão bem: Lisarb, um país de alta tecnologia comandado pelos militares e Ouro Preto, reino formado por escravos fugidos onde a magia predomina. Os feiticeiros de Ouro Preto sentiram uma estranha energia emanando por Vera Cruz. Para descobrir o que está acontecendo, é preciso que eles vão para Ivi Marã Ei e pegar a Borduna de Jurupari, uma poderosa arma do deus dos pesadelos. Mas para isso, precisarão da ajuda de Pedro Malazarte, um famoso ladrão que possui o mapa e é procurado por ambas as nações. Será que se pode confiar nele?

            Começando pelos pontos positivos da obra, o autor pesquisou bastante não só sobre o folclore e cultura brasileiro, como Pedro Malazarte, matinta pereira, gorjala etc; mas também figuras históricas como a princesa Isabel, os inventores Júlio César Ribeiro, João Francisco de Azevedo, Roberto Landell de Moura, Bartolomeu de Gusmão; e acontecimentos históricos. No final do livro, aparece mais detalhes dessas referências. As ilustrações são bonitas, lembrando os desenhos que têm em livros de jogos de RPG, cujo autor é fã.

            O problema da obra foi sua execução.  O livro contém apenas oito capítulos, o que é pouco para desenvolver a enorme quantidade de personagens, deixando o relacionamento entre eles como o enredo, rasos. Isso me decepcionou, pois a ideia de um mundo steampunk com magia baseados na cultura brasileira me atraiu bastante. Foi mencionado no posfácio que o autor deseja fazer uma continuação, e o final deixa margens para isso. Mas se eu fosse ele, reescreveria Vera Cruz, aumentando o número de capítulos, desenvolvendo melhor os personagens e a história desse mundo. Também descartaria o epílogo. Como você pode tentar introduzir um novo universo sem ter apresentado direito o primeiro?

            Vera Cruz: Sonhos e Pesadelos tinha um grande potencial, mas infelizmente o dirigível não foi para frente e acabou espatifado no chão. Espero que um dia, ele seja reconstruído e consiga alçar os ares.

 


sexta-feira, 12 de abril de 2024

A Dama da Floresta

 


            Aqui estou eu, trazendo mais uma fantasia do Kindle. A Dama da Floresta foi escrito por Laura Hirayama em 2022.

            Ziyah é uma princesa que está prestes a se casar com o rei de Rothmir. Mas Rothmir é um reino cruel, cujos aliados terminam tão destruídos quanto seus inimigos. Ahri, cavaleira e amante de Ziyah fará qualquer coisa para protegê-la, mesmo que tenha que tenha que pedir aos cruéis deuses da floresta.

            A história é pequena, contendo somente três capítulos e, como dito, foca no amor entre duas mulheres e como uma fará um enorme sacrifício para que a outra tenha uma vida feliz. Apenas quatro personagens são relevantes para trama: Ahri, a protagonista determinada; Ziyah, o amor de Ahri, que mesmo não querendo, aceita ser o sacrifício do reino; Mehmal, uma mulher conhecedora dos antigos deuses, que aparece apenas para expor informações sobre eles; e por último, a mulher do título, a Dama da Floresta Katriel, uma deusa caótica, que se diverte com o sofrimento humano.

A parte mais interessante do livro foi o acordo feito entre a Dama da Floresta e Ahri, que faz a gente pensar sobre nossa existência e legado. Esse final seria digno de uma continuação.

É um livro ok, que poderia ser um pouco maior, desenvolver um pouco mais os personagens e o mundo que eles vivem. Se quiserem lê-lo, até este momento, ele está disponível no Kindle Unlimited. Só cuidado para não passar pela floresta e encontrar Katriel pelo caminho.

 

 


sexta-feira, 8 de março de 2024

A Origem da Gumiho

 


                Voltamos a mais um livro do Kindle, dessa vez com uma história baseada na cultura coreana. O Rio e a Raposa foi escrito por Ítalo Oliveira em 2023. Vamos para o resumo:

            Yeou foi abandonada quando bebê e encontrada pela Grande Mãe Anciã, que sentiu pena da criança e decidiu transformá-la em uma raposa, que viveria muitos anos felizes ao seu lado. Depois de cem anos, Yeou recebeu sua primeira cauda e a habilidade de se transformar em humana durante a noite. A deusa teve que partir para o mundo dos espíritos, mas prometeu encontrá-la novamente após Yeou ter nove caudas. Até lá, Yeou deve decidir se ficará no mundo dos homens ou partirá para viver com sua deusa.

            A história reimagina uma origem para a gumiho, ser da mitologia coreana, que é uma raposa de nove caudas com a capacidade de mudar a sua aparência para a de uma humana. Ela mata e suga a energia vital dos homens e possui uma esfera mágica que lhe dá poderes. A gumiho é normalmente vista como uma entidade maligna nas lendas, mas aqui, Yeou, a protagonista, se mostra uma personagem curiosa e de bom coração, que foi corrompida devido a uma traição.  

            O autor é descrito como alguém que gosta de doramas, o que explica seu conhecimento por alguns objetos coreanos. O livro possui até um glossário para ajudar o leitor.

            O livro é curto e de leitura rápida. O enredo é clichê, típico de um próprio dorama, com o príncipe Gong se apaixonando pela protagonista Yeou e a rival romântica Sung, que também é amiga de Yeou, que tenta separar o casal, o que gera um pouco de conflito, pois ela realmente tinha muito carinho por Yeou, mas se deixou levar pelo ciúme. Porém, ao contrário da maioria dos doramas, seu final é trágico. Também tinha uma trama de guerra que se resolveu tão rápido que não senti a necessidade de sua existência. Acredito que o autor poderia ter continuado a história após contar a origem da gumiho. Mas se você gosta desse tipo de história novelesca com fantasia, embarque nessa jornada. Só tome cuidado com os demônios da floresta.

           

           


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Cangaceiro vs Lobisomem

 


                Voltamos com mais uma leitura do Kindle de uma novela nacional envolvendo um lobisomem no sertão. O Capeta-Caolho contra a Besta-Fera foi escrito por Everaldo Rodrigues em 2018. A história foi vencedora do Prêmio ABERST de Literatura na categoria de melhor conto ou novela de terror e ficou em segundo lugar no Prêmio Geek.

            A cidade de Terezinha de Moxotó tem sofrido ataques de lobisomem. Com a polícia não acreditando na história e se recusando a mandar reforços, o coronel é prefeito Jesuíno de Cândida e seu povo não tiveram outra escolha a não ser pedir ajuda a Jeremias Fortunato Silveira, um cangaceiro conhecido como Capeta-Caolho, temido por todos.

            A novela tem uma proposta interessante, juntando um ser bastante conhecido do nosso folclore com o cangaceiro, figura bastante conhecida do Nordeste brasileiro. E ao contrário de muitas histórias que vemos por aí em que tentam justificar os crimes de bandidos através de seu passado triste, aqui não tem isso. O Capeta-Caolho teve uma infância trágica, mas em momento algum me simpatizei com o personagem, principalmente após as atrocidades que ele e seu bando cometeram. Isso faz o leitor pensar se o lobisomem é realmente o monstro da história.

             Porém, por ser uma história curta, acredito que o potencial não atingiu o máximo. A novela tenta enganar o leitor com relação a identidade do lobisomem, mas não dá certo. Os personagens são interessantes e cumprem bem suas funções, mas novamente, se o livro fosse maior, poderiam ter sido mais bem desenvolvidos.

            Por minhas expectativas serem altas, o livro me decepcionou um pouco. Mas deixando isso de lado, a história é mediana para boa. Se você gosta da temática de lobisomem no sertão, pode dar uma checada. Só cuidado para não encontrar a besta-fera pelo caminho. Ou pior, um bando de cangaceiros.

 


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Por que as mulheres gostam tanto de romances com seres fantásticos?


            Andei pensando nesse tema ultimamente e decidi escrever este texto. Mas não o usem como referência para nada. O que você verá aqui são apenas os meus pensamentos, que podem (ou não) estar errados e servem apenas para refletir sobre o assunto. A base de pesquisa é quase nula. Comecemos:

            Li uma coleção de livros, que até possui resenhas no meu blog, chamada Corte de Espinhos e Rosas, em que a heroína namora um feérico. Muitos também lembrarão de Crepúsculo, filme adaptado de um livro, em que a protagonista namora um vampiro. E até hoje, você encontra romances entre mulheres e feéricos, vampiros, lobisomens, elfos, deuses e assim por diante. Se tem tantos livros com essa temática é porque a demanda é grande e o público leitor desse tipo de obra é majoritariamente feminino. Mas por que mulheres gostam tanto de romance com seres fantásticos?

            Em histórias medievais, um cavaleiro salva sua princesa matando o dragão com sua espada. Mas, e se não existisse o cavaleiro e a princesa tivesse que lidar sozinha com o dragão? Mulheres são menos aptas a usar a força bruta por serem biologicamente mais fracas e isso reflete na maioria das histórias antigas. Então, como a princesa poderia resolver esse problema? Domando o dragão. Como, se ela não tem força? E quem disse que precisa de força física para domar um monstro?

            Um exemplo de uma garota domando um monstro sem precisar de força física é apresentado no filme Lilo & Stitch. Lilo, uma menina de seis anos conseguiu domar um alien destrutivo. Como? Primeiro ela tenta treiná-lo espirrando água nele para que ele obedecesse a seus comandos, e não funciona.



Depois, ela pacientemente tenta educá-lo, ensinando-o a dançar, tocar violão etc. O alienígena, que só estava fingindo ser um cachorro para evitar ser capturado pelas Forças Galáticas, acaba gostando da cultura local e das pessoas ao seu redor. Ele não conhecia nada que não fosse a destruição e ela mostrou que há muitas coisas para se gostar. Lilo não é uma guerreira forte. Seu nível de força não se equipara ao de Stitch. Ainda assim, ela consegue “domá-lo” sendo gentil e amável.



            Outro exemplo que nossa querida Disney trouxe foi sua adaptação de A Bela e a Fera que, ainda por cima, se encaixa nessa categoria da mulher que se apaixona por um monstro. Bela era uma camponesa gentil, que tinha gosto pela leitura e desejava vivenciar as histórias que lia. Ela troca de lugar com o pai que foi aprisionado pela Fera.  Já a Fera é um príncipe mimado e ranzinza que foi amaldiçoado por uma feiticeira a ter essa forma de monstro até encontrar uma mulher que o ame com essa aparência. O início do relacionamento dos dois não foi dos melhores, tanto que Bela tenta escapar do castelo. Para seu azar, Bela foi encurralada por lobos e teria morrido se a Fera não a tivesse salvo. Por um momento, ela pensa em ir embora, deixando a Fera ferida na neve. Mas acaba voltando ao palácio e trata de seus ferimentos. A partir deste momento, a relação dos dois começa a melhorar. A Fera foi mudando seu comportamento e se tornando mais cavalheiro para agradá-la. Mas isso não era uma estratégia dele e de seus servos para acabar com a maldição? Sim, porém, ele não faria tanto esforço para mudar se ela não tivesse sido doce e gentil.


        Agora que já mostrei os exemplos, retornemos à pergunta: por que as mulheres gostam tanto de romance com seres fantásticos? Primeiro, porque grande parte delas, inclusive eu, gostam de histórias românticas. Segundo, porque juntar o cavaleiro e o dragão em uma só pessoa tornaria a narrativa bem mais interessante, dando inúmeras possibilidades. Terceiro, porque mulheres gostam quando sua feminilidade é vista como algo positivo a ponto de ajudar um homem a se tornar uma pessoa melhor e, se a heroína for humana e seu interesse romântico for um ser mágico, fica ainda mais especial. E quando falo em feminilidade, não me refiro apenas da aparência física, e sim da gentileza, da calma, da paciência, da delicadeza, aspectos femininos que sinto que estão sendo cada vez mais desvalorizados em suas personagens, trocando-os por qualidades mais masculinas. Vi isso em Corte de Espinhos e Rosas em que ao contrário de suas irmãs, a protagonista era uma caçadora durona que sustentava a casa, enquanto as outras e o pai não faziam nada. Não tem problema existir personagens com qualidades masculinas, mas não precisa apagar as femininas para isso.

Sinto falta de personagens mais femininas nesse tipo de obra. Mulheres que não comecem como guerreiras ou caçadoras. Podem até possuir um poder mágico, mas que usem mais para ajudar os outros do que para matar. E vocês? Concordam comigo? Se tiverem alguma recomendação, comentem!

           

 

 

Observação: Todos os gifs foram tirados da internet.